"E as horas lá se vão, loucas ou tristes... mas é tão bom, em meio às horas todas, pensar em ti... saber que tu existes!"
Mário QuintanaTem dias que não adianta, você acorda com aquela sensação estranha e sabe que vai ser um dia de cão.
Acordei cedo para fazer café para o Ohm, mas ele não conseguiu comer porque acordou com dor de garganta, queria ficar em casa com ele, mas não tinha como.
Depois que eu saí que lembrei que tinha que pegar a máscara, por garantia estou usando máscara e álcool gel o tempo todo, não quero ser o motivo de ninguém pegar essa doença. No meio do caminho eu peguei trânsito porque teve um acidente o que acabou atrasando todo mundo no workshop.Olho no relógio e são meio dia e quinze, isso deveria ter terminado as onze. O pior é que todos passam a maior parte do tempo brincando o que atrasa tudo mais ainda, normalmente eu não me importo e participo, mas hoje não estou com humor pra isso.
Mandei algumas mensagens para o Ohm perguntando como estava, mas ele não respondeu, o que me deixou uma pilha de nervos a manhã inteira.
Olho para o pessoal brincando no meio do estúdio, me afasto, vou para um canto e tento ligar pra ele. A primeira vez chama até cair na caixa de mensagens e eu tento novamente, chama, chama, chama, quando estou quase desistindo ele atende.
- Oi amor!
- Oi, estava dormindo?
- Estava sim, acordei agora com você me ligando.
- Como você está?
- Melhor
Dá pra perceber que não está, mas não vou discutir.
- Isso aqui está demorando mais do que eu esperava, vou pedir uma sopa pra você, tenta ficar acordado para comer e não perder o horário do remédio.
- Tudo bem, eu vou me levantar um pouco.
- Eu vou pra casa assim que puder.
- Não precisa, sério, já falei para não se preocupar tanto, isso não te faz bem. Eu estou bem, se acontecer alguma coisa eu prometo que te ligo.
- Tudo bem... Eu te amo!
- Eu te amo mais!
- Não, não ama...
Ficamos na linha em silêncio, então eu vejo uma das staffs vindo na minha direção.
- Amor, eu tenho que desligar, já peço a sua sopa.
Eu desligo e ela se aproxima, me dá uma garrafa de água e fala:
- Você não parece muito bem.
Tento me lembrar do nome dela, mas não consigo, ela é nova aqui.
- Problemas por causa do atraso, nada sério.
- Precisa de alguma coisa?
Ela da um passo na minha direção, estende o braço e eu dou um passo para trás desviando sem pensar, ela abaixa a mão e sorri sem graça. De onde a pessoa tira coragem para tentar se aproximar assim de alguém que nem conhece? Não tenho paciência para essas coisas.
- Desculpe, mas o meu parceiro - eu enfatizo a palavra parceiro - está com COVID, estou evitando contatos físicos, só para o caso de eu ter pego dele.
Ela está me olhando com cara de espanto.
- O seu parceiro?
- Sim, o Ohm Pawat, todos sabem que ele é meu parceiro.
Enfatizo isso mais uma vez, tem um duplo significado, então mesmo que ela tente espalhar por aí que eu disse isso ninguém vai achar nada demais.
- Nanon!
Eu levanto a cabeça e olho na direção em que me chamaram, a Film se aproxima e segura o meu braço, vejo a staff encarando a mão dela, mas não faço nada, é mais uma boa forma de definir limites. A Film olha e fala.
- Estou com um problema, você pode me ajudar?
- Claro.
Ela me puxa e eu vou com ela sem dizer mais nada.
Quando saímos da sala eu pergunto.
- Ok, com que eu posso te ajudar?
- O que? Ah! Em nada, você só parecia querer sair de lá, então eu te ajudei.
- Obrigado, aquilo estava ficando estranho mesmo.
- Estranho ficaria se o Ohm acabasse sabendo disso, eu já fui vítima do ciúme silencioso dele, não é a melhor versão dele.
- Não é mesmo.
Nós damos risada e ela me dá um tapa.
- Você nem pode falar nada, porque o seu ciúme não é nada silencioso.
- De onde você tirou isso? Eu não sou ciumento.
- Não, não é.
Nós temos um ataque de risos novamente, quando eu vejo a staff passando por nós.
- Bom, acho que ela não vai ser mais um problema pra você.
- Acho que não, obrigado mesmo. Vamos voltar?Depois que acaba o workshop, eu ligo para o Ohm de novo, ele diz que comeu um pouco, tomou os remédios e está descansando.
Vou para uma sessão de fotos, depois participar de uma live, quando tudo acaba são nove e meia, estou tão acabado que esqueço que vim de carro, só quando estou na rua me lembro e volto para o estacionamento.Chego em casa e está tudo escuro, vou para o quarto e o Ohm está dormindo, já passou das dez, ele disse ontem que era o horário do seu remédio.
Vou até a cozinha e faço uma sopa, vou até o quarto e coloco na mesa de cabeceira.
- Ohm?
Toco o seu rosto e ele não está com febre, está quente, mas eu acho que é por causa da coberta.
- Amor, acorda.
Ele abre os olhos um pouco e sorri, mas até o seu sorriso é fraco.
- Consegue sentar?
Ele acena, se mexe e faz uma careta.
- Está com dor?
- Um pouco de dor pelo corpo só.
- Deixa eu te ajudar.
Eu pego o meu travesseiro, ajudo ele a se levantar um pouco e coloco atrás dele, assim fica quase sentado. Pego a sopa, esfrio uma colher e dou pra ele.
- Não precisa fazer isso Non.
- Só come!
Dou toda a sopa para ele, acho que não estava querendo comer, mas estava comendo por minha causa. Me levanto para levar a bandeja e me lembro.
- Qual remédio você tinha que tomar? Está atrasado.
- Está aqui.
Aponta para a mesa do seu lado da cama, volto e abro a gaveta. Tem três frascos ali.
- É o maior.
- Tudo bem, eu vou buscar uma água pra você.
Deixo o remédio em cima da mesa, saio e volto com a água, enquanto ele toma o remédio vejo que ele está suado no pescoço e no peito. Vou até a cozinha e pego uma bacia, vou ao banheiro e coloco água do chuveiro e pego uma toalha, volto para ele, coloco a bacia na mesa e começo a tirar a sua camiseta.
- Non...
- Shiii...
Eu limpo o corpo dele, lentamente, depois pego um pijama e ajudo ele a se vestir.
- Eu vou tomar banho, me espera para dormir comigo?
- Claro!
Pego a bacia e vou para o banheiro, tento tomar banho o mais rápido possível, troco de roupa e me deito. Ele se arrasta pela cama até chegar em mim e deita no meu braço.
- Como foi o seu dia?
- Terrível! Vamos fugir pra Pai?
- Eu vou pra onde você quiser, é só dizer.
Eu sorrio e o beijo.
- Eu sempre sinto a sua falta, mas hoje estava demais, queria muito você ao meu lado pra me animar.
- Desculpe por isso.
- Não é culpa sua, eu só não estava de bom humor, você sabe como eu fico quando estou assim.
- Você fica adorável todo sem paciência.
- Desde quando uma pessoa sem paciência é adorável?
- Desde quando essa pessoa é você!
Eu dou risada mais uma vez. Sinto que relaxei no momento que ele deitou nos meus braços e sei que todo o problema desde o início era eu estar longe dele.
Beijo mais uma vez a sua cabeça e percebo que ele já está dormindo, tento sincronizar a minha respiração com a dele e durmo também.
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Silêncio
FanfictionDepois desses meses de silêncio eu decidi parar de me esconder e contar a nossa história, mas por onde começar? Será que conto sobre esse período de silêncio e o que fizeram com ele? Sobre o nosso show, ou melhor depois dele? Sobre a aquela briga? N...