Parte II

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Robert

E, nesse momento, lembranças daquele dia invadem a minha memória, revelando um facto, que eu imperceptivelmente havia ignorado, a quais eram as imagens da mancha de nascimento, que estavam no pescoço de minha pequena Lúcia, ponto esse, que ela nenhuma vez, há tido.

— A minha pequena Lúcia nunca teve uma mancha de nascimento. — Murmuro alto, sem perceber de que forma me referia à Lúcia, perante ao Dr. Pierce e já perplexo.

— E não é só esse facto, Mr. Robert, há muito mais. — Confessa com uma paciência que, sinceramente, era digna de admiração.

— Avance, Dr. Pierce. — Mostro-me ansiosamente.

— Após a vossa ida, análises tinham de ser feitas, logo, no minuto a seguir, eu destapara o rosto da paciente, que devia ser o de Lúcia Morgan, entretanto, eu tive um grande susto, quando assim o fiz. A mulher que estava deitada naquela maca, era completamente idêntica à Lúcia Morgan, posso arriscar-me em dizer que eram iguais, porque as semelhanças eram enormes, eram como o 6 e o 9, mas como em toda semelhança, há uma diferença, este caso, não podia ser distinto, no entanto, a divergência, nesse caso, seria o ponto de vista e a maneira como haveriam de ser analisadas, ambas figuras — Informa exercendo outra efémera folga em sua narração, e já tomando um pouco do seu ainda quente café, em prontidão avançando — Aquela mulher divergia de Lúcia Morgan a nível do rosto, apesar de serem totalmente símeis, e as diferenças só serem vistas com uma análise minuciosa.

Enquanto médico, particularmente, já não avalio os rostos das pessoas, como uma pessoa comum faz, isso porque quando estudo os seus frontes, reparo em medidas, proporções e assimetrias. Pois bem, o facto de eu acompanhar o trabalho de Lúcia Morgan, e de ser uma figura imponente, isso faz com que ela seja uma fisionomia bastante conhecida e, singularmente, eu conhecia exactamente, o rosto e as formas de Lúcia Morgan e, aquela mulher, dissentia de Lúcia neste aspecto, a face de Lúcia era mais afinada a nível do queixo e, o daquela mulher, possuía uma ligeira espessura maior, ou seja, era mais cheio em relação ao de Lúcia, e isso só era perceptível com uma vista mais aprofundada, como disse anteriormente.

O seu septo nasal tinha um ligeiro desvio, fazendo com que o seu nariz, fosse menos afinado em relação ao de Lúcia, que era mais harmónico, e sua maçãs do rosto, com uma espessidão maior, sendo essa, a única diferença acessível a nível de todos, mas creio que, por se tratar de um caso nunca antes visto, tenha levado as pessoas e, inclusive, a equipa de médicos e paramédicos, que fizeram as suas primeiras análises a nível do corpo e a socorreram no local do incidente, a este grau de confusão e não reconhecimento.

Logo que soube do acontecimento, fui directamente, levantar os devidos dados acerca da paciente que lá se encontrava, ainda assim, o hospital não detinha essas inculcas, porque só existiam as de Lúcia Morgan, mas como o caso, já tinha sido reportado a nível de todo território, coincidentemente, os pais da verdadeira vítima apareceram rapidamente, pois reconheceram o corpo de sua filha pelas imagens que foram espalhadas, em todo canto do território e, que já andava desaparecida há dias, eis, que ao aceder a sua ficha informativa, cuja qual também continha a sua fotografia, imediatamente soube, que se tratava da paciente Lúcia Parker. — Finaliza mansamente.

— Mas então, por que o senhor não entrou em contacto connosco no mesmo instante? — Interrogo exasperado.

— Porque eu não podia, simplesmente, aparecer com a possibilidade de que a imponente empresária, Lúcia Morgan, pudesse estar viva, sendo que o caso já era dado como encerrado e as pessoas já acreditavam que ela estivesse morta, sendo ainda mais, que havia um corpo e imagens de uma mulher, completamente idêntica a ela, a circular. Eu não podia reabrir uma narrativa desta profundidade, estando em dúvida, porque apesar de existir a possibilidade de Lúcia Morgan estar viva, ela continuava e continua desaparecida, pois se tivesse aparecido, todos nós saberíamos. — Retruca consumido.

— Assim sendo, que explicações têm as cinzas? — Reponho destroçado.

— Bom, como os pais da paciente Lúcia Parker era um casal de idosos, eles já não tinham forças e nem energias para arcar com o sofrimento que aquilo lhes causava, isto posto, decidiram deixar as responsabilidades a nível do hospital, o que correspondeu com o vosso lado, pois haviam feito a mesma coisa, com isso, o hospital delineou cremar o corpo, e como o pedido dos pais de Lúcia Parker, era saber, ao menos, em que mar haveriam de ser lançadas as cinzas da filha, como o médico responsável, ou que estava à frente deste caso era eu, defini lançá-las ao mesmo mar em que havia sido encontrado o corpo de Lúcia Parker, sendo assim, como não queria causar um maior suplício a vocês, com minhas teorias, pedi ao hospital que vos notificasse, que as cinzas se colocavam no mar de Formby Beach. — Conclui arrasado.

E pela primeira vez em toda esta história, eu sentia que a minha pequena Lúcia estava viva, que era algo que eu já sabia, mas que só precisava de uma confirmação, confirmação essa, que acabara de chegar. Com isso, no minuto a seguir, sou retirado daquele recinto pelas minhas próprias pernas, pois o detective Cowell precisava saber do que se passava e, nós necessitávamos encontrar a minha pequena Lúcia, mas primeiro, tínhamos de descobrir o salva-vidas que reportara o incidente, dado que apenas ele dizimaria, qualquer tipo de dúvida que pudesse surgir, mas antes de ir, despeço-me de Dr. Pierce adequadamente.

— Agradeço imenso Dr. Pierce, o senhor acaba de me dar a razão para continuar a viver e, já não mais, sobreviver, manterei contacto consigo, visto que o detective encarregado do caso da minha pequena Lúcia, pode precisar de si. — Exteriorizo esperançoso e já marcando passos para o meu egresso daquele espaço.

— Creio que vai precisar de mim, no que diz respeito a fotografia de Lúcia Parker, então, para encurtar o enredo, eu vou mandá-la no seu contacto e, fico feliz em o ter ajudado. — Menciona alegremente.

— Agradeço por isso também, mas como tem o meu contacto? — Demando apressado e já na porta de saída.

— Não se esqueça que existem os relatórios informativos dos pacientes!— Externa gritando e pude notar que esboçara um sorriso terno.

Eu corria desesperadamente, pois agora, eu corria contra o tempo para encontrar a minha pequena Lúcia, que, cada vez mais, estava perto. Chego ao meu mais novo Mercedes e, sem perder muito mais tempo, adentro, dando início a um percurso que há dois anos, procuro incessantemente, percorrer.

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