Enquanto chorava em seu sofá de tristeza, vinha em sua cabeça por vários momentos, o pensamento de que se ela tivesse tomado mais cuidado com aquele livro, Caivan não teria se mudado com a sua família. Nesse momento, ela fica então extremamente nervosa. Começa a puxar a sua roupa, desesperada, que toca intensamente às feridas em suas costas, causando uma dor extrema em seu corpo. Era como se Aisha quisesse se punir ainda mais intensamente, por ter cometido o erro de deixar aquele livro em um local acessível ao seu pai.
Depois de fazer esses movimentos, em meio a uma dor intensa, ela deita novamente no sofá a chorar compulsivamente. Por aquele movimento extremo de suas roupas a apertar os seus machucados, novamente o sangue começa a escorrer de suas feridas que estavam em processo de cicatrização, mas, parte delas foram novamente rompidas devido ao contato extremo e forçado com suas vestimentas.
Depois de muito chorar, Aisha olhou pela janela e viu que já se aproximava a hora de seu pai chegar e ela não havia feito nenhum dos seus afazeres domésticos. O seu corpo treme de medo intensamente. O instinto de sobrevivência faz com que Aisha não sinta mais dores, de tanto medo que estava de ser punida novamente por não ter realizado as tarefas de casa. Rapidamente ela arruma toda a sua casa e começa a fazer o jantar.
Quando o jantar já estava quase pronto, ela nota que o seu pai estava a chegar em casa e ela se sente aliviada por já estar com todos os serviços bem adiantados. O seu pai entra e não diz nenhuma palavra, indo diretamente para o seu quarto.
Após fazer a sua higiene pessoal o seu pai vai até as panelas e vê que o jantar já estava preparado. Se serve e senta na mesa, ainda sem trocar uma palavra com a filha, deixando o clima naquele ambiente bastante ameaçador para aquela jovem. Ele janta calmamente e Aisha prefere nem trocar olhares com ele, de tanto medo que estava.
Quando ele finaliza o jantar, vai então para a sala e chama Aisha rispidamente:
- Aisha!
- Oi papai, estou aqui. Diz Aisha ao entrar na sala, em pé na frente dele.
- Você ainda tem um segredo a me contar e, de hoje, aconteça o que acontecer, esse segredo não passa. Já te dei dois dias para me contar, prometo não dar o terceiro. Quem te deu esse livro proibido? Questiona aquele senhor de forma intensamente ameaçadora.
- Papai, eu pensei muito durante o dia. Hoje acordei totalmente sem forças. As suas punições foram muito cruéis contra o meu corpo. Tudo aquilo estava insuportável ontem. Diz Aisha com um olhar triste.
- Mas você não me respeita Aisha, se fiz o que fiz foi porque você mereceu por não me contar a verdade.
- Pois bem papai. Eu vou então lhe contar a verdade. Eu não aguento mais nenhuma punição. Hoje eu desmaiei nessa casa de tanta dor que estava a sentir. Não suportaria mais tanta violência.
- Ainda bem que você entendeu isso Aisha. Eu não gosto de te punir dessa forma, mas quando me desrespeita, você não me deixa outra opção. Diz aquele senhor de forma direta.
- O jovem que me deu aquele livro foi Caivan. Diz Aisha de forma direta a chorar ao pronunciar aquelas palavras. Aisha tinha muito sentimento por aquele jovem e o denunciar daquela forma doeu muito em seu coração.
- É da família daquele senhor que mora a três quadras daqui? Questiona seu pai.
- Sim papai. Diz Aisha a chorar novamente.
- Pare de chorar agora Aisha, aqueles não merecem as suas lágrimas. Diz Mohamed.
Aisha tenta controlar o seu choro, mas inicialmente não consegue. Ao ver que o seu pai estava a se irritar e se aproximar de forma ameaçadora. Ela então aperta a sua boca, os seus olhos, e tenta controlar todo aquele choro a força. O seu pai se aproxima ainda mais e ela responde:
- Já parei papai. Eu já parei.
- Dê adeus a esse seu amigo. Vou chamar os anciões agora mesmo. De hoje aquela família herege não escapa. Eu vou te salvar dessa Aisha. Não direi a eles que foi você que descobriu isso, para que eles não te interroguem, ou poderiam saber toda a verdade e te condenar. Mas, saiba que estou cometendo um pecado ao fazer isso, por sua vida. Daqui pra frente, se cometeres qualquer erro contra a nossa fé, aguentará as consequências, pois eu serei o primeiro a te denunciar.
- Perdão papai. Me perdoe por tudo que fiz. Diz Aisha a se ajoelhar nos pés de seu pai.
- Está avisada. Diz Mohamede ao passar por cima da filha que estava ajoelhada em sua frente, sem tomar conhecimento dos seus pedidos de perdão, quando vai em direção ao quarto, pega as suas roupas religiosas e passa ao lado dela, que estava a chorar no chão sem dizer uma só palavra. Ele então vai em direção a porta a abre e a fecha, caminhando até a casa dos religiosos mais próximos que viviam e comandavam os rituais religiosos naquela comunidade.
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Casamento forçado e abusivo
General FictionAisha era uma menina que morava em um pequeno vilarejo no norte do Afeganistão. A população de sua região era muito conservadora e extremamente religiosa. Ao chegar na pré-adolescência, ela conheceu um jovem garoto de sua escola, o qual começou a g...