O resgate

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Parisa vai a casa de um dos vizinhos e o chama de forma desesperada. Ele então a atende e ela diz que Marian estava a passar mal e que precisava ser levada imediatamente ao hospital. Quando aquele senhor chama um de seus irmãos e se dirige correndo até a casa de Osnin, pegando aquela senhora, que encontrava-se quase sem respirar e completamente imóvel, a colocando no carro e a levando rapidamente para o hospital.

Nesse momento, ficam todos em casa perplexos. Um dos filhos de Parisa questiona a Sônia:

- A vovó vai ficar bem? Questiona Alexsander.

- Vai sim. Ela vai ficar bem. O magnifico está com ela. Ela teve apenas um mal estar e com pouco tempo estará bem e voltará para casa. Diz Sônya esperançosa de que aquilo que ela estava a dizer fosse verdade.

Aisha ao escutar aquela questão fica com um imenso medo e sobe as escadas em direção ao quarto chorando intensamente. Aisha nunca havia sentido tanto medo em sua vida. Nem no dia em que viu que estava nas mãos de Marian, correndo o risco de ser denunciada por adultério, ela sentiu tanto medo o quanto estava a sentir naquele momento. Ela sabia o quanto Osnin era cruel e sabia também que quando ele retornasse ele saberia por Parisa exatamente o que aconteceu naqueles dias. Aisha sente que estava completamente perdida naquele momento! Ela chega em seu quarto e tudo que faz é chorar enquanto sentia o seu corpo a tremer de medo.

Sonya estava muito preocupada com toda aquela situação. Ela imaginava o sofrimento que Aisha estava a passar naquele momento. Mesmo com o ataque que Marian sofreu, ela imaginava que Aisha passava por uma situação ainda pior do que aquela senhora que, pelo menos, naquele momento, estaria no hospital a ser medicada. Aisha, na situação em que se encontrava, era apenas desespero, porque, sabia que dependia da vida daquela senhora e que de qualquer forma seria castigada intensamente pelo marido, se ela ficasse bem ou não. Sônia naquele momento não queria ser Aisha!

Marian chega no pequeno hospital da cidade e o médico vê aquela senhora e pede para a levar imediatamente para uma sala com o maior número de equipamentos possíveis, pois ele sabia que a situação daquela senhora era grave pelos sintomas. Parisa fica naquele local para acompanhar esses primeiros procedimentos e saber notícias da situação de sua sogra. O hospital daquela cidade era muito arcaico e sem muitos equipamentos, como a maioria dos hospitais do Afeganistão naquele momento histórico. Parte dos atendimentos eram realizados por equipes da organização Médicos sem fronteiras e outra parte era realizada por médicos da própria região.

Nesse tempo, Sônia chama os seus filhos para rezar pela saúde daquela senhora e todos rezam intensamente naquela sala. Aisha depois de muito chorar, desesperada, faz o mesmo. Reza intensamente pela saúde de Marian, pois, o quanto antes ela melhorasse, melhor seria para ela. Em meio aos seus pensamentos, ela se arrepende intensamente por ter afrontado aquela senhora daquela forma nos dias anteriores. Mas, agora não havia mais o que fazer. Ela já havia equivocado nesse sentido. O que poderia fazer nesse momento era apenas rezar para que Marian pudesse melhorar logo e para que Osnin tivesse compaixão dela quando ele chegasse de viagem e soubesse o que aconteceu naquela casa que levou aos problemas de saúde de sua mãe. Ao relembrar que Osnin iria retornar em algum momento, o corpo de Aisha arrepiava intensamente de medo e as lágrimas saiam dos seus olhos de forma automática. O pavor e a ansiedade de Aisha era algo incontrolável naquele momento.

O médico então aplica alguns remédios naquela senhora e ela começa a reagir depois de alguns minutos, tendo os seus sinais vitais estabilizados com o tempo. E então ele vai falar com Parisa:

- A senhora que veio acompanhando a senhora Marian?

- Sim senhor. Eu que vim acompanhando ela. Como ela está?

- Ela está um pouco melhor agora. Aplicamos alguns remédios. O que ela teve foi um princípio de infarto do coração. Mas, graças ao magnifico a veia não foi completamente obstruída. Se tivesse sido totalmente interrompida, ela poderia ter morrido. Mas, ela ainda corre risco. Nas próximas horas podem ocorrer novos pequenos infartos naquela parte. O coração dela está com uma das artérias bem obstruídas, mas, pela idade, acho que o ideal não é fazer nenhuma cirurgia no momento. Acho que o risco é maior no procedimento cirúrgico do que ela cuidar melhor da saúde daqui pra frente, com a estrutura médica que temos nesse hospital. Como estamos em meio a uma guerra, não há como ela ir para um hospital mais seguro o qual ela teria condições de fazer a cirurgia sem maiores problemas. O recomendável para ela era uma ponte de safena.

- Nossa senhor! Responde Parisa assustada, quando complementa a sua fala: - Ela então ainda corre risco?

- Sim. Ela ficará aqui conosco por alguns dias, até termos certeza que tudo se estabilizou. Depois disso daremos alta para ela.

- E o que causa isso doutor?

- Isso pode ser causado por muitas coisas. Mas, os principais fatores de causa estão lidados a alguma emoção forte. Como a artéria dela está bem obstruída, ela já está com uma pré-disposição a essas sensações de falta de ar ou desmaios. Em situações de estresse ou emoções fortes, essa reação e, até mesmo, uma mais forte que pode a levar a morte, tende a acontecer. Portanto, ela deve evitar emoções fortes daqui pra frente.

- Eu entendo senhor. Eu passarei essas informações ao meu marido assim que ele chegar.

- Osnin não está em casa?

- Não. O meu marido está em viagem senhor, mas deve estar retornando nos próximos dias.

- É bom que ele esteja presente para cuidar de sua mãe no dia em que ela receber alta, ela ficará um pouco debilitada nos primeiros dias, até que volte ao normal. Será importante o apoio dele. Mas, só para que eu saiba, ela passou por alguma emoção forte antes de sentir isso? Questiona aquele doutor.

- Ela estava meio chateada com uma das esposas do meu marido quando isso aconteceu senhor. Não foi nada demais, mas ela se sentiu triste pelo ocorrido, por isso ela sofreu esse mal. 

Parisa tentou ser muito discreta naquela fala, pois sabia que a reputação de seu marido dependia disso. Ela evitou dizer sobre o conflito entre Marian e Aisha, dizendo que ela ficou chateada com uma situação e por isso passou mal, pois sabia que se dissesse a verdade, aquele conflito poderia ser espalhado naquela sociedade e Osnin poderia ter problemas para contornar a situação. Todas as mulheres naquela sociedade tinham muito receio com relação ao que diziam, pois a reputação em uma sociedade extremamente vigiada como aquela, poderia ser arranhada por qualquer motivo e quando isso acontecia, normalmente, as mulheres eram responsabilizadas pelos seus esposos e castigadas por eles.

- Isso deve ser evitado. A senhora Marian daqui pra frente não pode sofrer nenhuma emoção forte ate que tenha condições de ir para um hospital mais estruturado e fazer os exames necessários e o procedimento cirúrgico se o médico recomendar. Eu preciso ir porque necessito atender outros pacientes. Responde aquele doutor.

- Muito obrigado senhor. Tomaremos todo o cuidado para que ela não tenha mais nenhuma emoção forte daqui pra frente.

- Façam isso. É muito importante para a saúde de dona Marian. Diz o doutor em despedida.

Nesse momento Parisa resolve conversar com uma das enfermeiras dizendo que iria para casa para pegar algumas roupas e que retornaria rapidamente para o hospital. Ela precisava conversar também com Rachid que era o melhor amigo de Osnin e morava na mesma rua de sua casa, para saber se havia alguma previsão para o retorno de seu esposo, já que agora a sua mãe estava internada e precisava muito dele. 

Casamento forçado e abusivoOnde histórias criam vida. Descubra agora