Milena
Durante todo curso, desleais prantinas decidiram fazer-me companhia, pois não era algo que pudesse atrapalhar, uma vez que não era algo que queria evitar, a verdade era que, a mulher a qual julgava irmã e, aquele devasso homem, me haviam rasgado por completo, comprovando mais uma vez, a teoria de que, os punhais jamais vêm de um lado desconhecido, porém, neste caso, quem tinha cravado a cicatriz, era alguém que nem em tribunais para julgamentos de réus, eu haveria de suspeitar. Na continuação de um rumo em que o choro, desempenhava a sua função, sem alguma repreensão, finalmente, chegara ao itinerário intencionado.
Num abrir e piscar de olhos, com todos os componentes necessários, reorientara o meu percurso, entretanto, desta vez, já muito trilhado por nós. Depois de vários soflagrantes perambulando pelas nobres rodovias de Manchester, comparecera a recente residência, daquele que ainda recebia o nome de correligionário meu, que a seguir a conhecida tática de acesso ao seu apartamento, estava agora, a confeccionar os devidos alimentos e, como previsto por mim, dado que alguém que não tem moralidade para quebrar vínculos num dia como este, tampouco se vai responsabilizar com as cicatrizes cravadas e, sendo a primeira vez, que algo neste Broking day permanecia certo, a estância daquele obsceno homem, se encontrava sem a sua presença, o que simplificou a minha tarefa, dentro de sua morada.
Colocava agora, o produto de todo o meu trabalho, durante àquelas horas que haviam-se passado, no espaço de uma travessa, no interior das 4 paredes que constituíam a sua cozinha, para que posteriormente, levasse à sala e poisasse em sua vasta mesa de quartzo, de igual modo, bem decorada por mim, sendo que foi primeiro papel que realizara, assim que adentrara no seu endereço. Dito isto, e sem perder muito mais tempo, pilotara o meu corpo para a porta de sua cozinha, para na sequência, sair, dando génese a movimentos coordenados, que recebiam o nome de "passos céleres". Presente em sua dilatada sala, posicionara a travessa em sua meritória mesa e, segundos após a minha acção, a porta que dava ingresso, a entrada de figuras daquele aposento, se abrira, apresentando o homem, a que, a todo custo, haveria de confrontar.
— Happy Thanksgiving day. — Afirmo com brandura, apresentando um sorriso, que de todo, poderia considerá-lo cínico, fazendo com que Amaro, seguidamente, designasse conexão ocular com a minha figura, visto que o acento de voz utilizado por mim, para enunciar tal afirmação, fora satírico.
— Milena, nós precisamos de conversar. — Apela Amaro dissimulado, porém num timbre tranquilo, tentando assemelhar-se, a de um bom samaritano.
— E, o que me podes dizer? — Relanço, conservando-me na mesma sonoridade de atrevimento — Ou melhor, que assunto pode ser este, que é capaz de despir-te num dia como este? — Concluo mordaz.
— Milena, eu não te quero magoar — Inaugura desavergonhado — Mas eu não posso continuar presente neste relacionamento, porque eu me encontro embriagado por outra mulher. — Confessa Amaro com mansuetude e, ainda com a comunicação óptica preservada.
— Uma mulher de nome... — Exerço uma suspensão proposital, causando sua aflição — Lúcia Morgan? — Pergunto cruel e, de certa forma, zombeteira, o que originou a inquietação de Amaro no mesmo instante, para um nível mais elevado, sendo que em suas íris, era notável a sua tensão.
— Eu haveria de contar-te, eu precisava apenas... — Corto-o sem o permitir findar — De passar a noite comigo, para comprovares que o corpo e o calor dos lábios que procuras, jamais estarão em mim. — Concluo o seu raciocínio descaroável e com os olhos marejados, porém firme, aproximando-me, logo de seguida, de seu atlética fisionomia.
Após a minha última asserção, seguiu-se um matador mutismo por parte de Amaro, o que serviu apenas para ratificar o meu desenlace anteriormente feito, contudo, um assunto ainda tínhamos por tratar, viabilizando assim, a morte da quietude, por minha parte, que se mantinha.
— Tu e aquela promíscua mulher detêm o mesmo desprezível valor, por isso, formam um casal digno do vosso altar. — Assevero sem papas na língua, assinalando, no átimo póstero, o rosto daquele indecente homem, com a ânsia de minhas austeras mãos.
No prosseguimento de marcar a sua face, com o estrondoso som de minhas irritadas mãos, distanciei-me de sua definida figura, pilotando-me, na continuidade, a sua ampla mesa de quartzo, onde sem atrasos, puxara a toalha que a revestia, possibilitando com que toda apreciação e trabalho investidos por mim, naquela irrepreensível decoração, fossem reduzidas a zero, assim como o elo que algum dia tivéramos.
— Repara-os. — Declamo desaforada, engendrando lembranças aos estragos e aos pedaços de cacos, que se haviam estilhaçado no chão, ao redor de toda sua extensiva sala, motivando Amaro a olhar-me estupefacto, ainda assim, com a sua mudez, tal como fez, durante toda acção, visto que sabia desta particularidade, pela conversação ocular que agora e, mais uma vez firmávamos.
— Assim como me hás retribuído com o pior dos venenos, algum dia, alguém te irá fazer o mesmo, porém, com uma intensidade a dobrar e, assim como estes cacos, que hoje saem porque me hás cortado, o teu corte será muito mais aprofundado. — Finalizo incivil e com uma lágrima matreira que despencava sobre o meu rosto, ausentando-me apressadamente daquele espaço, deixando Amaro visivelmente boquiaberto, apenas na companhia de sua desprezável compleição, no interior de seu assento.
E lá estava eu, nos setiais de meu consagrado Volvo, com um ilimitado choro, direccionando-me para casa, fisicamente tensa, emocionalmente rasgada, psicologicamente desnorteada e internamente desolada, apesar disso, desta vez, por mais que soubesse o destinatário de minha via, eu não saberia responder a rota de minhas emoções, porque uma vez mais, me hei entregado a alguém que me apaixonara, mas que simplesmente, me aniquilara por alguém que, jamais pensara que haveria de ser, aterradoramente alanceada.

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EYES & EYES
RomanceArrogante para muitos e incompreendida para os mais próximos. Fria, ríspida e asentimental, assim é Lúcia Morgan, a mulher que esconde em seu olhar, a sombra de um passado turbulento, no que diz respeito ao amor, portanto, abstém-se do mesmo. Alegr...