Cap. 135

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Mauro

Cheguei em casa e a primeira coisa que notei foi o silêncio absurdo. Não estou acostumado com isso, sempre que chego em casa ouço tudo, menos silêncio.

Passei na sala não tinha ninguém, na cozinha não tinha ninguém ou eles saíram sem me avisar ou estão dormindo.

Subi para o segundo andar, a porta do quarto do Lucas estava aberta, a luz estava acesa e ouvi a voz baixa do Vhitor.

- Cuidado com essa tesoura, não vai se machucar.

Fui até o quarto e me escorei na porta, eles estavam sentados no chão, uma pilha de revistas e material escolar ao redor deles.

- Cada coisa tem uma caixinha, então deixa separadinhos.

- Tá bom.

Estavam tão concentrados que nem notaram a minha presença.

- Oi meus amores.

- Papai! - Disse Lucas vindo me abraçar

- Oi meu amor, como você está?

- Bem.

- Que bom meu docinho.

Vhitor nem olhou na minha cara, tínhamos discutido hoje de manhã antes de eu sair do trabalho e sei que ele ainda está magoado.

- O que vocês estão fazendo?

- Não pode pai, é surpresa.

- Surpresa pra quem?

- Não posso contar pai, é surpresa.

- Tá bom, vou tomar um banho e depois a gente conversa mais.

- Estou com fome pai.

- Desce lá pra comer alguma coisa, eu já estou indo - Disse Vhitor

Lucas me abraçou e saiu do quarto correndo.

- Podemos conversar? - Perguntei me agachando do lado dele

- Estou ouvindo.

- Me desculpa por hoje mais cedo - Falei segurando a mão dele

- Você não vai afastar ele de mim - Disse puxando sua mão para longe de mim

- Eu não vou, tá legal? Mas ele está aprontando demais, eu preciso fazer alguma coisa antes que ele seja expulso de outra escola.

- Qualquer coisa Mauro, faça qualquer coisa mas não mande ele pra longe de mim.

- Tudo bem, só não quero ficar brigado com você, eu te amo.

- Também te amo.

- Vem cá - Falei pegando as mãos dele - Levanta.

- O que você quer?

- Um abraço seu, eu estava com saudades.

- Você não está merecendo.

- Vamos lá, hoje o dia foi cansativo, eu estava doido pra chegar em casa.

Ele me abraçou, eu pude sentir seu perfume e sua pele quente contra a minha.

- Você está tão quentinho.

- E você está cheirando hospital.

Dei risada e beijei a testa dele.

- Vou tomar um banho.

- Vamos no meu pai hoje né?

- Você quer ir?

- Quero.

- Então sim, mais tarde vamos no Apolo, conhecer o Gael.

- Você viu ele?

- Vi, ele é lindo, pequenininho e bem fofinho.

- Estou ansioso pra conhecer ele.

- Vou tomar banho.

- E eu vou descer, o Lucas está muito quieto.

Fui para o meu quarto, tomei um bom banho, me vesti e desci pra cozinha.

- Não Lucas - Ouvi Vhitor dizer - Antes do jantar, não é pra comer doce e olha o tanto que você já comeu, vai ficar com dor de estômago.

- Só mais um Vhitor, por favor.

- Não, vai comer uma fruta, doces não enchem barriga.

- Não quero fruta, quero mais um doce.

- Ei cara - Falei entrando na cozinha - Chega de doce.

- Só mais um pai.

- Não Lucas, você sabe que não pode comer muito doce, depois ninguém consegue dormir nessa casa.

- Ah que coisa. - Disse saindo da cozinha

- Vem cá Lucas, temos que conversar.

Ele voltou correndo e com uma cara de assustado.

- Não fiz nada papai.

- Eu deveria me preocupar com isso? - Falei cruzando os braços

- Não pai, eu juro que não fiz nada.

- Eu sei amor, passei o dia inteiro fora. Só quero conversar contigo, saber como você está.

Ele me abraçou e sentou no meu colo.

- Como foi na escola hoje?

- Chato.

- Por que?

- Porque eu não queria ir pra escola, mas o Vhitor não me deixou ficar em casa.

- Já sabe que só pode ficar em casa quando estiver doente ou quando não tem aula.

- Vamos lá no vovô agora?

- Sim, vai trocar de roupa e pegar o que você quer levar.

Ele saiu correndo da cozinha, Vhitor me olhou sério, pegou o prato e levou até a pia.

- O que foi agora?

- Nada, não posso mais te olhar?

- Poder pode, mas não do jeito que você me olhou agora, como se quisesse me matar ou como se eu tivesse feito algo de errado.

- Lucas me perguntou uma coisa que me deixou um pouco chateado.

- O que aquele curioso te perguntou?

- Ele perguntou sobre a mãe dele.

Meu corpo enrijeceu, meu coração disparou e minhas mãos tremeram.

- O que você disse?

- Falei que não sabia nada sobre ela, eu tive que mentir pra ele por que você não conta a verdade?

- Pra que? Pra ele ter esperanças e depois acabar magoado? Pra eu ter que ouvir meu filho chorando? Não obrigado.

- Pai! Estou pronto - Disse Lucas entrando na cozinha animado

- Vamos lá meu amor.

Eu e o Vhitor não trocamos uma palavra até chegarmos na casa do Matheus. Lucas saiu correndo do carro batendo a porta com força.

- Que praga! Odeio quando ele faz isso.

- Você não vai descer?

- Vou dar uma passada na casa do meu pai e já volto aqui.

- Tá bom.

Vhitor abriu a porta do carro e segurei a mão dele antes de sair.

- Espera.

- O que foi?

- Eu te amo.

- Também te amo.

Peguei uma sacolinha pequena e entreguei para ele.

- O que é isso?

- Um presente pra você.

- Mauro, não...

- Só aceita e vai, a gente conversa mais depois.

- Até depois então.

- Até.

Apaixonada por um homem mais velho. Onde histórias criam vida. Descubra agora