O susto

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Apenas duas horas depois daquele conversa, três militares da Aliança do Norte entram naquele hospital querendo ver a paciente Aisha. Logo os enfermeiros chamam o doutor Wilian, que os atende imensamente preocupado:

- Olá senhores militares, em que posso ajudar?

- Recebemos uma denúncia do nosso líder religioso de que tem uma jovem nesse hospital chamada Aisha que cometeu ataques contra a nossa religião e precisamos interrogá-la para que ela conte a sua versão dos fatos.

- Eu sou o médico dessa paciente senhor e ela no momento está desacordada em tratamento. O senhor não poderá interrogá-la nesse momento.

- Eu gostaria de vê-la doutor Wilian. Diz aquele militar de forma direta, de certa maneira, intimidadora.

- No momento eu preferiria que os senhores respeitassem esse hospital e a minha paciente senhores. Eu estou dizendo que ela não está acordada e portanto não tem condições de ser interrogada.

- Nós queremos vê-la doutor, foi o que pediu a autoridade máxima dessa cidade e nós faremos isso, com o desejo do senhor ou não!

Wilian se assusta intensamente naquele momento, nem no regime extremista anterior ele chegou a ser afrontado de forma tão extrema. Quando então ele tenta apaziguar as coisas, para evitar que eles tivessem a impressão de que algo estava mesmo errado com aquela jovem, quando diz:

- Tudo bem senhores. Já que querem ver a jovem, vamos, eu os levo até lá. Diz Wilian a caminhar em direção a sala em que Aisha se encontrava. Enquanto caminhava, ele torcia muito naquele momento para que ela estivesse mesmo a dormir para não ser infortunada por aqueles homens. Quando ao chegar em frente a sua maca ele complementa a sua fala: - Essa daqui é Aisha, como os senhores podem ver, ela está sedada, conforme os remédios que eu a ministrei no dia de ontem.

- Porque o senhor a ministrou esses remédios senhor? Questiona um daqueles oficiais.

- Porque ela está passando por problemas psicológicos sérios e tem tido surtos nos últimos dias. Essa jovem há algum tempo não tem falado coisa com coisa senhor. Ela está muito debilitada emocionalmente. Certamente precisaria ser internada ao sair daqui em uma clínica psiquiátrica.

- O que é isso doutor? Questiona um daqueles oficiais, desconhecendo essa especialidade médica.

- Seria um lugar em que se trata pessoas com dificuldade de viver em sociedade por problemas mentais senhor.

- Então Aisha está maluca? Questiona aquele homem de forma direta.

- Nós não usamos esses termos no meu país senhor. Usamos que a paciente precisa de tratamentos psiquiátricos para voltar a viver uma vida normal.

- Entendo. E porque ela veio parar aqui senhor?

Wilian entende que eles já estavam em meio a um interrogatório para pegar elementos para levar Aisha a um julgamento futuro. Dependendo do que ele dissesse ali Aisha poderia ter sérios problemas com a justiça religiosa instalada naquela cidade, quando ele muito preocupado diz:

- Bem, não fui eu que fiz os tratamentos iniciais dela. Ela chegou aqui muito debilitada, com baixo peso e muito frágil, parece que estava doente a dias. A minha impressão é que ela estava com esses problemas em sua mente há algum tempo e ninguém procurou nada para que ela fosse melhor tratada, por isso ela chegou aqui nesse estado e ultimamente tem tido surtos constantes.

- Recebemos a notícia de que essa jovem tentou o suicídio senhor. Tem alguma chance disso ter acontecido?

Wilian nesse momento treme todo o seu corpo. Ele sabia que dependo daquela resposta aqueles militares seriam implacáveis com Aisha daquele momento em diante, então ele teria que pensar rápido e passar credibilidade em sua fala:

- De acordo com as informações que recebi e pelos meus conhecimentos, não foi isso o que aconteceu e acho que não tem chance disso ter acontecido. Aisha chegou aqui com problemas psicológicos e tentativas de suicídio não costumam trazer essas consequências em muitos casos. Diz ele, sabendo que a sua fala não era verdadeira, mas tentando proteger aquela jovem.

- Por quanto tempo ela está assim?

- Desde o último surto. Isso aconteceu aproximadamente há umas 12 horas.

- E o senhor tem alguma perspectiva de quando ela vai retornar?

- Da última vez que ela acordou, nós retiramos os remédios de forma muito rápida, os tranquilizantes. Por isso ela teve um número ainda maior de surtos, piorando o estado da sua saúde mental. Eu vou trabalhar para que ela não tenha mais esses problemas muito extremos. Portanto, eu retirarei o mínimo possível da dose diária dela de calmantes que ela está tomando por dia. Para que o seu retorno seja bem gradativo dessa vez. De acordo com a minha experiência, ela deve retornar a consciência, em certa medida, daqui três ou quatro dias.

- Vou deixar aqui o meu telefone doutor. Assim que ela voltar ao normal, por favor me ligue. Diz aquele oficial ao anotar o telefone em um papel e passar em seguida para Wilian.

- Pode deixar que ligo sim. Diz o doutor ao levar aqueles militares até a porta do hospital e se despedir deles. Quando ele fez isso, que saiu da presença deles, ele suspirou profundamente, limpando o suor de sua testa, sem saber o que aconteceu e de onde partiu aquela denuncia. Aisha naquele momento corria mais riscos do que nunca naquele novo contexto. 

Casamento forçado e abusivoOnde histórias criam vida. Descubra agora