EYES & EYES

Capítulo 27

O caminho até onde se encontrava Robert Gold, estava a ser tranquilo. A sua nova localização, era um tanto quanto distante da empresa, mas não era algo fora do comum. Durante o percurso, o senhor Park olhava-me discretamente pelo vidro do retrovisor, exibia um rosto apreensivo e alarmado, isso porque com certeza, o meu estado de tensão se podia transparecer e, eu não conseguia escondê-lo.

— Senhorita Lúcia, passa-se alguma coisa? — Inquire ansioso.

— Não se preocupe senhor Park, eu estou bem, são só algumas situações que tenho por resolver. — Digo disciplinadamente.

— Senhorita Lúcia, eu já conheço a menina há algum tempo e, também sei, que está a dizer-me isso, para tentar reconfortar-me — Elabora implementando um descanso em seu discorrer, avançando prontamente — Mas deixa-me dizer-lhe que, se precisar de alguma ajuda, seja qual for o problema, eu estarei aqui. — Finda amavelmente.

— Agradeço a sua predisposição, senhor Park e, já agora, se me quer tanto ajudar, pode parar apenas por alguns minutos? — Pergunto brandamente.

E, no minuto a seguir, o senhor Park fizera, o que lhe acabara de pedir, permitindo, desse modo, que eu possa descer do meu simples Ranger e apanhar aquela brisa de ar fresco, que já não se via, ultimamente, em Manchester. Os pensamentos em minha cabeça sobre os últimos acontecimentos, eram extremamente abundantes, mas o que mais me deixava sem fôlego, era o nosso inegável reencontro, que inevitavelmente, se aproximava.

Enquanto movia-me e desfrutava daquela brisa gélida, flashbacks do que havia passado durante estes últimos meses, invadiam a minha mente, mas antes mesmo que pudesse reviver, o senhor Park tirou-me de minhas reflexões com subtis toques de buzina, fazendo-me, dessa maneira, olhar para o meu relógio de pulso e, com isso, lembrar que o tempo, se estava a esgotar.

Como detestava atrasos, muito rapidamente retorno ao meu simples Ranger, dando mais uma vez início, a um itinerário cada vez mais conhecido por mim. Chegamos ao destinatário por volta das 6h00 da noite, a casa ficava num dos bairros nobres de Manchester, era realmente bonita e parecia muito acolhedora. Pedi ao senhor Park que fosse resolver as outras pendências, mas que se mantivesse por perto, pois ainda precisaria dele. Ao atravessar o corredor de acesso da casa, que ficava a 2 metros do portão principal, pude tocar a campainha que continha um som hospitaleiro, como já previsto por mim. Seguidamente, a porta se abre.

— Com quem tenho o prazer de falar? — Demanda uma carismática mulher, cujo nome, ainda me era desconhecido.

— Lúcia Morgan. — Profiro ordeiramente.

— Então, é a Lúcia Morgan? — Lança numa entoação, em que pude identificar, alguma ironia — Diga-me, em que lhe posso ser útil? — Expõe apresentando um sorriso forçado, era como se já me conhecesse.

— Preciso falar com Robert Gold, agradeceria, se me permitisse. — Revelo educadamente.

Nesse instante, gritara o seu nome por duas vezes e, naquele mesmo momento, ouvia-se os barulhos que provinham das escadas em nossa direcção. Era ele, o meu Robert despido de qualquer t-shirt, apenas com uma calça Jogger, possibilitando que eu veja, o seu corpo extremamente definido e estupidamente lindo. Trazia em suas mãos, uma t-shirt que, no igual período, vestiu-a para poder saber do que se tratava.

— Cassandra, Cassandra, Cassandra e, agora, o que é que se passa? — Interroga animado e, demonstrando um regozijo, que logo desaparece, assim que o seu olhar, se direcciona a minha figura.

— Esta mulher de nome Lúcia Morgan, quer falar contigo — Exprime mantendo-se no limite da educação — Qualquer coisa, estarei no lago de acesso ao bosque. — Diz a mulher de nome Cassandra, saindo e nos deixando a sós.

Naquela exacta instância, pude perceber algo, Robert não havia mudado, pois continuava com toda a sua magnífica estrutura esbelta, e os seus olhos castanho-claros parecidos com o mel, esboçavam a mesma beleza de antes, porém, tudo mudou quando olhou-me e, aqueles olhos que expressavam a pureza, haviam-se tornado escuros, dando vida a um novo capítulo de minha vida, que não queria, de nenhum modo, viver.