No fim de semana Aisha participaria de uma cerimônia religiosa muito importante pra aquela comunidade, a qual as esposas dos homens mais importantes daquele vilarejo tinham que fazer algumas atividades em meio a essa cerimônia. Como era uma atividade que ocorria todos os anos, as mulheres eram treinadas a fazer aquelas ações e movimentos nos momentos certos, pois, isso era visto por toda aquela comunidade e elas aprendiam esses movimentos desde novas acompanhando as apresentações das mulheres mais velhas, quando crianças.
Nas terras em que Aisha cresceu também existia essa cerimônia, entretanto, por ela fazer parte de uma família mais humilde, a atuação das mulheres daquele grupo, pertencentes a classes sociais menos favorecidas, acabavam ocorrendo de forma separada, em uma festa mais simples.
Aisha questionava para as esposas de Osnin como era aquela cerimônia naquele local e quais as ações que ela deveria realizar naquela festa. Mas, aquelas mulheres, não gostando de Aisha, evitavam lhe passar qualquer informação, a desprezando intensamente nos dias que antecederam a atividade.
Aquela jovem foi a procura de sua sogra para que ela lhe auxiliasse e informasse se havia alguma diferença entre a cerimônia que ela estava acostumada a participar e a cerimônia daquela região. Mas, a sua sogra também não disse nada a respeito da atividade, repreendendo Aisha, dizendo que era papel dela conhecer os rituais religiosos daquelas terras.
Sentindo-se muito sozinha e envergonhada, Aisha ficou com vergonha de questionar ao esposo sobre como ocorria a cerimônia e esse achando que a jovem já sabia de tudo, pois na sua terra aquele ritual também ocorria, esqueceu de verificar com a sua esposa se as ações em que ela já havia visto eram as mesmas que estavam sendo preparados para ocorrer naquela cerimônia.
Assim, chega o dia da cerimônia, todas as mulheres se arrumam lindamente para poderem participar da atividade. Em meio a cerimônia, as mulheres, esposas de homens mais influentes e pertencentes aos conselhos religiosos, eram separadas das demais mulheres da comunidade e iam para um palco para a apresentação de uma espécie de uma dança que representava uma homenagem a um profeta importante daquela região.
Ao iniciar a apresentação, todas as mulheres fazem os movimentos iniciais em que Aisha estava acostumada e ela dança confiante. Quando então os movimentos começam a ser alterados e aquela jovem começa a ficar desesperada sem saber o que fazer. Ela tenta copiar as ações das outras mulheres, mas todos os seus movimentos ocorrem de forma muito atrasada, tirando a sincronia daquela apresentação. O público geral começa uma intensa gargalhada daquela apresentação e Aisha não se aguenta de vergonha naquele momento. Fica desesperada começando a chorar assim que acabou a apresentação.
As mulheres que estavam na atividade ficaram revoltadas, queriam bater em Aisha na parte de traz do palco, mas Rachid chegou na hora e as impediu. Ela foi intensamente criticada por todas aquelas mulheres que se sentiram intensamente desprestigiadas pela apresentação desastrada daquela jovem.
Rachid pegou Aisha e a levou para uma sala daquele espaço religioso. A deixou lá até que ela se acalmasse, não avisando para ninguém que ela se encontrava ali. Com o ódio que aquelas mulheres estavam ao sair da apresentação, sendo criticadas por toda aquela comunidade, caso, pegassem Aisha naquele momento, ela poderia ser linchada por todas.
Ao final da apresentação Osnin se levanta, absolutamente envergonhado, indo para a parte de trás daquele palco, quando encontra-se com Rachid e diz:
- Eu não acredito que Aisha fez aquilo. Diz ele em tom bravo.
- Certamente ela não sabia as ações que tinha que tomar, ninguém explicou para ela, você tem que ver que ela não faz parte de nossa cultura, mesmo sendo da mesma religião. Diz Rachid de forma compreensiva, tentando tranquilizar o amigo.
- Mas, ela tinha que saber, será que nunca viu essa apresentação tão importante antes? Questiona Osnin já mais calmo após a fala do amigo.
- Isso você terá que perguntar para ela, o que aconteceu? Se ela não sabia mesmo, ou se de tão nervosa, começou a confundir as ações. Aisha é muito nova meu amigo. Você terá que ter muita paciência com ela. Diz Rachid.
- O difícil é isso. Eu não tenho tempo para ensinar Aisha, a nossa reputação está caminhando rumo a ribanceira a cada ação equivocada dela. Certamente amanhã no mercado o comentário do dia será novamente ela. Como ficarão os conselheiros, certamente estarão todos muito envergonhados. Diz Osnin se mostrando desesperado.
- Amigo, trate de sua esposa. Deixe a comunidade um pouco de lado. Essas pessoas deveriam entender que ela veio de outra cultura e precisa se adaptar, se não entendem isso, os errados são eles e não Aisha e nós que conseguimos nos colocar no lugar do outro e entender. Diz Rachid mais uma vez tentando tranquilizar o amigo.
- Você tem razão. Eu vou conversar com ela. Ela deve estar arrasada. Diz Osnin mais conformado e com uma visão mais misericordiosa daquela situação.
- Está sim meu amigo, não para de chorar. Diz Rachid de forma piedosa enquanto vê o seu amigo indo em direção a sala em que ele havia deixado Aisha.
Osnin então entra naquela sala e observa Aisha a chorar intensamente. Ele tenta falar com ela, mas ela não consegue dizer nenhuma palavra, extremamente envergonhada. Depois de muito tempo ele a abraça e diz:
- Não se preocupe Aisha. Todos podem te julgar, mas eu não farei isso. Diz ele ainda abraçado a sua jovem esposa.
Aquela fala toca profundamente Aisha, que aos poucos reduz o seu desespero e começa a diminuir a intensidade do seu choro. Então Osnin vendo que ela não teria mais condições de voltar para aquela festa, questiona se ela quer ir para casa que ele a levaria:
- Você quer que eu te leve para casa?
- Sim senhor, por favor. Eu não tenho mais clima para essa festa e aquelas mulheres querem me matar. Se me verem pelo caminho eu não sei o que será de mim. Diz Aisha ainda chorosa.
- Eu te entendo, vamos pra casa. Levanta Osnin, lhe dá a mão e os dois partem para casa.
Osnin ainda tinha obrigações naquela festa que demorava boa parte da noite. Ao deixar Aisha em casa ele pediu que ela trancasse a porta, pois as suas esposas poderiam chegar furiosas e tentar brigar com ela. Aquela jovem imediatamente atende o seu esposo, trancando a porta e ficando solitária a chorar em seu quarto durante boa parte daquela noite até que pega no sono.
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Casamento forçado e abusivo
General FictionAisha era uma menina que morava em um pequeno vilarejo no norte do Afeganistão. A população de sua região era muito conservadora e extremamente religiosa. Ao chegar na pré-adolescência, ela conheceu um jovem garoto de sua escola, o qual começou a g...