Capítulo 46

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Robert

Após equilibrar-me, sem mais demoras, dou início a conversação que serviria para eliminar, todas as possíveis dúvidas, formadas por mim.

— Desculpe pelo que acabara de acontecer, mas se não for um incómodo para si, pode dizer-me onde é que eu já o vi? — Pergunto com um certo grau de apreensão.

— Claro, Mr. Robert! — Expõe amavelmente — Apesar do nosso último encontro, não ter sido numa circunstância tão animadora, eu sou exactamente, o médico que estava naquele frigorífico humano, no dia que foi considerado como uma tragédia a nível de todo território. — Diz pacientemente o homem, cuja qual, eu ainda desconhecia o nome.

— Talvez seja uma má prestação de minha parte, porém, eu não me recordo de termos mencionado os nossos nomes, pode dizer-me como ficou a saber do meu? — Interrogo continuando no mesmo tom.

— Ah! — Interpõe calmamente — Eu descobri este facto, quando tive acesso as informações da paciente em todo este caso, para se fazer a ocorrência de óbito, afinal, Lúcia Morgan é uma imponente empresária e, sendo bastante conhecida, os seus contactos próximos são sempre bem reconhecidos — Discursa fazendo uma breve pausa em seu discurso e prosseguindo logo de seguida — Mas, é uma pena que a sua tragédia, tenha acontecido por cima de outra tragédia. — Declara serenamente o homem, ainda com o seu nome codificado por mim.

— Desculpe, mas pode ser mais específico? — Inquiro baralhado — Ao que se refere quando diz, "tragédia por cima de outra tragédia". — Expresso dando enfâse as suas últimas palavras ditas e já inquieto.

— Mr. Robert, a morte consumada naquele dia, não foi de Lúcia Morgan, mas sim da senhorita Lúcia Parker. — Garante sem papas na língua.

E no mesmo instante, depois de ouvir aquelas palavras, foi como se uma faca de dois gumes, tivesse atravessado o meu corpo, entretanto, desta vez, não para me presentear com a morte, mas sim, para me carregar com a esperança de uma vida.

— Lúcia...Parker? — Questiono hesitando — O senhor está convicto do que fala? — Demando com os olhos marejados e pasmo.

— Eu entendo que, provavelmente, não seja uma notícia que consiga, facilmente, digerir, no entanto, se me permitir, eu tenho duas horas livres e vou poder explicar-lhe, todo o sucedido — Assegura constituindo uma folga em seu discorrer, porém, continuando — E já agora, o meu nome é Pierce, mas se preferir, pode chamar-me Dr. Pierce. — Comunica o homem, cuja qual, acabara de descobrir o nome.

E, no minuto a seguir, Dr. Pierce guiava-me e, eu consequentemente, seguia-o para o estabelecimento alimentício daquele hospital, para que possamos, então, iniciar a narração dos factos que há 2 anos, eu dessabia o final. Após chegarmos, fazemos o regular pedido, que era nada mais e nada menos do que um calmante café, que foi trazido muito rapidamente, por uma rapariga carismática de nome Lauren, sabia disso porque o seu uniforme, continha um crachá com o seu nome, que a todo tempo sorria, fazendo com que, desse modo, o atendimento fosse da maneira mais eficaz possível. Já com os pedidos em nossa mesa, procedemos o princípio do nosso discurso.

— Se ainda há registos em minhas memórias, o senhor trabalhara em Liverpool, então, posso chamar isso de uma comum coincidência? — Retorno ainda surpreso.

— É verídico que trabalhara em Liverpool, porém, fui transferido para este hospital de Manchester, porque tenho funções para cumprir cá. — Declama pacificamente.

— Dr. Pierce, peço generosamente, que inicie a narração que tanto anseio. — Afirmo preparando-me para reviver, o que tanto esperei, indirectamente, para acontecer.

— Era Novembro, o que significava mais uma comum rotina de trabalho nos hospitais salvando vidas, todavia, tudo pareceu transformar-se repentinamente e, aquilo que era para ser um dia comum em nossa vida, tinha-se tornado na maior tragédia de todos os tempos. Jornais e redes televisivas declaravam a morte da imponente empresária, Lúcia Morgan e, assim, a notícia se foi espalhando muito rapidamente. Eu estava em um café tomando o meu habitual pequeno-almoço, quando inesperadamente no diário de notícias, se repercutiam os relatos da morte de Lúcia Morgan, eu havia ficado incrédulo com tamanha exposição, logo pela manhã, contudo, eu precisava ir ao hospital, para substituir o plantão de um dos meus colegas, e assim o fiz — Manifesta exercendo um curto intervalo em sua narração, avançando posteriormente — Após chegar ao hospital, sou recebido com a notícia de que o corpo da imponente Lúcia Morgan, se encontrava dentro do nosso recinto e, como eu não era o médico que havia feito, as primeiras análises a nível do seu corpo, então, simplesmente recebi os relatórios da ficha informativa da paciente do meu colega de trabalho, cujo qual substituí e, dei lugar ao seu posto.

Depois isso, li os relatórios que me davam a informação de que a paciente, tinha profundas cicatrizes em seus pulsos, e que se encontrava em um estado de depressão avançada, no entanto, antes do meu colega de trabalho sair, deixou-me a indicação de que o corpo já se encontrava na Morgue, e que eu precisava de concluir as análises a nível de seu corpo, pois ainda não se haviam feito, as análises a nível da sua cabeça, que geralmente, são feitos para ver se a vítima sofrera alguma lesão, ou se fracturara algum osso nessa região. Foi quando então, me dirigi à Morgue para iniciar o processo, mas antes mesmo que pudesse originar, o senhor, juntamente com os outros parentes próximos, adentraram na Morgue, impossibilitando-me assim, que procedesse com o procedimento. — Finda brandamente.

— Mas então, por que pediram-nos para fazer a identificação do corpo, sendo que os exames, ainda não estavam concluídos? — Interpelo indignado.

— Porque as imagens de Lúcia Parker, mulher completamente idêntica à Lúcia Morgan, já se haviam espalhado e, já não se podia adiar o inevitável, dado que só precisávamos de uma confirmação a nível da família de Lúcia Morgan e, além disso, os exames a nível da cabeça são feitos no mesmo dia da identificação do corpo, porém, são feitos horas depois, mas como o senhor e os parentes próximos de Lúcia Morgan, tinham chegado no exacto momento em que o acto estava para acontecer, e não mostraram nenhuma dúvida, de que aquele, fosse o corpo da senhorita Lúcia Morgan, logo, foi dado aquele veredicto. — Exprime sossegadamente.

— Desculpe Dr. Pierce, pode prosseguir. — Digo com os olhos molhados.

— Bom, como o relatório que estava em minhas mãos, tinha as pesquisas da suposta paciente Lúcia Morgan, então, foi essa informação que foi passada por mim, a vocês. Apesar disso, logo que vocês se retiraram daquela ala, eu precisava realizar as análises a nível de sua cabeça, isso é um dos factos pelas quais, a paciente veio com a sua parte superior tapada, pois pela sensibilidade que aquilo pode causar aos parentes, nós preferimos que as análises a nível da cabeça, sejam feitas depois das análises a nível do corpo, e claro, somente depois dos parentes verem o corpo, o que aconteceu exactamente com vocês, posto que este tipo de regulamento nunca gerou controvérsia, já que os parentes nunca tiveram problemas em identificar o corpo de seus entes queridos, visto que eles verificam sempre pela ausência, ou presença de uma mancha de nascimento, ou mesmo pela estrutura física. — Profere em mais um dos seus discursos.

Continua...

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