A terça-feira

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Era terça-feira, 16 de outubro de 2001. Naquele dia pela manhã, Osnin acorda feliz da vida e extremamente animado após dormir com a sua mais jovem e, naquele momento, preferida esposa.

Ele cumprimenta a todos que estavam na cozinha, toma o seu café de forma muito feliz e depois parte para o trabalho. Mesmo com tantos problemas existentes no país, no conselho religioso e nos seus negócios, quando dormia com Aisha, aquele homem parece que esquecia de tudo e renovava as suas energias. Ele estava completamente apaixonado por aquela jovem e, de certa forma, dependente dela.

Assim que ele saiu para o trabalho, Parisa se revolta e diz:

- Eu estou sendo humilhada nessa casa por uma menina que nem saiu da frauda ainda. Eu não aguento mais isso. Ou Osnin toma alguma providência ou falarei com a minha família. Eu não aguento ser mais maltratada dessa forma. Diz ela a chorar intensamente ao final de sua fala.

- Eu entendo você perfeitamente Parisa. Isso também aconteceu comigo, quando tinha a sua idade. Mas, pode ficar tranquila, quem tomará a providência para resolver essa situação sou eu mesma. E será hoje. Hoje eu acabo com essa relação amorosa de uma vez por todas.

- E o que vai fazer senhora? Como a senhora vai fazer o nosso marido frear essa paixão incontrolável que ele está a ter por sua esposa mais jovem?

- Isso é segredo, mas em breve vocês saberão. Eu transformarei a visão do meu filho sobre Aisha. Ele jamais conseguirá confiar nela novamente. Diz Aquela senhora em tom decidido.

Nesse momento Parisa fica mais animada e começa a limpar as lágrimas que percorriam o seu rosto. Quando Marian complementa:

- Você confia em mim?

- Claro que sim senhora. A senhora sempre me tratou bem desde menina e depois que me casei foi a melhor sogra que poderia ter em minha vida. Eu tenho certeza que a senhora intercederá com sabedoria nessa situação. Diz Parisa, já mais confiante.

- É por isso que gosto de você Parisa, é inteligente e sabe confiar nas pessoas certas.

Naquela altura, o exército americano já havia tomada uma boa parte do território ao sul do país e também a leste, na divisa com o Paquistão. A guerra estava sendo muito mais rápida do que o esperado e o regime vigente no Afeganistão estava a se fragmentar rapidamente.

Essas informações chegavam aos conselhos religiosos locais e a recomendação é que esses conselheiros demonstrassem força em suas ações e sentenças, que agora seriam descentralizadas, saindo das mãos de juízes e sendo decididas em suas terras pelos próprios conselheiros, fechando ainda mais aquele regime ditador.

A partir de agora, punições como a morte, por exemplo, não precisavam mais passar pelos juízes para que a condenação fosse efetivada. Aqueles 11 conselheiros, tomando essa decisão, a punição já poderia ser imediatamente aplicada. Essa ação foi tomada para o combate aos rebeldes que insurgiam dentro dessas comunidades, que deveriam ser mortos sem delongas, para que servissem de exemplo para que outras pessoas não ousassem se rebelar. Entretanto, essa decisão tinha repercussão para outros casos diversos, como o adultério por exemplo e a negação a religião vigente naquele local. Tudo isso levava a uma condenação a morte, que antes precisava de um aval do juiz, mas que com as regras definidas pelo Conselho Religioso Nacional, não precisavam mais.

Aquele conselho, naquele momento de convulsão social, havia conquistado, mais poder do que nunca. Uma simples denuncia poderia levar a um julgamento e esse poderia condenar qualquer pessoa daquela comunidade a uma morte imediata, de diversas formas possíveis, desde fuzilamentos em praça pública, até apedrejamentos, dependendo da ação tomada pelo condenado e dos dizeres previstos no documento sagrado daquele grupo religioso. 

Casamento forçado e abusivoOnde histórias criam vida. Descubra agora