A noite do dia 23 de novembro

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Ainda no dia 23 de novembro, na parte da noite, após jantar, o oficial vai até o hospital para ver Aisha, mas ao chegar lá ela já estava dormindo profundamente. Ele então conversa com Wilian:

- O senhor me disse que ela ficou com medo quando vocês conversaram com ela?

- Sim senhor. Ela ainda está muito traumatizada com tudo o que aconteceu em sua vida naquela casa. Ela questionou se iríamos contar para o marido que ela disse que ele estava a agredi-la de forma cada vez mais severa?

- Meu Deus é impressionante a situação em que essa menina parece que se encontrava naquela casa. Porque ela questionou isso?

- Ela se lembrou daquela ativista. Ela disse que da última vez que ela disse algo de sua casa a alguém, a sua vida virou um verdadeiro inferno, porque em quem ela confiou, não guardou o seu segredo, muito pelo contrário, colocou isso em um jornal.

- Eu posso imaginar a tortura que ela deve ter sofrido, pelo que os senhores dizem como era o marido dela, quando ele soube que Aisha era a responsável por aquela reportagem deve ter sido implacável com a jovem. Como essa menina vai conseguir lidar com todo esse drama de seu passado?

- Eu não sei oficial. Eu sei que não será fácil para ela. Ela sofreu muito durante esse tempo em que ficou casada e olha que pelo que recebi de informações ela estava casada a menos de um ano.

- Nossa. E já passou por tudo isso?

- Sim. Ela passou. Responde Wilian em tom triste.

- E o que o senhor recomenda doutor?

- O problema é que aqui não temos psicólogos, pois a religião deles não acreditam nesses profissionais e também não temos psiquiatras. Se Aisha tiver alguma recaída no sentido de não conseguir se estabilizar emocionalmente, devido a insegurança, teremos muitos problemas para ajudá-la.

- Eu entendo. Vamos rezar para que ela não tenha nenhum tipo de problema nesse sentido.

- Temos ainda uma outra situação.

- O que te preocupa além disso doutor? Questiona aquele oficial.

- Aisha ainda é casada senhor. O seu marido, segundo as leis religiosas dessas terras, ainda tem direito sobre ela. Se ela estiver bem de saúde, ele pode requisitar que ela volte a viver com ele.

- Mas, isso não é possível! Ninguém pode aceitar uma coisa dessas. Diz aquele oficial em tom irado.

- Eu vou lhe dizer o que aconteceu para que Aisha fosse abandonada naquela casa. Antes de o senhor chegar eu estava a fazer plantões sucessivos sem sair desse hospital, porque o marido dela depois que foi expulso daquele conselho disse na minha frente que iria matar Aisha na primeira oportunidade que tivesse.

- Mas, não é possível doutor. E o senhor sabendo disso deu alta e ela? Questiona aquele oficial demonstrando nervosismo naquele momento e incompreensão com a fala de Wilian.

- Nos dias seguintes eu recebi muitas pressões. Mas, eu insistia em não dar alta a essa jovem, pois sabia que ela iria direto para a morte. Osnin estava revoltado, pois, por culpa de Aisha, na cabeça daquele senhor, ele havia perdido um importante lugar nessa sociedade.

- E porque ela foi pra casa?

- A pressão ficou insustentável, o líder religioso da cidade veio aqui no hospital a pedido meu e disse que Osnin não iria fazer nada contra Aisha. Como eu não tinha alternativas, pois eles estavam prometendo me expulsar daqui, eu encerrei o meu plantão e outro doutor deu alta a ela e Aisha retornou para casa, onde foi abandonada dias depois pelo marido para morrer sem alimentos no estado em que se encontrava.

- A coisa ainda é mais terrível do que eu imaginava. Agora eu entendo um pouco do desespero dessa menina.

- O seu marido estava querendo a tirar do hospital inconsciente para matá-la senhor, existe covardia maior nesse mundo? Ele trabalhou com todas as pessoas que tinha amizade, exercendo o seu poder e influência para conseguir tirá-la desse hospital, com um único intuito, matar Aisha. Ele só não a matou porque deve ter ficado com medo de ser preso e preferiu a deixar inconsciente, pois tinha certeza que ela morreria. Diz Wilian perplexo ao imaginar essa versão daquele fato.

- E se eu não chegasse naquele momento ela morreria mesmo. Ela teve uma parada cardíaca logo depois.

- Certamente que sim! Responde aquele doutor de forma direta.

- Que maldade extrema meu Deus. Se eu pego um homem desses eu acabo com ele. Diz Johnson, mais uma vez mostrando uma irritação, tremendo de ódio ao saber daquele contexto.

- E o pior de tudo isso é que ele tem direito em tentar retirá-la daqui de novo, quando ela estiver bem. Reafirma Wilian.

- Mas, só se for por cima do meu cadáver. Enquanto eu estiver nessas terras, Aisha não sai desse hospital para ir para as mãos daquela família. Responde Jonhson em tom decidido.

- Que bom que pensa assim senhor. Assim fico um pouco mais tranquilo. Responde Wilian com um semblante de tranquilidade.

- Agora é torcer para que ela não tenha problemas no seu psicológico depois de passar por tudo isso, sendo que nem temos a estrutura necessária para cuidar bem dela. Complementa a sua fala aquele oficial.

- É... Eu espero que não tenha senhor. Diz Wilian em tom preocupado.

- E no mais, como estão os demais pacientes?

- Eles estão estabilizando. Boa parte dos seus soldados já receberam alta. O fato de não ter havido conflitos diretos foi muito bom para esse hospital, que estava super lotado e agora está a diminuir os seus pacientes graças ao fato de não ter havido guerra direta nessa cidade quando ela foi tomada.

- O senhor libera as vagas do hospital e a Aliança do Norte lota a nossa cadeia.

- Eu espero que eles não condenem a morte esses soldados como o antigo regime fazia. Isso não é justo com eles.

- Eu também sou a favor da vida em qualquer situação. Eu sou contra pena de morte.

- Se puder intervir nesse sentido oficial? É triste a gente trabalhar para ver essas pessoas melhorarem de saúde e saber que depois elas foram condenadas a morte.

- Eu posso imaginar. Mas, se eu tiver como intervir nesse sentido, pode ter certeza que farei isso. Bem, já está ficando tarde doutor, eu preciso voltar para a base. Assim que Aisha acordar, me mande novas notícias, eu estou muito ansioso para falar com ela.

- Pode deixar que mando sim.

Os dois então apertam as mãos e o oficial caminha em direção a entrada daquele hospital para pegar o carro e se dirigir em para o comando militar daquela cidade. 

Casamento forçado e abusivoOnde histórias criam vida. Descubra agora