Capítulo 49

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Rara

Os dias passados na British Company, sem a presença de minha Lúcia, não têm sido, propriamente, exultantes. A todo tempo, lembranças excediam por minhas memórias, fazendo-me reviver momentos que jamais haveria de esquecer, ao menos, enquanto subsistisse viva e lúcida. Milena, de parecida forma, sentira a algia que transluzia, afinal, ambas estávamos perante a mesma situação. A parte mais penosa, era a nossa presença na British Company, pois ela não revelava, meramente, a essência de minha Lúcia, mas como também, era o seu indiscutível reflexo. Romando ligara frequentemente para saber como lidávamos com as cargas horárias, sendo que com a exiguidade  de minha Lúcia e, por conseguinte de Romando, Milena e eu dobrávamos sempre que fosse necessário, a hora de funcionamento, porém, não era algo de que não gostássemos, visto que o trabalho começou a ser, a nossa fonte de energia, isto é, era o nosso refúgio.

Nas suas constantes chamadas, Romando tentara, de qualquer forma, esconder seu sofrimento por meio de prantinas abafadas, mas como a dor, era algo que se podia transudar através de sons ou tons, então, a sua rouca voz, o atraiçoava. Os nossos manentes e fiéis funcionários perduram até as correntes datas connosco, o que uma vez mais, significava que a minha Lúcia era muito querida por todos, porque logo que as notícias, juntamente com as imagens da sua morte, se começavam a espalhar, não mediram palavras para expressar, as suas imensuráveis condolências a nós, sem esquecer das suas irrepreensíveis homenagens.

Alice, sua eterna secretária, havia ficado, na totalidade, destroçada, dado que ela via em minha Lúcia, uma irmã que nunca teve a oportunidade de ter, já que para Alice, a minha Lúcia, era muito mais do que sua simples chefe, para ela, a minha Lúcia era como uma bússola, que indicava o caminho que ela pudesse pertencer.

E lá estava eu, isto é, em mais um dia de indistinto mister na British Company, lugar este, que detinha o DNA de Lúcia Morgan, estruturava-me para assinar os últimos relatórios do dia, quando repentinamente, o telemóvel fixo por cima de minha encantadora mesa de madeira, tocara copiosamente, assim sendo, desprezando retardos, me despacho para contravir.

— Com quem temos o prazer de falar? — Investigo gentilmente, retorquindo a chamada.

— Será que ainda há tempo para atender um velho assistente? — Perquire Joseph do outro lado da linha, dado que reconheço a sua voz, no mesmo instante.

— Há quanto tempo, Joseph! —Vocifero extasiada — Pois bem, isso digo eu, que desde que te foste embora, esqueceste-te até de nós. — Replico aprazivelmente.

— Vejo que não mudou, sendo que continua com a sua forma, receptivamente, engraçada! — Bradeja Joseph, constituindo uma efémera pausa em seu pronunciamento, mas avançando logo de seguida — E já agora, os meus mais prezados pêsames. — Finaliza Joseph abatido, visto que se percebia por intermédio de seu tinido.

— Se a Lúcia estivesse aqui, não ia gostar de te ver assim, então, anima-te, ou ela saberá de tudo! — Berro prazerosamente para tentar reconfortá-lo.

— Então, que assim seja! — Retruca Joseph e, pude notar, que o seu ânimo tinha melhorado.

— O que contas? — Pergunto curiosa, já que distinguia, que mais algo havia.

— Sempre acertando! — Evidencia Joseph — Bom, eu tenho uma proposta a fazer à British Company. — Conta Joseph do outro lado da linha.

— Estou de ouvidos abertos. — Digo brandamente.

— Na verdade, não sou eu, mas sim a empresa para qual trabalho agora, o que acontece é que nós temos um cliente, que quer os serviços de assessoria da British Company, uma vez que a nossa empresa, já está vinculada a ele e, sendo a British Company, uma das companhias com maior reconhecimento e eficácia no trabalho, a nível de toda Manchester, que vai ser precisamente, o novo endereço do nosso cliente, assim sendo, ele tem interesse em apostar na expansão e excelência do seu projecto, sendo que os lucros gerados deste projecto, serão divididos, equitativamente, por ambas empresas, e como sei que a British Company é a melhor, digo isso porque fui, sou e, sempre serei, um filho estrondosamente agradecido a mãe British Company, logo, decidi arriscar, pois sei que será um negócio bastante rentável e lucrativo. — Expõe Joseph sem pressas, em seu longo enunciado.

— É, severamente, interessante a tua proposta, mas também sei que, tu foste um inaudito profissional, além do carinho que temos por ti e, por isso, nós vamos aceitar — Devolvo animada e exercendo uma folga em meu comunicado — Pois bem, podes mandar os dados do cliente? —  Interrogo pacientemente, concluindo o meu relato anterior.

— Pelo facto dele ainda não se encontrar, dentro do território de Manchester, visto que, até ao momento, está a cumprir uma viagem de negócios na velha França, não detenho as informações detalhadas acerca dele, entretanto, o seu assistente, que é seu braço direito, o representa na sua ausência, com isso, pedirei os dados a ele e, logo de seguida, envio-os, será que podemos proceder assim? — Questiona Joseph, com um certo grau de preocupação.

— Mas é claro que sim, contudo, quando enviares as informações, encaminha-as à Milena, já que ela é responsável por este sector e, creio eu, que ainda não te tenhas esquecido deste evento, e não te preocupes, eu a avisarei. — Cito acalmando-o.

— Muito obrigado, senhorita Rara! — Agradece jubilosamente — No entanto, não me esqueci do facto, como, verdadeiramente, proferiu, e posto isso, enviarei as inculcas  ainda hoje. — Afinca Joseph, já finalizando a ligação.

Após isso, levanto-me da minha adorável cadeira de linho, que combinava, harmoniosamente, com a minha, igualmente, amável mesa de madeira, saindo no minuto a seguir, do meu amplo escritório e indo em direcção ao de Milena. Ao chegar ao pé da porta, abro-a cuidadosamente, introduzindo-me seguidamente, fechando-a uniformemente, no mesmo intervalo, feito isto, avisto uma Milena que saía da biblioteca, muito bem projectada, arriando as escadas do seu grandioso escritório.

Continua...

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