A situação de Aisha

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Depois de alguns minutos, o doutor sai daquela sala e vai conversar com Johnson.

- A situação dela é muito preocupante. Como aqui não temos todos os aparelhos necessários para uma avaliação de qualidade, não temos condições de verificar se ela teve algum problema cerebral por ter ficado muito tempo sem respirar. Depois que ela saiu do hospital, antes de ontem, acho que ela não acordou ainda. Aisha estava internada aqui tomando remédios desde a semana passada e nesse tempo ela não acordou para que soubéssemos se ela estava em boas condições cerebrais. Ela havia tido três paradas cardíacas no primeiro dia em que foi internada.

- Meu Deus doutor! Diz Johnson espantado, quando complementa: - O que ela fez para ter tantas paradas seguidas dessa forma?

- Ela tomou todos os remédios possíveis oficial. Aisha estava decidida a se matar e se livrar daquela vida de sofrimento de qualquer forma! Diz Wilian em tom direto.

- Eu não consigo conceber que alguém tão jovem possa ter um sofrimento tão intenso a ponto de tomar uma medida nessas proporções. Responde Johnson, como se não quisesse acreditar no que estava escutando.

- O senhor precisa conhecer um pouco da cultura dessas terras senhor, para entender o que eu estou dizendo. As mulheres aqui depois que se casam se tornam uma propriedade dos homens e eles fazem o que bem entendem com elas, coisas absurdas para a nossa cultura. Responde Wilian.

- Mas, Aisha é muito jovem, quem tem coragem de fazer tamanha maldade com alguém assim?

- Acho que o senhor precisa perguntar para as pessoas quem é Osnin. Eles vão te explicar do que aquele homem é capaz. Eu sei do que ele era capaz porque vi as marcas de agressão que Aisha chegou nesse hospital. Foi uma das cenas mais terríveis que já vi em minha vida. E olha que sou um médico experiente e já atendi muitas mulheres agredidas nesse hospital, mas, igual Aisha, ainda não havia atendido ainda. Diz Wilian em tom direto, quando Johnson balança a sua cabeça de forma negativa, demonstrando intensa revolta.

- O senhor acha que ela vai sobreviver?

- Isso vai depender das 24 horas mais críticas, que são as próximas. Ela parou de tomar os remédios que estavam a estabilizando e não sei por quanto tempo. Eles a abandonaram a própria sorte. O que foi recomendado é que ela tomasse os remédios e os sedativos até que ela se estabilizasse, mas, se eles a abandonaram, ela não estava tomando os remédios necessários e, por esse motivo, ficou frágil como está.

- E o senhor conseguiu re-estabilizá-la doutor?

- Ela teve outra parada cardíaca assim que entrei com ela. Felizmente eu consegui reanimá-la. Ela estava com a pressão muito baixa. Apliquei alguns remédios para subir a pressão, mas ela está subindo de forma muito devagar. Tenho medo de lhe aplicar mais remédios e subir de uma vez, portanto, temos que aguardar ela reagir e esses remédios fazerem efeito, para que ela se estabilize. Depois disso, temos que fazer alguns testes para ver como o cérebro dela está. Espero que Aisha esteja bem! Diz aquele doutor.

- O esposo dela era do Conselho religioso?

- Sim. Era Osnin o esposo dela. Um dos mais respeitados daquele conselho. Mas, ele perdeu a vaga assim que Aisha tentou o suicídio. Para fazer parte daquele conselho todos precisam ter uma moral intacta e Aisha depois de algumas ações foi considerada uma esposa sem moral para aqueles conselheiros, o que fez com que seu marido fosse expulso.

- O que Aisha havia feito para ser considerada sem moral?

- Uma das coisas que ela fez, que fiquei sabendo, foi dizer a uma mulher que estava a ser agredida diariamente pelo marido e que não estava aguentando se sentar no templo devido as dores que estava a sentir. Essa mulher publicou isso em um jornal de grande circulação e Aisha provavelmente foi terrivelmente castigada pelo marido por esse motivo.

- Então era Aisha a mulher que aquela ativista se referiu na reportagem do jornal local. Mas, não é possível que isso seja tão grave assim? Questiona Johnson impressionado.

- Sim. Aquela era Aisha. E graves foram as marcas de violência que ela chegou aqui no hospital oficial. Os enfermeiros ao verem aquelas marcas, ficaram tão impressionados que me chamaram imediatamente. Eu também fiquei perplexo, Aisha estava a ser castigada de forma muito constante para ter marcas tão terríveis em sua pele daquela forma. Como disse ao senhor anteriormente, eu nunca vi coisa igual em minha vida. Eu não sei como essa jovem suportou toda aquela violência e pressão durante tanto tempo! Diz aquele doutor demonstrando-se impressionado.

- Nossa. Toda essa pressão em uma menina dessa idade?

- Aqui, diferentemente da nossa terra Johnson, as mulheres vivem de forma totalmente diferenciada, casando muito jovens e tendo uma responsabilidade enorme após se casarem, especialmente, se o esposo for rico e influente. Aisha foi uma das meninas que sofreu muito com essas pressões. Os homens desse conselho são em sua maioria muito conservadores. Se as suas esposas cometem uma falha, por menor que seja, eles não tem piedade em castigá-las.

- Eu não consigo acreditar que aquela menina passou por tudo isso?

- Pois passou. Segundo conhecidos, Aisha era surrada constantemente pelo marido. Por algumas fases do casamento, escutei de pessoas sérias, que ela chegou a ser castigada diariamente. Diz aquele doutor.

Naquele momento os olhos de Johnson ficam encharcados, ao se colocar no lugar daquela jovem em meio a tanto sofrimento. Quando ele questiona:

- E onde está esse senhor? Eu quero ver ele na minha frente, que vou mostrá-lo que ele precisa encarar um homem de verdade! Diz aquele oficial irado.

- Assim como os outros membros e ex-membros do Conselho Religioso, ele deve ter fugido assim que a batalha era eminente. Todos eles se foram.

- Malditos. Se eu pego um homem desses eu acabo com ele! Diz aquele oficial mostrando muito nervosismo.

- Agora preciso ir senhor. Eu vou monitorando Aisha e lhe dou mais informações. Agora ela está sobre os meus cuidados a tratarei como se fosse minha filha. Eu tinha um carinho muito especial por ela enquanto esteve aqui.

- Eu também preciso ir senhor. Mais uma vez muito obrigado pelo atendimento e pela atenção. Hoje anoite eu retorno para ver como está a jovem Aisha.

- Volte mesmo, vamos torcer para que ela esteja melhor e para que os testes da atividade cerebral dela não demonstrem nenhuma sequela.

- Se Deus permitir os resultados serão os melhores possíveis. Diz Johnson ao se despedir daquele doutor, indo em direção a porta do hospital para contactar com algum dos soldados para que o levassem até a base de comando. 

Casamento forçado e abusivoOnde histórias criam vida. Descubra agora