A fuga

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Aisha tinha pouca noção do mundo em que vivia. Morava com o pai desde que nasceu e ele era de poucas palavras com ela. Não tinha a mãe que poderia lhe auxiliar no aprendizado a cultura local. O pouco que aprendeu em sua vida foi nos encontros religiosos, acompanhando as ações de outras pessoas e no pouco tempo em que frequentou a escola. No mais, a relação com seu pai era numa lógica de punições pelos erros cometidos, mas por ser extremamente fechado e conservador, raramente ele explicava qual havia sido o erro e como ela poderia agir para corrigi-lo. De certa forma Aisha era totalmente carente de orientações, vivia a deriva daqueles preceitos sociais, que para ela não faziam nenhum sentido. E agora estava na adolescência em um período em que se costuma ter momentos de confusões entre os seus pensamentos e uma coragem acima da média, que a levava a correr riscos intensos e desnecessários, especialmente naquele cultura.

Aisha entrou naquele espaço, preparado para o seu casamento, pelos fundos para que ninguém pudesse a ver. Logo que chegou no carro de seu pai ela percebeu que a direita da entrada havia um pequeno jardim que levava ao fundo a uma região montanhosa, formada de pedras. Pela janela, enquanto arrumava o seu cabelo, ela pensava em um trajeto para fugir daquele lugar. 

Aquela jovem estava tão desesperada com o que descobriu da sua nova família, especialmente das características de sua sogra e da violência do marido, que não pensou para onde iria e o que faria da vida após aquela fuga. Ela não pensou também na possibilidade de ser capturada. Tudo que veio a sua cabeça era que não queria casar e que deveria fugir daquele espaço para evitar aquele casamento.

Então, pouco antes do início do casamento, ela entra no banheiro que ficava próximo a uma saída lateral daquela casa, que dava acesso ao jardim e ao ponto montanhoso que ela havia visto logo na chegada. Ao ver que as mulheres que cuidavam de sua arrumação estavam distraídas, ela olha pela porta em direção ao local que imaginava ser o melhor para fugir, para verificar se alguém poderia a ver. Nesse momento, ela observa as pessoas da festa a conversar e que ninguém a via. Quando percebe que estavam todos distraídos, Aisha sai correndo pela porta, entra em um pequeno jardim com algumas árvores, ao lado do local em que os convidados estavam, se dirigindo ao local montanhoso e que possuía as grutas que ela havia visto logo na sua chegada a aquele espaço.

Uma das senhoras que a ajudavam na arrumação, percebe que Aisha estava demorando, bate na porta e vê que ela não estava mais no banheiro. Ela então chama o noivo que arromba a porta e esse confirma que Aisha havia fugido. Ele então chama o pai de Aisha e mais dois irmãos e vai em direção ao jardim a procura de sua noiva. Ela corria intensamente, entrando em meio a algumas pedras, quando é avistada por eles. Os quatro homens entram na gruta a chamando, demonstrando intensa revolta com a jovem, por ela ter fugido naquele momento tão importante.

Em meio a perseguição Mohamed estava incontrolável, dizia que quando pegasse Aisha ela iria saber como pagar a vergonha que ela o estava fazendo passar no dia do seu casamento. E os outros homens confirmavam que ele deveria ser enérgico com a filha, assim como o seu futuro esposo, após o casamento, para que ela aprendesse a ter bons modos e não desafiar os homens daquela terra. Osnin concordava perfeitamente tanto com Mohamed, quanto com os seus irmãos.

Eles então entram em uma das cavernas e percebem um barulho dentro dela. Possivelmente era Aisha que estava naquele lugar. Eles então chamam Aisha e ela não responde, quando eles continuam adentrando para a parte mais interna daquela gruta.

Aisha naquele momento estava com um pavor extremo. Lágrimas caíam dos seus olhos. Ela percebe que era inútil tentar fugir, pois, por mais que conseguisse, não teria para onde ir. A sua ação foi totalmente impensada e poderia levá-la a consequências terríveis. Aisha estava a tremer intensamente com medo do que poderia acontecer depois daquele seu ato inconsequente.

Então, ao entrarem um pouco mais na caverna, eles avistam Aisha, sentada no chão com as mãos sobre os joelhos em posição de defesa e a chorar de medo ao ser descoberta pelos seu pai, seu noivo e seus dois cunhados.

Logo o seu pai grita com intensidade:

- Aisha, você não tem vergonha! Questiona o pai, quando a pega pelo braço e a retira abruptamente da caverna em direção ao jardim.

Naquele momento Aisha já estava a chorar intensamente de vergonha e um medo intenso. Quando ela pede perdão a todos pelo que fez. Aqueles homens estavam olhando para ela de forma muito furiosa e aquela jovem garota percebia que talvez tenha cometido o maior erro de sua vida naquele dia.

O seu pai então revoltado, mesmo após os pedidos de desculpa de sua filha, a entrega para o seu esposo e vai para uma parte mais densa do jardim, enquanto Aisha é encarada pela primeira vez com o seu futuro esposo e ela percebe que ele não estava nada satisfeito com a sua ação.

Ela então pede perdão a ele. E ele prefere não dizer nada. Continua com um olhar fulminante contra ela. Pouco tempo depois ela percebe o seu pai a sair de uma pequena mata e fica desesperada. Ele estava a carregar uma vara em suas mãos, Aisha logo percebeu que naquele momento seria punida severamente.

Aisha em meio a todo aquele desespero, pede perdão a todos intensamente, de forma ainda mais desesperada, quando o seu pai diz de forma ríspida:

- É hora de te mostrar que ainda mando em você até que você se case. Depois o seu esposo é que vai te ensinar a ter bons modos. Diz Mohamed de forma direta e se mostrando revoltado com a ação de sua filha.

Mohamed pede que aqueles senhores a segurem. Cada um dos irmãos de Osnin pega um braço daquela jovem garota, enquanto o seu esposo segura os seus dois pés a deixando de costas olhando para o chão, sem chance de se mover, pois aqueles fortes homens estavam a segurá-la fortemente. Aisha naquele momento encontrava-se imóvel, olhando para o chão, desesperada e a chorar intensamente de desespero.

Quando então o seu pai começa a agredi-la com a vara de forma intensa, acertando golpes sucessivos e violentos em suas costas e nádegas. Aisha sentia o impacto a queimar contra o seu corpo, e começava a chorar e gritar intensamente a cada um daqueles golpes. O seu corpo se virava fisiologicamente para tentar se proteger dos golpes intensos e fortes dados pelo seu pai contra ela, devido a intensa raiva que ele encontrava-se naquele momento. Após lhe acertar 100 golpes e ver que a filha estava a tremer e em prantos, ele para e pede que aqueles homens a coloquem no chão. Aisha ficou deitada no chão a chorar compulsivamente, de dor, remoço e medo do esposo. A sua decisão foi muito mal pensada. Se o seu esposo antes do casamento, já poderia pensar em ser implacável com ela pelo seu passado, imagina agora depois dessa afronta.

Após aquela intensa surra, Aisha pede novamente perdão ao seu pai, beijando a sua mão em posição de respeito a sua autoridade. Após esse gesto ela pede perdão ao esposo, também beijando a sua mão e diz que jamais fará algo daquele modo novamente em sua vida. O esposo a olha de forma direta e com semblante fechado, demonstrando que não estava satisfeito com aquele pedido de perdão. Ao ver a reação do esposo, Aisha abaixa a cabeça, limpa o rosto e vai em direção ao local onde ocorreria o seu casamento.  

Casamento forçado e abusivoOnde histórias criam vida. Descubra agora