O segredo

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Na segunda-feira, dia 15 de outubro de 2001, assim que percebeu que o filho foi para o trabalho e que Aisha havia se levantado, Marian bate a porta e entra. Aisha estava a arrumar algumas roupas, quando aquela senhora diz:

- Achei linda a sua carta endereçada a Caivan, quanto amor não é Aisha? Diz aquela senhora em tom irônico.

Nesse momento Aisha gela totalmente o seu corpo, ficando imóvel e pálida como nunca. Como aquela senhora pôde ter acesso a essa carta, sendo que havia rasgado todas e jogado no lixo, será que me esqueci de alguma? Questionava ela em meio aos seus pensamentos. Enquanto o seu corpo estava a tremer intensamente e ela não consegue dizer nada.

- Ficou assustadinha Aisha. Eu adoro te ver assim. Já fazia muito tempo que não te via dessa forma. Que estava a te ver feliz. Feliz demais para quem se tornou minha desafeta. Eu disse que iria transformar a sua vida em um inferno depois do que fez Parisa passar. Acho que agora eu tenho condições totais de cumprir o que te prometi.

- Senhora por favor, por tudo que é mais sagrado, não mostre essa carta ao meu marido. Ele é capaz de me matar! Diz Aisha ao se ajoelhar nos pés daquela senhora, completamente desesperada.

- É assim que gosto de te ver Aisha aos meus pés. Lugar o qual você nunca deveria ter saído. Se tivesse me tratado sempre assim, certamente não estaria na situação que está hoje. Eu tenho uma carta com a sua letra declarando amor ao seu ex-namorado, o qual o seu marido sabe quem é. Quer situação melhor para acabar totalmente com a sua reputação? Questiona Marian em tom irônico.

- Não senhora. Isso seria a pior coisa que poderia me acontecer. Osnin ficaria muito furioso. Eu nem imagino qual seria a sua reação caso veja essa carta. Eu escrevi quando estava me sentindo muito sozinha nessa casa. Não é mais o que eu sinto, eu amo o seu filho com todas as forças. Diz Aisha ainda ajoelhada aos pés daquela senhora demonstrando intenso desespero, a chorar intensamente.

- Você acha que depois de ler aquela carta eu ainda vou acreditar nisso Aisha, não tem vergonha? Questiona Marian.

- É verdade senhora. É a mais pura verdade. Osnin tem me tratado muito bem. Eu amo ele e ele me ama com toda a intensidade. Diz Aisha, quando lágrimas começam a escorrer dos seus olhos de forma ainda mais incontrolável.

- Essa carta você sabe que pode te condenar por adultério não é Aisha? Questiona aquela senhora.

- Mas eu não fiz nada minha senhora. Apenas escrevi.

- Não importa, se declarou interesse adulterou em pensamento. Demonstra que se tivesse oportunidade trairia o meu filho com certeza. Meu filho pode ficar revoltado e te levar para o conselho religioso e sabe o que esse conselho poderia decidir e enviar para o juiz? Questiona Marian.

- Não senhora. Eu não sei. Diz Aisha completamente desesperada.

- Uma condenação a morte por apedrejamento! Diz Marian em tom sério.

Aisha, muito inexperiente nem sabia o que era apedrejamento e questiona de forma inocente:

- O que é isso senhora?

- Você não sabe é. Eu vou te explicar. Quando você é condenada por apedrejamento, as pessoas vão enterrar parte do seu corpo em baixo da terra e deixar apenas a sua cabeça para o lado de fora. Os homens começarão então a lançar pedras médias sobre a sua cabeça, que começarão a te atingir até que você não aguente mais e morra depois que eles te acertarem muitas delas.

Aquela mensagem entra na cabeça de Aisha de uma forma terrível. Ela jamais imaginaria que o seu ato de escrever pudesse levar a ter uma morte tão dolorosa e terrível. O seu corpo começa a adormecer de tanto medo que ela estava a sentir após a fala daquela senhora. Ela fica então completamente pálida. A sua boca fica seca, as suas lágrimas cessam. Aisha fica praticamente em estado de choque. Morrer daquela forma, deve ser uma das punições mais terríveis que existem nessa terra. Ela nem conseguia imaginar a dor que seria levar pedradas de várias pessoas, até não suportar mais os ferimentos e morrer. Então, depois de algum tempo a processar os seus pensamentos, ela diz:

- Senhora, eu faço o que quiser. Mas não me denuncie ao meu marido e nem ao conselho religioso. A senhora tem a minha vida em suas mãos e eu sei disso. Tenha clemência. Eu faço o que a senhora quiser. Diz Aisha totalmente desesperada.

- É assim que eu gosto de te ver Aisha. Sabendo quem é que manda nessa casa e nessa relação. Bem, eu vou pensar no que quero que você faça. Continue a trabalhar nos seus afazeres domésticos normalmente por hoje. Eu vou te dando as ordens e a partir de agora, precisa cumprir, pois se não cumprir, eu conto para o seu marido, ou talvez pior, te denuncio diretamente ao conselho religioso e terei o prazer de ver você apedrejada em praça pública. Diz aquela senhora a abrir a porta do quarto e sair rapidamente a fechando.

Aisha deita no chão e tudo que faz é chorar de forma extremamente desesperada. Morrer daquela forma não fazia parte de nenhum pensamento seu, em nenhum momento de sua vida, mesmo porque, ela nem imaginava que havia uma forma tão terrível de se matar uma pessoa. Ela nem queria pensar no sofrimento que as pessoas condenadas a morrer dessa forma passavam antes de terem as suas vidas encerradas. Aisha faria qualquer coisa para evitar aquilo.

Por outro lado, se a sua sogra contasse isso ao seu marido, ele iria querer surrá-la também até quase a morte, se não a mataria em meio a intensa violência e fúria que certamente ficaria. Portanto, as duas situações eram tenebrosas demais para Aisha imaginar.

A única saída que tinha naquele momento, era mesmo atender a todas as ordens de sua sogra para tentar ao máximo evitar que aquela carta chegasse as mãos de alguém. Em algum momento, ela teria que tentar encontrar aquela carta, que deveria estar no quarto daquela senhora e desaparecer com ela. Só assim ela teria alguma sobrevida. Aisha deita em sua cama e fica horas a chorar intensamente. Depois de descarregar um pouco aquele desespero, ela começa então a arrumar a parte de cima da casa, como sempre fazia, tentando agir normalmente, para evitar qualquer tipo de desconfiança.

O que mais deixava Aisha triste é que tudo isso foi acontecer logo agora que ela estava mesmo a gostar de Osnin e tinha certeza que ele gostava muito dela. Todo aquele amor e carinho poderia acabar de uma vez por todas, caso ele descobrisse que estava sendo traído, mesmo que em pensamento. Naquela sociedade machista e conservadora ao extremo, esse tipo de situação era imperdoável e Aisha sabia disso!

 Naquela sociedade machista e conservadora ao extremo, esse tipo de situação era imperdoável e Aisha sabia disso!

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Casamento forçado e abusivoOnde histórias criam vida. Descubra agora