Confinados

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"Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro."
Sigmund Freud

Os dias estão passando rápido com o Ohm na casa, já é o último dia e estamos nos preparando para partir. Foi uma boa experiência, provavelmente aceitaria se tivesse que fazer novamente, estaria mais preparado para tudo. A chegada do Ohm fez toda a diferença, com o humor que eu estava no terceiro dia, não quero imaginar como eu estaria agora se ele não estivesse aqui.

Depois do primeiro dia, nos entramos em sintonia, então a convivência estava mais como nós mesmo. Após a vergonha que ele me fez passar falando sobre as luzes verdes e vermelhas eu evitei ficar com ele perto das câmeras, controlei melhor todo o ciúmes, mais uma vez eu lembrei que tudo que eu faço aqui estava sendo transmitido e com certeza cada interação nossa seria vista com hiper foco, então acabei deixando passar muita coisa, as vezes era demais até para o meu autocontrole, mas eu sabia que não ia simplesmente mudar de uma hora para outra. Percebi que muitas vezes o que ele fazia é apenas reação há algo que eu fazia, aquela velha mania de querer guardar e não resolver os problemas, então notei por exemplo quando alguém me abraçava, não demorava muito ele estava dando abertura para alguém brincar com ele também, era a maneira dele reagir ao ciúmes, então tentei evitar essas situações. Também evitei ficar muito perto do JJ, no dia em que o Ohm chegou ele falou duas vezes abertamente sobre ele ser o meu namorado, inclusive durante uma live, tenho impressão de que ele estava pronto para jogar o nosso beijo na nossa cara a qualquer deslize nosso.
Nos encontramos na escada algumas vezes, outras vezes entramos no quarto privado e fomos ao banheiro, mas tudo sempre muito rápido e silencioso, isso está ajudando no controle...mais ou menos. Estava mesmo na hora de sairmos daqui, não demoraria e um de nós perderia a cabeça.

Os dias na casa foram quase rotineiros, levantar, comer, brincar, comer, cantar, brincar, comer... Poucas coisas foram se destacando de um dia para o outro.

O quinto dia na casa foi bem mais tranquilo, o Ohm estava mais calmo, ainda aprontando as dele, isso era inevitável, faz parte da sua personalidade, mas muito mais calmo do que o dia anterior, então a casa ficou mais sossegada, mesmo assim dava para perceber como a presença dele afetou não só a mim, mas a todos em comparação aos primeiros dias, impressionante como tudo ficou caótico de uma hora para a outra quando ele chegou.
Era sexta, então assistimos o episódio novo de Bad Buddy, ficou muito bom, agora sim eu tenho certeza que a série vai crescer em audiência, P'Aof fez um trabalho incrível. Eu estava preocupado de assistir esse episódio em uma transmissão ao vivo porque eu sabia que ia chorar, a cena final foi gravada quando eu estava naquela fase carente, cheio de incertezas sobre nós, então eu usei todos os sentimentos que estavam me atormentando na época, a paixão, as duvidas, o medo e aquela certeza de que eu não merecia ser amado... Eu sabia que quando visse a cena isso tudo viria a tona novamente e me preocupava com a reação do Ohm. Como eu imaginei depois que acabou ele veio até mim, pegou no meu rosto e limpou as minhas lágrimas, eu vi no olhar dele o que ele queria fazer e falei um não mudo para ele, então ele pediu desculpas por me fazer chorar e ficou tentando me animar.

Ontem acho que foi o dia mais complicado, primeiro porque uma maldita brincadeira me fez perder a cabeça. Estavam todos fazendo brincadeiras sobre olhares apaixonados e sedução, então o AJ saiu da porra do lugar dele e foi mexer com o Ohm na minha frente, eu juro que estava quase realizando o desejo de roupas couro e chicotes do Ohm, só que sem as roupas de couro, de tanta raiva que fiquei.
Mais tarde começamos a conversar sobre técnicas de atuação e começaram a fazer várias perguntas sobre o meu método, quando eu comecei a ficar incomodado o Ohm assumiu o controle e começou ele mesmo a explicar e responder as perguntas, eu fiquei prestando a atenção e estava muito orgulhoso, ele estava praticamente dando uma aula para os outros.
Essa noite quando fomos dormir ele se aproximou e me abraçou, eu não disse nada, já não estava aguentando a distância também.

Hoje o dia começou e terminou com um não conseguindo ficar longe do outro, eram toques e abraços para todos os lados, tenho certeza que se a produção não tinha percebido antes sobre a escada, hoje percebeu, de tanto que subimos e descemos ela, mas como era o último dia mesmo, não tem nada que eles possam fazer. A noite quando participamos da live percebi que o Ohm estava com aquela cara típica de quando está com ciúmes e tenta disfarçar, como não queria estragar o nosso último dia, me afastei do Tay e encostei nele, coloquei a minha mão na sua perna, depois segurei a sua mão. Tive um grande déjà vu de quando fiz a mesma coisa por causa da Love, poderia até achar irônico se essas coisas acontecessem  em off, mas na frente das câmeras eu tenho vontade de matar ele. Então eu me lembro de como reagi ontem e percebo que não tenho moral nenhuma para criticar.

Para encerramento tivemos que vestir fantasias, eu me vesti de homem das cavernas e ele de elefante, nos trocamos juntos, eu estava ajudando ele a fechar a fantasia e comento:
- Você ficou fofo assim.
Ele me olhou de cima a baixo, com aquele sorriso safado que sempre me faz perder a cabeca e respondeu:
- Você pode me montar se quiser.
Tô começando a achar que ele tem fetiche com fantasias. Dou um tapa nele e saio. Claro que mais tarde não deixo passar e monto nele e faço ele andar pelo jardim, não ia deixar ele ganhar essa.
Depois disso tudo acontece muito rápido, discursos, despedidas, encerramento e acabou.

O Ohm veio para casa no carro dele, então vamos embora juntos.
- Você quer ir para a casa dos seus pais?
- Depois de todos esses dias mal conseguindo chegar perto de você mesmo dormindo ao seu lado, o que você acha?
- Vamos para casa então.

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