Parte III

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- Quanta falta nos fizeste! - Berra Alice ainda tocada, desprendendo-se de meus braços, limpando instantaneamente, as últimas lágrimas que despenhavam sobre o seu rosto - Já agora, o nosso mais novo cliente já se encontra no piso superior. - Termina Alice com placabilidade, retornando as suas respectivas funções, não evitando que me tirasse um sorriso por sua ilimitada eficiência.

- Garanto que já não precisarás chorar pela minha ausência, pois agora voltei e, desta vez, será para ficar! - Evidencio acalmando-a, e pilotando-me sucessivamente, na companhia de Milena, Rara e meu Robert ao elevador, para que pudéssemos ir ao piso maioral, que era nada mais e nada menos, o lajeado onde se situavam os escritórios, isto é, o meu, o de Milena, Rara e por conseguinte, o de Romando.

Ainda dentro do elevador, se podia notar a grandiosa euforia e nervosismo por parte de Milena, porque fazia transparecer por meio de sua expressão corporal, o que era compreensível, sendo que haveria de encontrar pela primeira vez, o seu mais vigente companheiro. Assim que o elevador deu indícios de que chegáramos ao piso pretendido, as suas portas se descerram, permitindo a nossa posterior saída.

À medida que nos acercávamos, dois rostos se visualizavam no corredor de acesso ao meu gabinete, o que com certeza, tinha sido o irrepreensível trabalho de Alice, que não subira connosco, visto que sem dúvida, pudesse ter outras pendências, pois apesar do tempo que se passara, ainda detinha memórias de suas diversas tarefas, com isso, reparando que nem Milena, nem Rara e nem eu havíamos aparecido, posto que já soubera do meu alteroso retorno, ainda mais quando participara da especiosa homenagem que ocorrera há um par de minutos, além de que as notícias estavam em vários sites, fazendo com que desse modo, os pusesse à espera por breves períodos no passadiço de ingresso ao meu escritório, antes da minha chegada.

Porém, assim que as minhas íris se defrontaram com as do homem que vinha acompanhado com o seu inegável braço direito, dado que não possuía características de que fosse um assistente, para mais, era reconhecível apenas com um olhar superficial, o tanto respeito que ambos retinham um pelo outro, era como se me tivessem perfurado com uma faca de dois gumes, entretanto, desta vez, era para a todo custo reviver as dores insuportáveis de um passado sombrio que me perseguia há anos e, que não me permitia, de nenhuma forma, sentir ou viver.

Isto posto, apresso os meus passos, conduzindo-me sem paragem alguma ao meu escritório, fazendo com que no mesmo soflagrante, Rara, que de maneira evidente entendera o que ocorrera, viesse atrás de mim, porque ouvia os murmúrios de sua curta conversação com o meu Robert, que queria, de qualquer guisa, vir ao meu encontro, na proporção em que perto de minha sala chegava, porém com Rara cortando-o, dando lugar assim, ao seu posto. Então, assim que comparecera à porta de meu gabinete, abrira-a subitamente, e já com lágrimas consecutivas que escorriam sobre o meu fronte, guio-me à minha adorável mesa de Mármore, sentando-me logo de seguida, em uma das cadeiras vizinhas de minha mesa que lá se estruturavam, para que me contivesse e tentasse aquietar.

Era verdadeiramente ele, o que me transtornava em pensamentos há anos, sendo ele a razão para que eu tivesse as sequelas que hoje carrego, no entanto, antes que desse origem a mais reflexões, sou interditada pela presença de Rara, que descolou a porta de feição igualmente brusca, fechando-a urgentemente, pois já atinava o motivo por detrás das minhas prolongadas gotas de água.

- Lúcia, tu precisas de te acalmar. - Afirma Rara pacientemente, tentado apaziguar-me.

- Acalmar-me!? - Revido satírica - Tu só podes estar a brincar comigo - Articulo mordaz, alterando o meu tom de voz, já erguida e ainda em berreiro, faço uma suspensão em minha exposição - Como raios vocês puderam fazer de cliente, o homem que há anos me destruíra!? - Demando permanecendo na mesma tonalidade.

- Lúcia, tu sabes que se soubesse que era dele que se tratava, jamais o traria à British Company, pois bem sabes que as informações foram passadas à Milena, uma vez que ela é a responsável por este sector. - Cospe Rara impaciente.

E quando planeava redarguir Rara, Milena entra de rompante em meu escritório, originando um estampido, trazendo consigo uma idêntica tensão, já que era notável em sua aparência facial, assim que os meus olhos se abarbaram com os dela e, suspendendo, a minha póstera acção.

- Que raios julgas que estás a fazer, Lúcia? - Descarrega Milena exasperada.

- Milena, por favor, controla-te. - Requere Rara pressurosa, buscando amansar Milena.

- Controlar-me!? - Repete descarada - É a Lúcia que trata arrogantemente o homem que é o nosso mais novo cliente sem fundamento ou base sólida e, eu é que tenho que controlar-me!? - Sonda Milena sarcástica, elaborando uma concisa paralisação em sua interlocução, mas prosseguindo no mesmo intervalo de tempo - Será que pela primeira vez em toda a tua recorrente vida, podes deixar a tua altivez de lado? - Inquire Milena ainda zombeteira, dirigindo-se a mim.

- Ah! - Conclamo sem papas na língua - Agora sou arrogante, outra vez? - Contraponho ríspida - Tu nem sequer conheces devidamente aquele homem. - Atiro já com as lágrimas secas.

- O homem a que julgas desrespeitosamente, agora é meu companheiro, e já que tu és a perita nesta matéria, diz-me tu, que diabos conheces acerca dele? - Relança Milena alterando o seu tinido.

- Muito mais do que tu imaginaras. - Interponho descarinhosa e fria.

- Lúcia, peço-te para que pares! - Graniza Rara exaltada.

- Agora peço que continue, pois agora me interesso em saber, o que ela tem por dizer. - Dispara Milena petulante.

- Milena, por favor! - Eleva desesperada - Onde raios queres chegar com isto!? - Prega Rara simultaneamente perquirindo, totalmente convertida.

- Até onde me convier, porque sei que algo me estão a esconder. - Expectora Milena, mantendo-se na mesma nota.

- Milena, já é suficiente! - Expele Rara nos limites.

- Eu também faço parte da vida de Lúcia e tenho o direito de saber, mas pelos vistos, uns são mais privilegiados do que os outros, uma vez que aqui, não há direitos iguais. - Expede Milena austera, saindo no mesmo comenos de meu escritório.

E quando a porta de minha sala se juntara, um plangor traiçoeiro, que a todo momento prendera durante a discussão, se soltara sem nenhuma repressão e, foi nessa época, que Rara compreendendo o meu sofrimento, envolvera-me em seus braços, porque ela apreendia o que tudo suportara e a imensurável dor que aquilo me causara.

- Lúcia, eu creio que chegou a hora de contar à Milena, o que aconteceu há alguns anos. - Esclarece Rara com doçura, entrelaçada a mim.

- E como raios vou contar à Milena, que o homem pela qual se apaixonara, é o que atirou sem nenhum remorso, para a morte da minha sanidade mental? - Pergunto ofegante por motivo dos recorrentes pingos, que decaíam de meu frontispício.

E após aos meus vocábulos ditos, um silêncio se fez presente em meu gabinete, estando somente audível, os assíduos soluços que as minhas infindáveis gotas de água me provocavam, fazendo com que nos minutos pósteros, Rara também chorasse, sendo que podia sentir as suas quentes lágrimas que declinavam em meu corpo, dado que ainda me encontrava enlaçada em seus membros, visto que aquilo também lhe produzia suplício. E lá estava eu, na totalidade, destroçada nos braços de Rara em minha sala, com a escuridade viva de meu pretérito que, a todo custo, reviera, porém, desta vez, junto a uma de minhas melhores amigas, e nada poderia fazer para o deter, pois Milena já se entregara a sua paixão. O que não me possibilitava, a todo instante, restabelecer-me, era a pergunta que eu não saberia como responder: Como raios eu haveria de me entregar e me permitir viver ao lado de meu Robert, com a sombra do meu passado entre nós? A resposta era única, pois eu, simplesmente, não poderia.

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