Apaixonada por um homem mais velho.

Cap. 126

Poliana Martins

Desci até o espaço subterrâneo que o André tem abaixo da garagem. Dylan estava com a Manu e não voltaria tão cedo. André tinha saído com o Arthur e eu preferi ficar sozinha.

Sempre fui a extrovertida, que sempre era agitada, a maluca, a que enchia a cara e colocava o terror em qualquer festa ou boate.

Mas a Poliana que ninguém conhecia era a que chorava toda noite por se sentir insegura e sofria calada por situações que aconteceram na escola, na faculdade ou até em casa. De todas as vezes que me senti sozinha, excluída pelos meus próprios pais.

Das vezes que acordei de madrugada e senti minha boca sendo tampada pelo meu próprio pai, ele tocando em mim, apertando o meu pescoço até eu ficar sem ar e acabar desmaiando para que no outro dia eu acordasse com dores nas minhas pernas e estômago.

- Você está gostando minha princesa? - Ouço ele sussurrando no meu ouvido - Não vai demorar muito, é rapidinho.

Cai de joelhos ao lembrar de tudo que já passei, de todas as vezes que fui silenciada e não pude contar a ninguém sobre tudo que eu estava passando.

Gritei tentando tirar tudo aquilo de mim. Chorei por todas as vezes que sofri em silêncio. Deitei no chão tentando me acalmar sozinha.

- POLIANA! - Ouço André gritar

Não me movi. Não consegui me levantar do chão. Não consegui falar. Não consegui reagir.

- Poli... Poliana - Disse André correndo até mim - Ei meu amor, o que aconteceu? Poliana, fala comigo.

Eu estava em choque, não via nada além de um borrão até que desmaiei.

[...]

Acordei sentindo o macio da nossa cama e as mãos do André segurando a minha.

- Ei amor, como você está?

- Minha cabeça está doendo, o que aconteceu?

- Te encontrei lá embaixo, deitada no chão, você estava em estado de choque. O que aconteceu vida? Do que você lembrou?

- Eu perdi a minha virgindade com você, lembra?

- Como eu poderia esquecer? Foi a melhor noite da minha vida.

- Antes ele só me tocava com os dedos - Falei sem pensar

- Como assim Poli? Quem encostava em você?

- Depois que perdi a virgindade, ele começou a me enforcar até eu desmaiar e no outro dia eu acordava com minhas pernas doendo.

- Olha pra mim Poliana - Disse André segurando o meu rosto - De quem você está falando meu amor? Quem fez isso com você?

- Meu pai.

- Vem cá amor, ninguém nunca mais vai encostar em você, nunca mais você vai sofrer, nunca mais.

- Eu te amo.

- Também te amo minha linda.

André Albuquerque

Poliana dormiu rápido, mas rápido do que de costume. O que ela me contou fez meu sangue ferver, ela teve que passar por tudo isso sozinha e só agora conseguiu falar.

Tomei um banho, me vesti e desci para a garagem.

- Vitório - Chamei meu segurança

- Senhor?

- Vou sair, Poliana está em casa, dormindo, quero que me avise quando ela acordar.

- Sim senhor.

Mandei mensagem para o Davi junto com o endereço que eu queria que ele me encontrasse. Eu não podia descontar a minha raiva que eu estava sentindo no desgraçado que já estava morto, mas tinha alguém igual a ele que eu poderia deixar em coma.

Davi e eu chegamos juntos, abri a garagem e entramos.

- O que aconteceu com a minha irmã? - Pergunta assim que saímos do carro - O que você fez André?

- Você acha que eu tive alguma coisa a ver com o que aconteceu com a MINHA mulher? O problema sempre esteve dentro da sua família e não em mim.

- Do que você está falando André?

- É melhor a gente entrar.

Peguei as chaves da casa e entramos. Abri as janelas e fui direto para a minha mesa de bebidas, eu precisava de algo forte e puro.

- Quer beber alguma coisa?

- Não bebo quando estou dirigindo.

Enchi dois vezes meu copo e sentei na poltrona próximo a janela.

- Poliana quis ficar em casa hoje, Dylan estava com a Manu e eu saí com o Arthur. Quando voltei pra casa, encontrei ela no chão, em estado de choque.

- Por que? Por que ela ficaria assim?

- Poliana acabou desmaiando, quando ela acordou, eu perguntei o que tinha acontecido e ela lembrou da primeira vez que ficamos juntos. Poliana me disse que antes ele tocava ela só com os dedos.

- Ele quem?

- Seu pai Davi, seu pai abusava da sua irmã. Ela me contou que ele a enforcava até desmaiar e no outro dia ela acordava com as pernas doendo.

- Por que ela nunca contou isso pra gente?

- Você sabe muito bem porque, você viu a Mel sendo abusada, você viu o estado em que ela ficou, não é um assunto fácil de se falar.

- Se aquele desgraçado não estivesse morto, eu mataria ele.

- Acredito que a personalidade que a sua irmã tem é por causa disso, ela criou essa barreira pra se proteger e agora está caindo aos poucos.

- Não é só ela.

O que ele disse me fez acreditar que Thomas também havia encostado nele.

- Davi, ele fez alguma coisa pra você?

Ele se levantou do sofá e foi até a outra janela.

- Davi.

- Eu era uma criança André, um menino idiota que tinha medo de tudo e não sabia se defender. Eu... Eu estava brincando com algum brinquedo e acabei batendo numa mesinha que tinha um vaso de porcelana preto. O vaso quebrou, ele apareceu, achei que iria me bater e ao invés disso, ele falou que se eu fizesse tudo que ele queria, a mamãe nunca ficaria sabendo sobre o vaso.

- O que ele fez Davi?

- Ele tocava em mim. Eu contei para o Apolo, contei tudo que tinha acontecido porque ele sempre me defendia.

- Apolo fez alguma coisa?

- Tentou fazer, ele tentou me proteger e com ele foi pior.

- O que aconteceu?

- Thomas batia nele, batia tanto nele que chegava sair sangue, muito sangue. A gente cresceu e decidimos começar a lutar, fazer academia, aulas de autodefesa, mas nunca passou pela nossa cabeça que ele mexeria com o nosso ponto fraco. Poliana é a nossa princesa, prometemos que protegeriamos ela e agora descubro que ela foi... Meu Deus, isso é tão horrível.

- A culpa não foi sua e nem do Apolo, vocês também estavam tentando se proteger de um monstro.

- Depois de tudo, depois de morto, ele continua me assombrando. Você não pode contar isso pra ninguém André, meu filho não pode ficar sabendo de nada disso.

- Davi...

- Por favor André, o Murilo já está passando por muita coisa e não precisa de mais uma. Isso é vergonhoso demais.

- Não é vergonhoso Davi, é um trauma.

- Não importa, privo meu filho de muita coisa sobre mim e isso é uma delas.

- Quais são as outras coisas Davi? O que você faz?

- Não é da sua conta, isso é entre mim e a Melissa.

- Ah, entendi.

- Será que eu posso ir ver ela? Preciso ver como ela está.

- Claro, vamos lá.