No dia seguinte, Aisha acorda às 06:00 da manhã, animada, para preparar o café para toda a família. Ela se arruma, ficando muito linda para o seu esposo, desce, prepara a mesa da forma mais bela que conseguiu, tentando surpreender a todos pelo seu ótimo trabalho.
Osnin desce primeiro, acompanhado de sua mãe. Ele teria pouco tempo para tomar o seu café, pois precisava estar presente na reunião do Conselho Religioso, que seria às 08:00 horas.
Os três então se sentam na mesa do café. Aisha estava com um sorriso irradiante. O seu esposo logo que chegou a cozinha, a cumprimentou de forma carinhosa. O que deixou a sua mãe insatisfeita de imediato. Marian então sentou a mesa e começou a criticar toda a bela arrumação que Aisha havia feito para o café da manhã:
- Nossa, que mesa horrível! A sua mãe não lhe ensinou bons modos e como arrumar uma mesa menina? Questiona aquela senhora de forma abrupta.
Nesse momento Aisha estava sentada a mesa a servir o seu café, quando a bateu uma tristeza imensa após a fala daquela senhora, que fez com que seus olhos encharcassem imediatamente, quando ela responde:
- Não senhora. Infelizmente a minha mãe morreu no parto e não tive oportunidade de conhecê-la. Quando logo aquelas lágrimas se tornaram mais intensas e começaram a rolar pelo rosto de Aisha de forma incontrolável. A jovem então pede licença, sobe as escadas a chorar compulsivamente e vai para o seu quarto.
Aquela senhora faz uma cara de quem não entendeu nada e questiona ao filho:
- Uai. O que eu fiz?
- Mãe. Tenha mais paciência com Aisha. Com o tempo ela aprende como as coisas funcionam aqui nessa casa. Ela é muito jovem e não teve mãe. Temos que ter paciência com ela. Diz Osnin.
- Eu não disse nada demais meu filho. Só que essa mesa está uma bagunça, como está. Além disso, esse café está horrível. Diz Marian.
- Eu não achei. Acho que o café está muito bom. Diz Osnin.
- Eu to achando que essa mulher está conseguindo te enfeitiçar. Diz Marian.
- Claro que não mamãe. Eu jamais deixaria que isso acontecesse. Eu só acho que temos que ter um pouco de paciência com ela. Ela tem apenas 14 anos.
- Eu quando tinha essa idade eu já era casada com o seu pai e cuidava de toda aquela casa sozinha. Diz aquela senhora.
- Os tempos mudaram minha mãe. Diz Osnin.
- Para pior meu filho. Não se fazem mais esposas como antigamente. Por isso fui contra esse casamento desde o início. Eu disse que essa esposa só iria te trazer desgosto. Mas você não me escutou.
- Mamãe ela só errou uma vez e prometeu não errar de novo. Temos que dar um voto de confiança a ela. Se ela errar de novo, aí sim vou concordar com a senhora que ela deve ser severamente castigada por toda a nossa família. Mas, acho que ela merece um voto de confiança. Farei a defesa dela hoje no conselho.
- Espero mesmo que você esteja certo em dar um mais um voto de confiança para essa menina. Diz Marian de forma desconfiada.
- Todos merecemos mais um voto de confiança minha mãe. Diz Osnin encerrando a conversa, tomando rapidamente o seu café para se dirigir a reunião.
O Conselho religioso era uma instituição formada pelo Estado para fiscalizar as ações da população no que dizia respeito a conservação da moral, dos bons costumes e dos preceitos religiosos existentes naquela sociedade conservadora. Esse conselho era o responsável por fazer uma análise prévia de situações ocorridas no cotidiano, podendo sentenciar condenações mais simples, como punições públicas por açoite, por exemplo, de qualquer membro da sociedade que quebrar alguma regra. Essa certamente seria a punição aplicada a Aisha caso ela fosse condenada naquela reunião.
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Casamento forçado e abusivo
General FictionAisha era uma menina que morava em um pequeno vilarejo no norte do Afeganistão. A população de sua região era muito conservadora e extremamente religiosa. Ao chegar na pré-adolescência, ela conheceu um jovem garoto de sua escola, o qual começou a g...