A tentativa de contato com Caivan mesmo fora da escola

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O ano 2000, no calendário Ocidental, iniciou e Aisha estava muito triste por não ter sido autorizada a continuar os seus estudos. Ela queria ver Caivan e procurava formas para isso, mas, o seu pai não a autorizava sair de casa sem companhia, já que ela era uma menina que estava prestes a se casar.

Quando começaram as aulas, Aisha tentou arrumar uma forma de conversar com Caivan, em um dos dias, na hora da saída. Entretanto, a conversa teve que ser realizada em um espaço reservado, escondido, na parte ao fundo da escola, para que não levantasse suspeitas dos membros daquela comunidade.

O pai de Aisha, Mohamed, não costumava almoçar em casa, pois, andava sempre viajando a vender os seus produtos nos vilarejos da região. Depois que aquele primeiro encontro deu certo, Aisha saiu por mais algumas vezes para encontrar o amigo e conversar um pouco com ele após o fim das aulas. Ela saia sempre muito feliz desses encontros, pois conseguia matar um pouco a saudade da pequena liberdade que tinha enquanto era estudante.

Em um dos dias que estava a encontrar Caivan, o seu pai teve alguns contratempos e resolveu almoçar em casa. Ao chegar naquele local, ele não encontrou a filha, ficando extremamente nervoso.

Querendo descobrir para onde Aisha havia ido sem a sua autorização, ele começou a mexer nas coisas dela, tentando saber com que roupa ela havia saído para procurá-la. Ao pegar algumas das vestes da filha em uma caixa, ele então descobre a bíblia dentro das coisas da jovem.

Como reação ele fica inicialmente perplexo ao encontrar aquele livro proibido. Em seguida, veio uma ira incontrolável. Sem saber o porque Aisha estava a guardar aquele livro em sua casa, Mohamed decide que não trabalharia na parte da tarde, para aguardar a filha. Ele exigiria explicações de quem havia lhe dado aquele livro proibido.

Após conversar por algum tempo com Caivan, a jovem chega em casa e se assusta ao ver que o pai a aguardá-la na sala. Então ele questiona demonstrando intenso nervosismo em sua fala:

— Aisha, onde você estava?

— Eu estava na casa da vizinha meu pai, ela me chamou para ajudar a fazer alguns doces.

— Tem certeza Aisha que está me dizendo a verdade? Eu vou procurar saber se isso é verdade? Questiona Mohamed Cazir, pai de Aisha.

— Tenho papai. Diz Aisha já com medo de que o pai pudesse mesmo verificar onde ela estava.

— Você está a mentir para mim Aisha. Não tem vergonha? Questiona seu pai novamente ao ver que a jovem não dizia a verdade.

— Eu não estou papai, eu juro! Diz Aisha, já tremendo de medo da reação de Mohamed.

— Me diga a verdade, onde estava? Questiona Mohamed já a gritar com a filha a deixando ainda mais desesperada.

— Eu fui a escola meu pai. Responde Aisha com voz trêmula.

— O que você foi fazer lá Aisha? Eu não te disse que não era mais pra você voltar a estudar?

— Eu sei pai, mas fiquei com saudade da escola e resolvi ir lá.

— Pois bem. Agora me diga o que isso estava fazendo nas suas coisas Aisha? Questiona Mohamed apontando para a pequena bíblia que estava em suas mãos.

— Onde encontrou isso papai? Questiona Aisha demonstrando um intenso pavor em seu olhar.

— Em meio as suas roupas Aisha. Me explique o que é que fazia com isso e quem te deu esse livro proibido? Ordenou ele com um olhar severo.

— Eu achei na escola pai e curiosa o trouxe para casa para ver o que tinha nele.

Mohamed se mostra extremamente nervoso com a resposta não convincente da filha, se aproxima dela e lhe dá um forte tapa no rosto, que a faz cair no chão. Quando ele diz:

— Me explique Aisha, o que você fazia com isso e quem te deu, antes que eu perca a paciência? Questiona novamente Mohamed, que se descobrisse quem lhe deu aquele livro proibido, certamente denunciaria a família, que naquele local, poderia ser condenada a morte, por heresia, haja vista que ali não era permitida a crença em outras religiões.

— Papai, por favor, eu estou dizendo a verdade. Eu juro que encontrei esse livro no chão da escola e trouxe para casa. Eu fiquei curiosa com o que havia nele.

— Você não está dizendo a verdade Aisha e eu vou fazer você dizer o que quero saber, nem que seja a última coisa que diga na vida. Só que você vai escolher a forma que isso será, se você dirá por bem ou por mal. Afirma Mohamed de forma enigmática e ameaçadora ao mesmo tempo.

Aisha, nesse momento, estava extremamente receosa. Ela sabia que o seu pai, certamente, a agrediria com extrema violência, seja lá o que dissesse. Mas, uma coisa ela tinha certeza, caso contasse que recebeu a bíblia de presente de Caivan, certamente, o seu pai o denunciaria e toda a família dele seria morta. Então ela decide que aguentaria tudo, mas, jamais diria quem lhe deu aquele livro.

Mohamed estava ficando cada vez mais irado com as respostas evasivas da filha. E então ele pegou novamente um dos chicotes de couro que possuía, um dos mais pesados, utilizado para bater em seus animais e se aproximou de Aisha de forma ameaçadora.

— Aisha, eu vou te dar uma última oportunidade antes de lhe bater até que eu me canse, quem lhe deu essa bíblia?

Aisha via o seu corpo tremer intensamente de medo. Ela já havia sido punida várias vezes por seu pai, até muito severamente, segundo a sua avaliação, de forma que havia ficado semanas a sentir dor. Entretanto, ela nunca havia desafiado frontalmente uma ordem direta dele e temia que aquela pudesse ser a maior e mais severa punição de sua vida, caso não contasse a verdade naquele momento.

Na sua cabeça vinha um dilema: Eu não posso comprometer Caivan e toda a sua família dessa forma. Ele certamente será morto. Eu preciso aguentar todas as consequências dessa violência e sustentar essa história até que tenha tempo de alertá-lo que meu pai descobrirá que sua família é cristã. Pensou a jovem antes de responder aquela questão.

Casamento forçado e abusivoOnde histórias criam vida. Descubra agora