A terça-feira

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Haviam se passado dois dias da punição de Osnin e já era terça-feira, dia em que a sogra de Aisha afirmou que ela tinha que arrumar toda aquela casa. Aquela jovem acorda, tenta se sentar, mais ainda sente muitas dores nas partes que foram atingidas na punição do seu esposo. Diferentemente de Parisa, a esposa mais jovem, não teve ajuda de ninguém em seus cuidados para a recuperação e também não passou nenhum remédio cicatrizante naquelas feridas, o que fez com que elas não se curassem tão rapidamente. Mesmo em meio a muitas dores, ela se levanta, vai até o banheiro fazer a sua higiene pessoal e depois desce as escadas, muito vagarosamente, tentando evitar que as dores musculares das partes atingidas se tornassem insuportáveis.

Ao chegar no primeiro andar da casa, percebe um clima muito ruim. Todas as mulheres a olham com desdém e de forma ameaçadora, quando ela se senta e começa a comer e a beber os chás típicos do local. Ninguém diz mais nada. Parisa e Sonya, depois de algum tempo, apenas se levantam e despedem da sogra dizendo que iriam no mercado a comprar alguns produtos. Naquele espaço ficam por alguns minutos Aisha e Marian, que começa a arrumar a cozinha.

Após fazer a primeira refeição do dia, Aisha pega os materiais de limpeza e sentindo muitas dores começa a limpar o segundo andar daquela casa. O seu sofrimento era enorme, qualquer movimento que fazia com suas pernas, ela sentia dores quase que insuportáveis, tamanha a violência que havia sido punida pelo esposo nos dias anteriores.

Mesmo com tantas dores ela consegue resistir e arrumar toda a parte de cima daquela enorme casa, ainda durante a manhã. No almoço ela se sentou junto a todos e viu Osnin chegar muito preocupado com um documento em suas mãos. Ao sentar na mesa a sua preocupação se tornou mais transparente e a sua mãe, que era mais acostumada a questioná-lo sobre os fatos, pergunta:

- O que está havendo meu filho que parece tão preocupado?

- O Conselho Religioso Nacional nos enviou uma carta dizendo que houve um atentado terrorista na cidade de Nova York no domingo minha mãe e estão acusando grupos daqui das nossas terras de terrorismo e de serem responsáveis por esse ataque.

- Não diga meu filho. Mas, isso não faz o menor sentido. Diz aquela senhora com um semblante preocupado.

- E não faz mesmo. Há tempos os nossos líderes religiosos têm dito que o ocidente estava a querer criar uma guerra religiosa contra o nosso povo, me parece que esse momento chegou e temos que estar preparados para essa guerra, para defender as nossas terras e os nossos irmãos de religião. Diz aquele senhor extremamente religioso e conservador.

- Não acho que vai haver guerra meu filho. Essa história não faz o mínimo sentido. O que pessoas do nosso povo iriam fazer lá nos Estados Unidos? Questiona novamente aquela senhora, enquanto as mulheres estavam atentas a aquela conversa e ao mesmo tempo apreensivas.

- Eu também não sei minha mãe, mas o conselho religioso irá se reunir amanhã para falar sobre essa conjuntura, estamos correndo risco eminente de termos uma guerra no nosso país, assim como tivemos com a Russia há anos atrás. Diz Osnin em tom de preocupação.

As mulheres se assustam intensamente com aquela fala. A única que não entende muito bem o que estava a acontecer era Aisha, que nunca tinha escutado falar das guerras as quais aquele país já havia passado e as consequências negativas que elas causavam, especialmente, para as mulheres e crianças.

Naquele dia todos almoçaram muito preocupados. Osnin apenas almoçou e voltou para o trabalho, pois, teria algumas reuniões na parte da noite e não sabia que horas iria chegar em casa. Aisha continuou então a arrumar a parte de baixo da casa no período da tarde. Por volta de umas 15:00 horas, novamente aquelas duas esposas saíram, para comprar coisas no mercado. Aisha já havia terminado o seu trabalho e ficou a brincar com as crianças.

Quando Parisa e Sonya chegaram, muito revoltadas com Aisha pela punição que a esposa mais velha havia sofrido, elas chamam as crianças para o quarto de forma abrupta, ao verem que estavam a brincar com aquela jovem garota.

Aisha não entende muito bem o porque daquilo. Todas as crianças sobem com as suas mães para os seus quartos e tudo que se escuta depois é uma intensa gritaria vinda do quarto das duas esposas mais velhas de Osnin. Sonya e Parisa estavam a castigar os seus filhos severamente por eles estarem a brincar com Aisha mesmo tendo sido proibidos pelas suas mães. Elas aplicaram um castigo severo aos filhos mais velhos, pois, eles foram colocados como responsáveis por não brincar mais com Aisha e nem deixar que os filhos mais novos brincassem.

Ao ver aquela gritaria vinda de dentro dos quartos e saber que aquilo se tratava de uma severa punição às jovens crianças, Aisha assustada questiona a sua sogra:

- Senhora, porque as mães estão a surrar os seus filhos tão severamente. Pobre crianças, estão a gritar e chorar muito. Diz Aisha com o coração partido, por amar aquelas crianças.

- Nesse ponto eu não entro Aisha e é melhor que você também não converse sobre isso. Quando tiver os seus filhos, se tiver, vai entender que ninguém deve se intrometer na educação deles. Se elas acham que devem ser castigados, que os castiguem.

- Tudo bem senhora. Eu não direi mais nada sobre isso. Diz Aisha com um semblante triste. Aquelas punições duraram mais alguns minutos, até que pararam o choro e a gritaria daquelas crianças. Elas ficaram reclusas no quarto pelo restante daquele dia, descendo apenas para o jantar.

Na hora em que desceram , o semblante delas era fechado e passaram por Aisha sem ao menos a cumprimentar, mesmo na presença de Osnin, algo que não era comum, pois aquelas crianças amavam aquela jovem.

Aisha não entendeu nada, muito tranquila de tudo e sem experiência de vida, não entendia que o que aquelas mulheres queriam ao surrar intensamente os seus filhos é que eles não tivessem mais contato com Aisha e que ela ficasse completamente isolada naquela casa, sem relação com o esposo, com a sogra, com as demais mulheres e com as crianças. Tudo aquilo seria terrível demais para aquela jovem cheia de amor e sem a possibilidade de poder distribuí-lo a mais ninguém daquela família. 

Casamento forçado e abusivoOnde histórias criam vida. Descubra agora