O dia seguinte

858 71 4
                                    

No dia seguinte Johnson, ainda muito preocupado com o que havia dito o doutor Wilian no dia anterior, com relação a Osnin, por ser casado, ter direito de levar Aisha para a sua casa, resolve ir conversar com o líder religioso daquela cidade, para saber informações sobre o que ele pensava com relação a uma mulher em situação parecida com a de Aisha. Ele então vai a casa daquele líder e o chama, quando é recebido por aquele ancião de mais ou menos uns 90 anos de idade, extremamente debilitado e corcunda naquele momento de sua vida, demonstrando um extremo cuidado ao caminhar e em suas ações aparentando ter dedicado a sua vida aos estudos religiosos.

A senhor pede que Johnson entre e ao entrar naquela sala, ele senta em uma cadeira em frente a de Johnson, quando diz:

- Que bom receber o senhor aqui oficial. A que devo a honra de sua visita?

- Eu vim conversar com o senhor líder sobre o que está achando da nossa cidade, se está tudo certo na sua visão, ou se precisamos melhorar em alguma coisa para atender melhor os desejos da Aliança do Norte.

- Eu digo que está ótimo meu senhor, estamos conseguindo oferecer a essa sociedade aquilo que o antigo grupo dominante não conseguia, que é paz e tranquilidade. A sociedade está muito feliz. Tenho conversado com muitos moradores e eles acreditam que agora estamos muito melhor do que estávamos antes.

- Eu fico muito feliz por isso senhor. Que bom que as pessoas estão gostando do novo regime. E quanto aos prisioneiros, o senhor tem alguma notícia com relação a situação deles, julgamentos entre outras ações?

- Nós estamos interrogando uma parte desses prisioneiros, através do governo provisório militar que foi formado senhor. Nesse primeiro momento faremos mais essa ação, principalmente com os militares presos. Para os civis, temos que esperar a montagem de um governo e um sistema jurídico para que eles tenham condições de serem julgados de forma justa, com eles ainda não temos feito nenhuma ação.

- E como estão sendo esses interrogatórios senhor? Estão conseguindo informações relevantes?

- Muitas das informações que o senhor tem recebido da inteligência tem vindo desses interrogatórios, senhor Johnson. Eles tem sido muito efetivos. Muitos daqueles prisioneiros se recusam a falar em um primeiro momento, mas depois de algumas pressões, se é que o senhor me entende, eles falam tudo que queremos saber.

- Os que vem dos interrogatórios eu tenho conhecimento senhor. Eu digo em outros pontos, como a localização dos antigos líderes religiosos por exemplo, o que eles tem feito, os senhores receberam alguma informação nesse sentido?

- A maioria deles foi para o norte ou para o leste do país e nesse momento já estão bem distantes. Mas, a relação deles não se apaga. O dia que pegarmos um deles, teremos condições de saber onde estão todos os outros, através dos interrogatórios.

Naquele momento Johnson percebeu pelo tom das falas daquele senhor, que nesses interrogatórios administrados pelos membros da Aliança do Norte, certamente, ocorriam torturas de todas as formas para conseguirem as informações que procuravam, pois aquele senhor dizia com uma convicção muito grande que teria informações do paradeiro dos outros membros do conselho religioso, assim que capturasse um deles ou seja, claramente ele conseguiria isso através da coerção daquele primeiro capturado.

Johnson não concordava com essas ações contra os prisioneiros, mas como não era comandante das operações militares, não tomava nenhuma ação, pois a sua área de atuação era outra e quem comandava aquela região naquele momento, era a Aliança do Norte, principalmente, pelo grande número de militares que possuíam. Qualquer ação, no sentido de uma moralização daquela operação, naquela cidade em que 80% dos soldados era da Aliança do Norte, em certa medida, não teria nenhum resultado prático.

Casamento forçado e abusivoOnde histórias criam vida. Descubra agora