Osnin chega em casa para o jantar e sua mãe vem curiosa para saber o que havia ocorrido no conselho. Conhecendo os conselheiros, ela tinha certeza que Aisha seria condenada a punição pública. Mesmo sendo uma humilhação para a família, ela preferia ser humilhada e ver Aisha sendo chicoteada em público do que ela ser absolvida. Em sua cabeça ela faria questão de estar presente para desfrutar a surra que a sua nora levaria.
Osnin diz que estava cansado, que iria tomar um banho, prometendo a todos que depois do jantar contaria o que havia ocorrido naquela reunião. Aisha nem sabia que aquela reunião tinha tanta importância e que ela poderia ser punida de acordo com o resultado dela. Estava totalmente tranquila sem saber de nada.
O jantar ocorre com normalidade. Com a senhora Marian demonstrando-se a mais ansiosa daquela mesa, querendo saber qual era o resultado daquela reunião. Quando todos finalizaram, Osnin mandou que as crianças fossem brincar e então começou a falar dos resultados da reunião:
- Bem, a reunião de hoje foi sobre a minha nova esposa, foi sobre você Aisha. Diz Osnin.
- Eu sabia senhor. O senhor falou ontem. Mas o que eles queriam comigo? Questiona Aisha sem entender nada do que estava acontecendo.
- Eles estavam discutindo se você merecia ser punida publicamente por ter tentado fugir do casamento ou não? Diz Osnin de forma direta.
- Punida de novo? Diz Aisha completamente assustada após descobrir o assunto a ser tratado naquela reunião.
- Sim Aisha, parte dos conselheiros estavam inclinados a punir você até o ultimo momento.
- E o que aconteceu? Questiona Marian, interrompendo o seu filho, ainda ansiosa querendo saber o resultado. Nesse momento as outras esposas ficam a observar.
- Qual seria a minha punição senhor? Questiona Aisha já desesperada.
- Eles estavam querendo punir você com 150 chibatadas Aisha. Responde Osnin.
- Nossa. Eu não aguento tudo isso! Diz Aisha com um olhar de pavor.
- E qual foi o resultado final. Questiona novamente a mãe de Osnin.
- No final Rachid entrou no meio e conseguiu defender que Aisha, como ainda não era casada, deveria ser julgada pelos homens de sua terra e não daqui. E a maioria do conselho concordou. Vamos fazer uma carta explicando que Aisha já foi castigada, por duas vezes, pelo pai dela e por mim. Além disso, eu vou escrever que estarei de olho em Aisha, me comprometendo a puni-la caso ela haja contra os nossos costumes sociais e religiosos. Diz Osnin.
- Eu não vou tentar mais isso senhor. Muito obrigado por me defender hoje. Eu não aguentaria tamanha severidade em minha punição.
- A sua punição seria dividida em três vezes Aisha, uma por semana, para não lhe ferir a ponto de causar qualquer risco de que você perdesse a vida. Mas, de qualquer forma, seria uma punição muito severa para você. Além do mais, isso afetaria toda a reputação da nossa família e a minha também como conselheiro. O resultado não foi muito bom, porque teremos que fazer essa carta. Entretanto, foi dentro do esperado. Dos males o menor. Diz Osnin.
- Veja Aisha o que você fez. Repreende Marian. Nem entrou pra nossa família e já está a nos fazer passar uma vergonha pública. Você tem sorte que eu sou mulher, porque se fosse minha esposa, lhe daria uma outra surra exemplar pelo que está fazendo a nossa família passar. Diz aquela senhora em tom irado olhando fulminante para Aisha.
- Peço perdão a todos vocês, especialmente, ao meu marido. Eu não sabia que isso era tão sério assim. Diz Aisha com o rosto corado, de vergonha.
- Tudo aqui é sério Aisha. Responde Parisa, quando complementa: - Você deu sorte que o seu pai e o meu esposo foram muito bondosos com você. Em qualquer outra família a sua punição teria sido muito mais severa. Finaliza aquela senhora com um olhar condenador.
- Família, já passou. Felizmente, Aisha não será mais punida. Agora temos que voltar a harmonia que sempre tivemos, para não termos mais problemas no futuro. E Aisha, não ouse mais cometer nenhum erro nesse sentido. Como te disse, dessa vez fui brando, da próxima serei exemplar. Diz Osnin.
- Sim senhor. Eu não farei nada que o senhor não me autorize em público. Diz Aisha se mostrando certa de que esse era o melhor caminho.
Depois daquela conversa, as mulheres organizam a cozinha, se preparam para deitar e partem com os seus filhos para os seus quartos, enquanto Osnin vai também para o seu, ficando apenas Aisha e sua sogra para finalizar a arrumação na cozinha. Então a sogra diz a Aisha:
- Não pense que eu te perdoei por tudo que tem feito a nossa família passar Aisha. Daqui pra frente será tratada como merece. Como uma terceira esposa do meu filho. Diz aquela senhora.
Aisha se sente triste, mas não diz nada, mantendo-se calada, até que é hora de ir para os seus aposentos. Ao chegar no seu quarto ela pensa sozinha, nas dores que sentiu ao ser punida pelo pai, que certamente a bateu de forma controlada, quando ela se negava a contar quem era a família que havia lhe dado aquela bíblia. Ela já tinha presenciado castigos públicos, os homens que os executavam, o aplicavam com a máxima força possível. A dor das mulheres punidas era perceptível, bem como o severo impacto. Aisha tem certeza que ela não aguentaria tamanha punição.
Então ela pensa e percebe que precisava ter mais cuidado daqui para frente. Que aquela cultura era muito mais severa do que a sua e, que, provavelmente, se fizesse algo de errado, ela poderia ser punida pelo marido e ainda em público, se aquele conselho decidisse por isso. Ainda em seu pensamento, Aisha não sabe se teria forças para aguentar tantas punições. Depois de muito pensar em sua vida e nos riscos que correu, ela consegue pegar no sono e dormir profundamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Casamento forçado e abusivo
General FictionAisha era uma menina que morava em um pequeno vilarejo no norte do Afeganistão. A população de sua região era muito conservadora e extremamente religiosa. Ao chegar na pré-adolescência, ela conheceu um jovem garoto de sua escola, o qual começou a g...