O dia 09 de novembro de 2001

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Logo que Osnin acorda ele vai até o hospital para saber informações de como estavam os atendimentos naquele espaço, quando ele recebe a informação de que Mazar-e-Sharif havia sido completamente dominada. Os poucos soldados que ainda estavam em resistência foram mortos na batalha da madrugada e o restante fugiu para a cidade de morada de Osnin. Naquela grande cidade haviam poucas casas que ainda tinham alguma resistência contra os invasores, tentando realizar atentados, mas aquelas ações eram insignificantes. Aquela importante cidade havia sido dominada pelo exército inimigo com uma facilidade e rapidez enorme. Isso foi o que mais impressionou as pessoas leais ao regime vigente.

Aquela informação preocupou intensamente aquele homem. Ele ficou agora na expectativa para saber qual a próxima cidade seria atacada pelos rebeldes. Osnin deveria preparar aquela cidade para caso ela fosse a próxima a virar campo de batalha. Pensando nessa possibilidade, ele sai então daquele espaço e vai conversar com o chefe do Conselho Religioso Nacional. Aquele senhor estava escondido e conversava apenas através de um rádio comunicador via satélite, poucas vezes por dia, com medo de ser interceptado e localizado.

Naquela conversa Osnin demonstra extrema preocupação, quando aquele homem diz algo que o deixa ainda mais desesperado. Ele diz que a primeira ação que os rebeldes tem tomado ao invadir as cidades é ir as casas dos conselheiros dos conselhos religiosos locais e matar todos, juntamente com as suas famílias inteiras, inclusive mulheres e crianças. Na concepção daqueles rebeldes esses líderes ao condenarem os seus soldados e simpatizantes a morte eram os grandes responsáveis pelo sofrimento de suas famílias e, portanto, não mereciam viver após aquelas cidades serem dominadas. Osnin nesse momento ficou completamente desesperado. A sua família e a de seus amigos com Rashid, por exemplo, estavam em um risco extremo, já que aquela cidade tinha um número pequeno de soldados e não conseguiria resisitir a tempo de que eles pudessem fugir em caso de um ataque maçisso do exército rebelde. A vida deles e de suas famílias poderiam estar com os dias contados dependendo da ação daqueles rebeldes.

Aquele chefe do Conselho Religioso Nacional, pediu para que ele não dissesse isso a ninguém, porque isso poderia levar os conselheiros e suas famílias ao pânico. Eles poderiam sair em fuga rapidamente, deixando aquelas comunidades sem comando e ainda mais vulneráveis a insurreições e ao domínio por parte dos rebeldes. Osnin concorda com ele, dizendo que manteria essa informação em segredo.

O líder daquele conselho então diz a Osnin que está monitorando os rebeldes e que quando eles definissem para que ponto iriam direcionar os seus ataques que ele informaria a Osnin imediatamente para que ele pudesse se preparar. Aquela cidade tinha aproximadamente 5000 soldados para a sua defesa, muitos deles com pouco treinamento, pois foram recrutados as pressas nos últimos dias. Apenas contra a cidade de Mazar-e-Sharif, haviam sido conduzidos mais de 15 mil soldados, entre americanos e rebeldes, extremamente bem armados e equipados, com apoio aéreo para a tomada daquela cidade. Com 20% daquele poderio os rebeldes conseguiriam dominar com facilidade aquela cidade, pela sua capacidade bélica ser muito superior ao exército leal ao regime vigente. Osnin sabia disso e estava desesperado.

Ele então diz a aquele senhor que aguarda novas recomendações e eles encerram aquela chamada. Ao fim daquela conversa Osnin estava suando de tanta preocupação e medo. Perder a sua família era o ponto que mais aterrorizava Osnin naquele momento.

Ao sair daquele espaço, Osnin vai a casa dos homens mais ricos daquele vilarejo, oferecer a sua loja para venda, pois em caso de guerra naquele local, ele precisaria de recursos para uma possível fuga com a sua família. Ele estava a oferecer aquele negócio por 12% do que valia antes do início da guerra. Pouco mais da metade do que ele havia recebido em oferta, quando a sua mãe pediu para que ele recusasse.

Após consultar a todos aqueles homens mais ricos que ele imaginava poder comprar o seu negócio ele recebeu apenas negativas, voltando para casa desesperado. Nem tentando vender o seu negócio a preço extremamente abaixo do mercado ele estava conseguindo compradores. Esse valor não cobria nem metade do valor de mercadorias que ele tinha em estoque, era impressionante como tudo havia se desvalorizado ao extremo naquele país. O dinheiro não circulava para produtos que não fossem essenciais, as perdas para os comerciantes que vendiam outros produtos eram sem precedentes.

Ao chegar em casa para almoçar a sua preocupação e desespero eram perceptíveis. A sua mãe o questiona algumas vezes durante o almoço, porque ele estava tão preocupado e ele, tentando evitar que ela tivesse emoções fortes, prefere não dizer o que se passava, afirmando sempre que estava tudo bem.

Após almoçar, ele vai em direção ao mercado para conversar com os seus amigos sobre a possibilidade de eles comprarem o seu negócio. Ele já estava disposto a vendê-lo por 10% do valor de mercado antes do início da guerra, desde que a negociação fosse realizada em ouro, que naquele momento era muito mais seguro de se ter, por não perder tanto valor devido a desvalorização da moeda.

Ao chegar naquele local ele novamente é surpreendido por comentários que estavam sendo feitos contra a sua família. Alguém que estava naquele hospital espalhou que Aisha havia sido a causadora do infarto sofrido por Marian após a mandá-la para o inferno e a acusar de demência. Provavelmente, alguém escutou algum diálogo daquela família para saber aquela informação e espalhar a conversa para a comunidade.

Osnin tentou negar aquilo para todos, mas, o estrago a sua reputação e de sua família já havia sido feito. Aquela história já estava na boca de toda aquela população.

Aquele senhor fica revoltado com aquelas conversas e volta a sentir um ódio profundo de Aisha por fazê-lo passar por aquela situação de ter que explicar para todos o que ocorreu e negar mais aquele escândalo.

Nesse mesmo dia, durante a tarde, foi realizada mais uma reunião do conselho e outros 30 prisioneiros foram condenados a morte imediata, por maioria de votos, de acordo com as novas recomendações recebidas pelo Conselho Religioso Nacional.

Agora que uma invasão era eminente, aquele regime precisava mostrar forças, para que ninguém ousasse se rebelar, antes daquela invasão e, que aquele regime, naquela cidade, pudesse ruir por dentro, a partir de uma insurreição interna. Essa ação enérgica trazia medo a todos, mas ao mesmo tempo trazia também o ódio das famílias de pessoas mortas por fuzilamento em praça pública. A medida que eles ordenavam mais mortes, mais famílias eram envolvidas, por terem parentes e maior ficava o rancor de parte importante daquele população contra os membros daquele conselho e também contra aquele regime vigente. Aquelas execuções eram aterrorizantes de se ver tamanha a crueldade daquele ato.

Casamento forçado e abusivoOnde histórias criam vida. Descubra agora