Cap.35

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Apolo Martins

Quando me ligaram da escola dizendo que Renan tinha sido levado as pressas para o hospital, sai correndo da empresa.

Eu estava em uma reunião com alguns sócios e engenheiros para falar sobre um novo projeto que estamos trabalhando, mas nada é mais importante que a vida dos meus filhos.

Liguei para a Mariana, ela hoje estaria trabalhando e provavelmente já estava sabendo do Renan.

- Oi, vc já está vindo?

- Sim, estou indo mais rápido que eu posso. Como ele está?

- Renan perdeu muito sangue e acabou de entrar para a cirurgia agora. Apolo, parece que ele foi esfaqueado.

- Como assim? Que merda de escola particular é aquela que deixa isso acontecer?

- Eu não sei, mas tem um menino aqui que disse que é colega dele e viu tudo que aconteceu, já liguei para o André pra ir buscar a Manu e a polícia foi chamada.

- Eu já estou chegando.

- Ta bom, te espero aqui.

Encerrei a ligação e acelerei mais. Como meu filho pode ter sido esfaqueado? Como isso foi acontecer sem que nenhum responsável estava por perto? Coloquei ele naquela escola porque ouvi coisas boas, ouvi dizer que era ótima, era segura e agora acontece isso? Ninguém vai sair impune dessa história.

Estacionei meu carro e corri para dentro do hospital. Mariana estava na recepção junto com um menino e dois policiais.

- Apolo - Disse Mariana quando me viu

- Como ele está? - Perguntei abraçando ela

- Em cirurgia ainda, logo o médico responsável vai nos trazer notícias.

- Aquele é o garoto?

- Sim, eu já descobri o que aconteceu.

- E?

- Não foi esfaqueamento. Foi na educação física, eles foram para o ginásio, entraram no vestiário e enquanto o Renan esperava o amigo dele trocar de roupa, foram outros meninos da mesma turma e um deles intimidou o Renan, na hora em que ele ia sair do vestiário, o mesmo menino empurrou ele com força pra parede e foi um dos ferros que estava dobrado e solto, o garoto não tinha visto.

- Mesmo assim, em hipótese nenhuma ele deveria ter intimidado meu filho, se tivesse deixado o Renan em paz nada disso teria acontecido. Eu deveria ter tirado ele daquela escola desde a primeira vez que aconteceu.

- Calma amor, vai ficar tudo bem.

Deixei que Mariana voltasse para o trabalho dela e sentei em uma das cadeiras na sala de espera. Meu coração parecia que ia explodir ou a qualquer hora eu poderia ter um infarto por esperar tanto.

- O senhor é o pai do Renan? - Pergunta o menino que estava com a Mariana quando cheguei

- Sim, vc é amigo dele?

- Colega, a gente conversava pouquíssimas vezes, ele é um menino incrível.

Quando ele falou isso, imediatamente lembrei do bilhete.

- Foi vc que escreveu aquele bilhete pra ele?

- Sim, me senti mal pelo que meus amigos fizeram.

- Amigos? Vc chama aqueles meninos de amigos? Escuta garoto, sai dessa em quanto a tempo, amigos de verdade não fazem o que eles fizeram com meu filho. É melhor ter poucos amigos do que ter muitos e ser taxado de idiota como eles.

- Eu sinto muito pelo que aconteceu, nunca imaginei que isso poderia acontecer.

- Atitudes idiotas trazem consequências graves, Renan poderia ter morrido e vcs iam carregar essa culpa pra sempre. É muito fácil julgar, fazer piada, intimidar os outros quando não se sabe o que aconteceu para que aquela pessoa fosse daquele jeito. Renan foi torturado quando ele tinha 6 anos, eu e ele fomos sequestrados, ficamos desaparecidos por cinco meses, ele estava sendo multilado enquanto eu estava preso e era obrigado a ver tudo aquilo sem poder fazer nada. É por isso que ele é quieto, se intimida fácil, tem medo, deixa os outros fazerem o que quiserem com ele. Pense bem no que vc quer pra sua vida, uma hora vc vai se ferrar e acabar sozinho, porque nenhum de seus "amigos" vai estar lá para te ajudar.

- Apolo - Disse Mauro, médico e amigo da nossa família

- Eaí cara, como ele está?

- Bem e fora de perigo, ele já foi para o quarto, está em processo de transfusão e de agora em diante é repouso absoluto, ele precisa de bastante repouso.

Respirei aliviado, agora eu posso ficar mais tranquilo.

- Daqui a pouco eu libero a entrada de vcs.

- Não, só eu vou entrar, por enquanto não quero ninguém além da minha família visite ele.

- Ok então.

- Por que isso? - Pergunta o menino

- Proteção, enquanto ele estiver dormindo quem toma as decisões por ele sou eu. Depois que ele acordar, digo que esteve aqui, caso ele queira te ver, eu falo com a Manuela.

- A Manuela é sua filha também?

- É como, mas ela é minha afilhada.

- O senhor faria isso por mim? Falaria que eu estive aqui?

- Sim.

Vi um sorriso se iluminar em seu rosto. Ele pegou sua mochila e me entregou um papel.

- Entrega isso para ele?

- Sim.

- Diz que estou torcendo pela recuperação e quero que saia daqui logo.

- Digo sim.

O menino me abraçou animado.

- Obrigado.

Guardei o bilhete no bolso e segui Mauro até o quarto do meu filhote.

Apaixonada por um homem mais velho. Onde histórias criam vida. Descubra agora