Pran

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"Não sou eu quem estou confuso, você nem sabe quem você é."
O Rei Leão

Sinto a cama se mexendo e acordo aos poucos, estico a mão para o abraçar, mas ele não deitado ao meu lado. Abro os olhos e vejo que ainda sentado na ponta da cama me olhando, me adorando, olho nos seus e as suas pupilas começam a dilatar.
- Se você continuar me olhando desde jeito eu vou precisar de um pote de sorvete e você vai ser o acompanhamento.
Eu sorrio e vejo o seu rosto se iluminando, como eu sinto falta dessa reação. Ele se abaixa e me beija, quando se afasta eu pergunto.
- Quais as chances de eu conseguir te foder hoje?
Ele dá uma risada gostosa.
- São grandes, mas podemos conversar enquanto você ainda é você?
- Como assim?
- Espera aqui.
Ele se levanta,  abre a porta e sai. O Thor entra correndo e pula na cama, acho estranho porque ele não tem chegado muito perto ultimamente, acho que porque não paramos quase em casa, ele se aproxima me olhando, se esfrega na minha perna, então pula no meu colo, fica sobre as patas traseiras e começa a se esfregar no meu pescoço. Eu dou risada e faço carinho nele.
- Hey garoto! Tá com saudade é?
O Ohm entra no quarto com um pote de sorvete e me dá, coloco o Thor ao meu colo, pego o sorvete e coloco uma colher na boca.
- Hmmmmm.... Eu juro que vou casar com você! Que delícia!
Ele fica me olhando comer e não para de sorrir, é contagiante.
- Eu quero mesmo aproveitar esse sorvete, então se vai conversar é melhor começar de uma vez.
Ele fica sério me encarando, então passa a mão no cabelo e suspira.
- Eu estou preocupado com essa coisa do Pran.
- Que coisa?
- Você sendo o Pran de novo. Não, não de novo, está pior, porque antes acontecia as vezes, mas dessa vez ele tomou conta.
- Do que você está falando Ohm?
Ele mais uma vez passa a mão nos cabelos e aponta.
- Come o seu sorvete. Olha, eu sei que você deixou ele voltar e sei porque você fez isso, você já fez isso antes, quando você não consegue lidar com uma situação você faz isso, troca de personalidade, eu já vi acontecendo, com o Oh e com o Traffic.
- Eu não estou te entendendo de verdade Ohm.
- Ok, lembra quando você entrou em depressão? Você estava bem, estava namorando e estava feliz, quando ela terminou você ficou estranho, depois de alguns dias percebi que você estava agindo como o Oh e estava se afundando nele, quando fomos perceber você já estava em depressão, você lembra disso?
Eu nunca tinha pensado na situação dessa forma, do meu ponto de vista o Oh sempre esteve comigo, desde my dear loser, sei que parte da minha depressão foi por não ter me desassociado dele, mas realmente, mesmo depois da série eu segui com a minha vida, tive namoradas, trabalhei em outras séries...
- Eu nunca pensei nisso assim, não sei dizer se foi o que aconteceu, mas entendo o que você quer dizer, mas ainda não entendo o que o Pran tem a ver com isso.
- Você fez de novo, você está agindo como o Pran, não, você está sendo o Pran.
- Não é assim Ohm, isso é coisa da sua cabeça, nos quase não nos vemos, só quando estamos trabalhando, talvez seja, sei lá, algo da personalidade dele que ainda ficou.
- Quando foi a última vez que você comeu sorvete?
Eu olho para o pote e fico pensando, mas não lembro.
- Desde quando você monta cronogramas e fluxogramas? Você tem noção de que você montou várias listas com as mesmas casas para a gente visitar, mas separando por localidade, tamanho, distância da empresa, se tem piscina e banheira, quintal para cachorro, quantidade de quartos, valor, tempo de contrato... Pra cada coisa você criou uma lista. E a faculdade? Desde quando você assiste todas as aulas e faz todos os trabalhos? Você levanta cedo todos os dias, organizou as suas roupas de um jeito que não gosta, fica limpando a casa mesmo quando ela não está suja, está tomando três banhos por dia, você escreveu uma música, faz um ano que está tentando escrever uma música, mas agora escreveu uma em uma semana.
Eu começo a pensar em tudo que ele disse e realmente eu estou fazendo essas coisas, nunca coloquei tudo isso no mesmo quadro, realmente eu percebi que não estava conseguindo dormir muito, ele sai logo eu levanto, as roupas eu achei que era influência dele, a música pensei que era inspiração pelo que aconteceu, a faculdade e listas eram algo necessário, mas ele está certo, nada disso sou eu.
- Meu Deus, é o Pran! - Eu olho para ele. - É por isso que você está assim, não é por minha causa, é por causa do Pran.
- Eu realmente estou preocupado, você está se perdendo e eu não consigo te alcançar. O pior é que eu sei que é culpa minha e não tem como eu fazer nada para consertar isso.
Eu coloco o gato na cama, me aproximo e toco o seu rosto.
- Você não tem culpa das minhas loucuras amor, nada disso é sua culpa, eu só não percebi que estava acontecendo.
- Fui eu, eu te quebrei, você não estaria assim se eu tivesse dado a chance de você falar comigo, se eu não tivesse feito aquilo.
- Olha pra mim amor, você não pode fazer isso, lembra sobre o que falou da culpa? Tudo aquilo serve para você também e não, não tem nada a ver com você, eu prometi que ia seguir em frente e achei mais fácil deixar o Pran lidar com tudo, já fiz isso outras vezes, não sei dizer porque foi assim dessa vez, me desculpe.
Ele deita no meu colo e eu passo a mão na sua cabeça.
- Por favor, não fica assim, não é sua culpa. Eu vou fazer de novo, vou trabalhar para não ser ele, eu prometo.
Eu me deito sobre ele ainda com ele no meu colo e espero até que esteja bem. Então ele se senta novamente e pega o pote da minha mão, coloca na mesa de cabeceira, se levanta, vai até a comoda e pega uma camisinha, volta pra cama, coloca na minha mão, me beija, se afasta e olha nos meus olhos.
- Nós podemos lidar com isso amanhã. Faz amor comigo?

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