— Que raios aquele homem fazia no teu escritório, Lúcia? — Sonda Rara convertida.
— Que raios aquele homem fazia no meu escritório? — Repito a mesma interrogação de Rara e, de guisa ácida, faço uma concisa parança em minha oralidade, porém continuando sequentemente — Ou será que devo perguntar, como raios vocês puderam editar um livro com poemas de minha autoria? — Demando permanecendo na igual nota.
— Era uma surpresa que nós te queríamos proporcionar, pois tudo que nos fizesse sentir a tua presença, era como um tesouro para nós, uma vez que serviria para justificar a tua ausência. — Devolve Rara sem paciência, aumentando sua entonação.
— E quando diabos haveriam de me contar? — Reponho indignada e já com um berreiro imparável em meu frontispício.
— Mas qual o verdadeiro problema para a tua estrondosa reacção? — Pesquisa Rara incrédula.
— O poema intitulado "O teu beijo impossível", fora aquele que ao Amaro havia dedicado, quando escrevera a carta em que declarava os meus sentimentos. — Libero com a respiração árdua, por causa das gotas de água consecutivas que despencavam de meu semblante.
E como se tivesse sido electrocutada, Rara tinha recebido um choque, posto que tão estupefacta estava, que não pronunciara quaisquer palavras, sabia disto porque sua expressão não apenas a nível do rosto, mas como também no grau do corpo, atraiçoavam-na, dado que comunicação óptica sempre se firmara, desde o início daquele imensurável desentendimento, que me estilhaçava, todavia com ela aniquilando aquela breve mudez que se instalou, pelo som de sua voz ao explorar termos que em toda a minha repartição, se propagava.
— Lúcia, eu não sabia, eu apenas encontrara diversos poemas no interior do teu quarto e pensara eu, que aquela escritura se referia a Robert, portanto, julgara que pudesse ser uma excelente ideia fazer um livro de poemas, para de igual modo, te homenagear. — Confessa Rara sobressaltada e ainda paralisada.
— O grande problema não é este. — Expilo, até ao presente, com um raquítico respiradouro.
— O que queres dizer com isso? — Interroga Rara inquieta.
— O facto é que o beijo já deixou de ser impossível. — Cito com um pranto ininterrupto em meus olhos.
— Como!? — Vozeia Rara totalmente imbuída e espantada — Lúcia, tu tens noção do que acabaras de me dizer? — Reforça sem alguma calma — Tu consegues imaginar em como Milena se poderá sentir quando descobrir?! — Intensifica andando na linha de suas estribeiras — Ou pior, em como o Robert vai poder aguentar tudo isto? — Projecta Rara extremamente boquiaberta, sem alguma pausa em suas perguntas, mas pelo ar que faltara em seus pulmões, pois já descompassada se encontrava, visto que era notável pelo seu descontínuo anélito, forçando-a assim, a fazer uma paragem em seu pronunciamento — Responde-me apenas uma única questão: — Introduz fomentando — Tu gostaste do beijo? — Inquire Rara severa.
— Eu não sei. — Redarguo nervosa.
— Como raios não sabes!? — Berra Rara circunspecta, levantando ainda mais, a sua zoada.
— PORQUE EU NÃO SEI, RARA! 一 Grito descortês, ainda em carpido e, de idêntica maneira, exercendo uma efémera suspensão em minha palestra, mas avançando para a sequência — O que queres que eu te diga? — Perquiro já de tonalidade moderada, entretanto, com os olhos embebidos.
E assim um momentâneo silêncio se fez, no entanto, comigo logo rescindindo, porque ainda tinha palavras por dizer.
— Diz-me o que farias tu, no meu lugar? — Relanço direccionando a inquisição a figura de Rara — Se de um lado tenho o homem a que não me posso entregar e, do outro, uma de minhas melhores amigas cuja qual este segredo não a posso revelar, e para piorar, a sombra viva de meu passado, me há roubado, o beijo que sempre hei ansiado em desfrutar. — Finalizo conspícua.
— Com certeza, não magoar ainda mais o homem que simplesmente vive e só quer viver para me amar e, revelando a minha amiga o que sucedera, por mais que não pudesse aguentar. — Articula Rara descarinhosa.
— Então, por que não seguras a mão dele? — Interpelo com ânsia e, sem medir, a profundidade de minhas locuções soltas.
— Eu até sou capaz de te poder entender, mas não te admito que me possas ofender desta maneira, Lúcia! — Brada Rara já nos limites, obstruindo mais uma vez o seu enunciado, para uma passageira folga, mas rapidamente se recompondo para a continuação — Mas se queres tanto saber, não é uma tarefa difícil apaixonar-se pelo Robert. — Dilucida já nos seus extremos.
— Desculpa-me Rara, é que eu não sei o que fazer, pois porque a Robert sempre o meu ser vai pertencer, e eu não consigo me permitir ceder, completamente, a todo seu ser. — Digo sem fôlego e com pingos do fluido transparente que nem mais adjectivos tinha para classificar, asfixiando-me meramente nos seus soluços provenientes.
Rara, apercebendo-se da condição em que me reaquistava, não se conteve, isso porque no minuto a seguir, aconchegara-me com os seus braços, enlaçando-me, apesar das palavras duras proferidas durante todo este desacordo.
— E o que será de ti, sem mim? — Pergunta Rara com suavidade.
E nada pude dizer, posto que não havia o que manifestar e, essa era Rara, a mulher que sempre me confortara, mesmo que há segundos, nos estivéssemos a magoar. Sem me dar a opção para que possa retorquir a sua questão, puxara-me pelos membros para o exterior de meu gabinete, após desentrelaçar-se do abraço que me dera, limpando as minhas ardilosas lágrimas, antes que tivéssemos potencial para sair. Não sabia onde Rara me levaria, contudo, eu compreendia que independentemente de que lugar fosse, era melhor do que permanecer ainda a chorar dentro de meu escritório.

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EYES & EYES
RomansaArrogante para muitos e incompreendida para os mais próximos. Fria, ríspida e asentimental, assim é Lúcia Morgan, a mulher que esconde em seu olhar, a sombra de um passado turbulento, no que diz respeito ao amor, portanto, abstém-se do mesmo. Alegr...