Silêncio

Zeloso

"Você não pode permitir que suas emoções magoem os outros sem motivo."
Mulher Forte, Do Bong Soon

- Non, acorda, está na hora do seu remédio. Non!
Eu acordo e olho para ele.
- Que horas são?
- São quase três, você precisa comer alguma coisa e tomar o remédio. Temos que nos arrumar para ir trabalhar.
Eu ainda estou meio grogue, tenho tomado remédio e dormido desde ontem quando eu cheguei, assim que a anestesia passou o meu dedo começou a doer, então eu mal cheguei e dormi.

Levanto, escovo os dentes e vou para a cozinha, onde ele está.
- Sopa?
- Você não come nada desde ontem, o Mark falou que vocês só almoçaram. Está tomando remédios muito fortes, é melhor começar com calma, senão seu estômago não vai aguentar, mais tarde se você ainda estiver com fome eu preparo algo para você.
Eu sento e como, ele fica me olhando. Quando eu termino, ele chega com um kit de primeiros socorros e troca o meu curativo.
- Você sabe que não precisa fazer isso né?
- Eu quero fazer, eu gosto de cuidar de você.
Ele levanta e me beija.
- Vamos, eu vou ajudar você a tomar banho para não molhar o curativo.

Quando estamos prontos para sair, ele pega os analgésicos e coloca dois na carteira e se aproxima para me beijar. Ele está tomando tanto cuidado quando encosta em mim desde ontem, parece que eu vou quebrar. Eu me aproximo mais e o beijo pra valer, mas ele se afasta rápido demais.
- Nós temos que ir.
Eu suspiro, ele paga a minha mão e saímos.
- Onde você está indo?
- Esqueci de te avisar, sua mãe vai com a gente, estamos indo buscar ela.
- Você ligou para ela?
- Liguei para contar que você estava lá em casa.
- O que você disse?
- A verdade. Você se cortou e foi parar no hospital, o Mark estava nervoso, não tinha pra quem ligar e me chamou, então eu fui te buscar, no caminho você estava sonolento por causa dos remédios, então eu achei melhor ficar no meu apartamento, porque não tinha ninguém na sua casa.
- Então essa é a verdade?
- É a verdade que ela precisa saber.
Eu dou risada, ele é muito cara de pau as vezes.

Quando entramos na casa a minha mãe já está esperando e vem direto na minha direção. Ela pega a minha mão e olha.
- Não se preocupe, não é nada sério.
- Como isso aconteceu?
- Foi um acidente, a corda do violão arrebentou.
Ela olha para o Ohm.
- O que o médico disse?
- Só para ter cuidado por causa dos pontos e tomar os remédios.
- Obrigada por cuidar dele.
- Se você não se importar eu queria que ele ficasse comigo nos próximos dias, temos mais uma live amanhã, provavelmente vão surgir outras coisas em cima da hora e ele vai para a safe house em alguns dias, é melhor ficar de olho para ele fazer o tratamento direito. Eu consigo ficar com ele o tempo todo e se precisar eu consigo levar ele ao médico.
- Por mim tudo bem, só vai me mantendo atualizada.
- Vocês tem que parar com essa história de decidir as coisas por mim, quem disse que eu quero ficar no seu apartamento? Eu posso muito bem ficar aqui e chamar o Mark pra ficar comigo.
Na hora que eu digo isso eu já me arrependo, o Ohm ficou visivelmente irritado.
- Bom, me desculpe se a minha preocupação te incomoda. - ele olha para a minha mãe - é melhor a gente ir, senão vamos nos atrasar.
- Só um minuto que vou pegar a minha bolsa.
- Ohm...
- Está tudo bem.
Ele vira as costas e sai, me deixando parado sozinho no meio da sala, eu e a minha boca grande. Antes que eu consiga ir atrás dele a minha mãe aparece.
- Onde ele está?
- Ele foi ligar o carro.
- Filho se você quiser ficar aqui em casa eu fico com você, o Mark é um anjo, mas ele é imaturo, então se você não quiser ficar no apartamento dele, eu fico com você.
- Não, está tudo bem, eu só estava brincando. Ele é melhor em controlar horários e ele está certo, eu tenho que estar bem até a safe house.
- Tudo bem, mas acho bom você pedir desculpas então, não foi legal o que você disse, ele só está preocupado, ele é assim desde que vocês se conheceram.
- Eu sei, eu vou falar com ele.

Quando chegamos, ele sai do carro e eu vou atrás dele.
- Ohm...
- Está tudo bem, sei que você não estava falando sério.
Ele olha para a minha mãe e eu entendo que ele não quer conversar na frente dela.

Eu estava preocupado com a live, mas ele foi super tranquilo, ele realmente só precisa de tempo e espaço para ficar bem, mas eu não. Passei a live inteira com as mãos no bolso tentando me controlar para não segurar a mão dele, eu só queria pegar ela por um minuto para ter certeza de que ele está realmente bem.

A live era para divulgar a série e a novel, quanto mais fazemos essas coisas, mais a vontade ficamos um com o outro na frente das câmeras.
Quando a transmissão acaba ele pega a minha mão levanta para olhar o curativo.
- Está tudo bem? Você não dobrou para escrever?
- Eu estou bem.
- Quer tomar um remédio?
- Melhor não, eu acabo ficando com sono, ainda não está doendo tanto.
Tivemos um jogo de perguntas e respostas durante o programa e tínhamos que escrever em um quadro, eles perguntaram se eu queria tirar essa parte do roteiro, mas eu falei que estava tudo bem.
A minha mãe se aproxima e ele ainda está olhando para o meu dedo.
- Ele se machucou?
- Não, ele está bem, em casa eu troco o curativo para garantir.
Acho que no fim é melhor eu me acostumar com esses dois fazendo isso, falando como se eu fosse uma criança que elas estão dividindo a guarda.

Deixamos a minha mãe em casa e fomos para o apartamento dele. No caminho ele para em um restaurante e compra o nosso jantar.
Depois que jantamos vamos dormir. Eu me deito virado para ele, eu tomei o meu remédio e estou com sono, então quero falar com ele antes que eu apague.
- Amor, eu sei que você não está mais com raiva, mas me desculpe, eu não deveria ter dito aquilo.
- Você sabe que eu só quero cuidar de você, certo? Eu só acho que se a sua mãe estiver a vontade com isso vai facilitar para nós, então ela tem que confiar que eu posso e quero cuidar de você. Agora mesmo, você vai poder ficar comigo por quanto tempo quiser sem precisar de desculpas e ou mentiras. Eu sei que você não gosta, mas é o melhor jeito.
- Eu sei disso, mas você percebe que vocês falam como se eu fosse uma criança? É isso que me incomoda, vocês falando sobre mim e tomando decisões sobre mim.
Eu me aproximo e deito no braço dele.
- Não é de propósito, acho que é só um hábito, eu e a sua mãe sempre fizemos isso e nunca te incomodou.
- Nunca foi sobre o meu namorado e a minha mãe, as coisas são diferentes agora, somos um casal, temos que decidir as coisas juntos.
- Entendi, vou tentar não fazer mais isso.
Ele vira e me abraça.
- Agora dorme, quando estiver no horário do seu remédio eu te acordo.
- Amor?
- Sim?
- Você foi bem hoje, sobre aquela coisa de ser um falador, você está se saindo bem...

Não me lembro se ele chegou a responder, acabei dormindo antes disso.