Capítulo 20

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A atmosfera que se sobrepunha em meu escritório era pesada, porque sempre que olhava para a figura em que lá se encontrava, recordava-me de todas as palavras dolorosas pronunciadas há um par de horas. Mas contudo, decido colocar um ponto final àquele abismável silêncio e, iniciar por mais uma vez, aquilo que pedia incansavelmente para não acontecer.

— Mas será que tu não te cansas? — Demando já irritada.

— Lúcia eu só quero... — Corto-o sem deixar que prosseguisse — Mas afinal, quem tu julgas que és para querer alguma coisa? — Pergunto alterando a minha voz.

— Eu apenas te amo e só quero entender o porquê de me tratares assim, o que tenho de fazer? — Implica esperançoso — Apenas diz-me e eu farei. — Assevera encostando-me, permitindo que eu visse seus olhos bastante rubros e, de certo modo, conseguindo sentir a sua respiração.

— Nada! — Grito compelindo-o, logo de seguida.

— Lúcia eu só... — Intersecto-o mais uma vez — Cala-te, diz-me, quem te mandou aqui? — Questiono enraivecida.

Depois disso, olho para ele e reparo que mantém a cabeça baixa, sem pronunciar quaisquer vocábulos.

— QUEM RAIOS TE MANDOU AQUI? — Inquiro sem paciência e berrando e, pude ver que lagrimava, mesmo estando com a cabeça inclinada.

— A senhorita Rara. — Expõe numa tonalidade enfraquecida e estremecida, porém audível.

— Então, foram eles outra vez? — Rio ironicamente.

— Lúcia eles só estão a ...  — Impeço-o pela terceira vez — Mantenha a boca fechada e saia. — Digo seca e fria.

— Será que o meu único pecado é amar-te? — Vocifera desacreditado — Será que é tão difícil entenderes que TE AMO? — Vozeia desesperado e com um mar de lágrimas em suas íris.

Apenas retorno a rir sarcasticamente e, continuo com o meu discurso.

— Apenas guarde as suas lágrimas para outra pessoa, porque infelizmente para ti, mas felizmente para mim, eu não sou a mulher que julgas que sou. — Elucido com um tom mais desalmado e bastante acentuado.

Ele limita-se a virar-se e a andar em passos lentos até a porta de meu escritório e, quando lá chega, ainda de costas, profere num tom mais alto, algumas palavras.

— Tu, definitivamente és a minha maior doença e pecado, mas acima de tudo, és o meu maior veneno. — Diz saindo prontamente de meu escritório.

E, de repente, uma lágrima caiu e depois outra, outra, outra e outra. Eu estava num abismo, num abismo de sentimentos, em que ele havia-se  tornado, o meu pior e melhor pesadelo. Sim, é bastante contraditório, no entanto, era assim que me sentia em relação a ele. Eu tinha de o proteger de mim e, se essa fosse a única maneira de o fazer, então, eu o faria, sei que provavelmente estaria a provocar-lhe algum tipo de sofrimento, porém, não seria maior do que poderia causar, se me permitisse aceitá-lo. Meus melhores amigos produziam-me isto e, mais uma vez, não levaram a sério o que lhes disse, desconsiderando-me totalmente. Ainda assim, eu havia avisado que se mais uma vez tentassem se introduzir neste assunto, a corda haveria de rebentar para o lado mais fraco, mas mesmo assim, o fizeram. Então, como o velho ditado diz, portanto, assim acontecerá.

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