A guerra se intensifica

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Não demorou muito e conflito armado chegou as terras do Afeganistão, com o desembarque do exército americano para a dominação terrestre. Grupos contrários ao governo vigente na época começaram a montar guerrilhas nas cidades de diversas partes do país, reduzindo a força do governo local. Em poucos dias o país se encontrava em uma guerra militar contra os Estados Unidos e o seu grupo de coalizão, mas, também, em uma guerra civil contra grupos locais que começava a dominar várias cidades do país, especialmente, na parte central e em áreas mais ao nordeste, próximos a divisa com o Paquistão.

Com a intensificação da guerra, produtos como alimentos começam a faltar nas cidades. Aqueles que ainda tinham produtos em estoque começam a vendê-los por preços mais altos e o desespero começa a tomar conta daquela sociedade, aumentando os crimes e as ações enérgicas da justiça local e daquele Conselho Religioso, que estava a reunir praticamente todos os dias para resolver novas questões locais e atender a pedidos do Conselho Religioso Nacional.

Osnin tem certeza que não conseguiria manter o seu negócio naquele contexto por muito tempo. E conversa com a mãe sobre isso na cozinha, enquanto estavam a sós:

- Mãe. Eu sei que esse comércio pertence a nossa família há séculos, que já passamos por guerras e conseguimos mantê-lo, mas acho que a situação nunca esteve tão crítica quanto estamos agora. Em uma semana não tivemos venda nenhuma, as pessoas estão desesperadas por comida, que está escassa no mercado e não temos muito dinheiro. Não seria a hora da gente vender esse nosso negócio e procurarmos rapidamente um outro lugar para viver?

- Mas é claro que não. E para onde iríamos, nós não vamos entregar as nossas terras e fugir como uns covardes. As nossas gerações anteriores lutaram pelas nossas terras e a nossa religião e nós temos o dever de fazer o mesmo.

- As nossas gerações anteriores eram formadas por muitos homens minha mãe. Hoje só temos mulheres e crianças nessa casa, eu não posso colocar a nossa família em risco de estar em meio a uma guerra, a qual dificilmente teremos condições de vencer. Os Estados Unidos é a maior potência armada do mundo. Eles já destruíram boa parte da cidade de Cabul, não teremos como aguentá-los.

- Meu filho, dê um tempo. Não decida vender esse negócio da família que já passou por tantas gerações. Por enquanto você ainda tem os recursos do Conselho Religioso, que te trás a condição de poder viver e comprar os alimentos. Essa guerra não faz sentido, vai acabar rapidamente e tudo voltará ao normal. Você não pode deixar o Conselho e simplesmente fugir com a sua família. Isso seria uma completa desonra para as nossas gerações anteriores. Diz Marian.

- A senhora tem razão. Eu não posso largar o Conselho nesse momento. Então vamos esperar mais um pouco minha mãe. Pelo que tenho visto nos comércios que estão sendo vendidos, conseguirei vender o meu a apenas 30 por cento do que ele valia antes desses atentados de 11 de setembro. Diz Osnin passando as mãos sobre os cabelos, intensamente preocupado.

- Apenas isso? Questiona Marian também muito preocupada.

- Sim minha mãe. Apenas isso. E o problema maior é que todos estão vendendo os seus negócios e quem está comprando tudo é o meu maior desafeto do Conselho Religioso, que sempre esteve de olho no que é meu.

- Mais um motivo para você não vender nada agora. Espere mais um pouco. Essa guerra vai acabar e tudo voltará ao normal. Eu acredito nisso meu filho.

- Espero que esteja certa minha mãe. Agora eu vou indo dormir.

- Não me diga que vai para o quarto de Aisha hoje novamente? Questiona aquela senhora em tom de reprovação.

- Vou sim minha mãe. Como disse a senhora eu preciso engravidar e minha mais jovem esposa, que é a única que ainda não tem um filho meu. E isso nunca foi tão urgente. Diz Osnin ao subir as escadas.

No outro dia pela manhã, ao saber que Osnin havia dormido por três dias seguidos no quarto de Aisha, assim que ele saiu, Parisa e Sonya estavam incontroláveis de tanta revolta, reclamando intensamente para Marian:

- Eu não sei o que essa Aisha tem que eu não tenho? Questionava Parisa.

- Eu também não? Questiona Sonya.

- Ela conseguiu apenas, de alguma forma, enfeitiçar o meu filho. Isso está muito claro. Diz Marian.

- Mas nós temos que dar um jeito nisso senhora. Não podemos esperar mais. Parece que ele só tem olhos para ela. Diz Parisa em tom revoltado.

- Eu mudo isso em dois tempos. Eu tenho uma carta na manga. Confiem em mim. Diz Marian em tom enigmático. Quando as mulheres ficam apenas a observar a sua sogra e não falam mais nada. O fim de semana passa sem maiores acontecimentos.

Casamento forçado e abusivoOnde histórias criam vida. Descubra agora