Parte IV

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— Inverte o sentido do caminho que percorreras, através da porta que entraras e retira a tua figura do horizonte do meu olhar. — Manifesto irritada, ascendendo a minha inflexão.

— Eu sei que foi um incomum reencontro, porém ainda temos alguns aspectos por considerar. — Garante o homem que reunia as vistas no tom denegrido e, apresentando um sorriso petulante em seu fronte.

— Qual parte de que te quero para fora que tu não perceberas!? — Rujo descarinhosa — Portanto, retira as tuas inapropriadas pernas e leva-as para o exterior de meu escritório. — Propelo cruel, mantendo-me no mesmo acento.

— Eu creio que elas não são tão inapropriadas quanto a carta que há alguns anos me escreveras, que detinha o poema em que declararas os teus sentimentos e que coincidentemente, carrego sempre comigo. — Expõe Amaro ainda irreverente, tirando do bolso de sua social calça, o envelope que continha a já velha carta, pois era reconhecido o tempo que se passara através do estado em que o papel se encontrara, que havia escrito há anos, quando ainda nutria veementes emoções por sua física estrutura, mostrando-a a mim, dando tréguas em seus verbos, mas logo adiantando-se — E já agora, agradeço a homenagem no teu livro de poemas, afinal, "O teu beijo impossível" é uma inigualável obra. — Sega Amaro provocativo, exibindo um facto que até então desconhecera, todavia na mesma altura, subtraindo de sua executiva pasta, que a toda centésima o acompanhara, um livro que, indelicadamente, posicionara sobre a minha atraente mesa de Mármore.

— Eu jamais voltaria a gastar papel e tinta contigo, pois eu não cometo o mesmo erro duas vezes. — Aclaro inclemente, olhando-o fixamente, no entanto, já descrente com os factos revelados.

— Eu creio que tu ainda continuas inteligente o suficiente, para saber que na capa encontramos o título, com o nome dos respectivos autores e, na contracapa, os nomes dos seus devidos editores, isto é, Rara e Milena: Tuas queridas melhores amigas. — Retruca Amaro irónico.

E, foi nesse triz, que desesperadamente esfolhara o livro que se incluía no alto de minha mesa, a fim de comprovar o que aquele homem tivera dito e, que apenas pela designação, já havia vestígios de verdade em sua afirmação anteriormente enunciada, sendo que não precisara saber o devido epíteto do autor, porque era de mim que se tratava, uma vez que recebera o igual nome do poema que fazia anos que grafara, cujo qual o dedicara, atendendo a qualificação de "O teu beijo impossível", ao primeiro contacto visual que estipulara quando pegara o livro de minha secretária. Na ocasião em que, por fim, chegara a tal dita contracapa, lá estavam as antonomásias que, a todo custo, queria que não lá aparecessem. Porém, ainda não completamente acreditando, porque me negava a aceitar que aquilo fosse real, prosseguira passando as folhas e, assim, tão depressa me esbarrara com as escrituras distinguidas por mim, que faziam parte da constituição do poema que tinha anos que escondera, uma vez que eu lera e, somente assim, admitira que tudo aquilo era uma veridicidade. Era como um balde de água fria, entretanto, desta vez, não era para me fazer renascer, mas sim para me assassinar com sua tão baixa temperatura. Eu não queria fiar, eu não podia crer que aquilo estava a acontecer e, à vista disso, não pude evitar que lágrimas escorressem sobre o meu airoso rosto.

— Eu amo-te. — Formula Amaro, achegando-se ao meu débil corpo.

— Tu realmente deves achar que és muito importante, para pensar que um simples "amo-te" surtiria o mesmo efeito. — Disparo estrondosamente abatida e com inditosas prantinas em minha verônica, não deixando de fazer menção a sua asseveração previamente expressada.

— Mas eu não busco o efeito, eu busco a reacção e, se tu não me dás, eu vou buscá-la. — Pronuncia Amaro sarcástico e me roubando no minuto a seguir, o beijo que sempre hei pretendido desfruir, uma vez que já vizinho de mim se cimentara.

Era o beijo impossível que eu nunca tivera, tal como o verso que eu descrevera, quando ainda impregnava uma estúpida emoção em meu peito. Amaro beijara-me sem cessar e não podia negar que sua osculação tinha um sabor mélico, pois era suave como um espumante e doce como uma rica dose de mousse, e somente com a falta de ar, apenas assim me pôde largar. No momento em que planeava marcar o seu rosto com o estridente barulho dos meus cinco dedos, Amaro em uma resposta rápida, segurara a mão que assimilava a aliança que mantinha a conexão com o homem, que agora, jamais me poderia transferir, dado que Amaro era detentor de uma intelectualidade abismal, o que o permitia ter uma alta capacidade de percepção.

— Nem tentes bonita Lúcia e, já agora, elegante aliança, porém, é uma pena que muito em breve vai deixar de prevalecer. — Sentencia Amaro com um riso audacioso, apertando o meu braço, o que propiciou, dessa maneira, entrever o raro material redondo que se apensava entre meus dedos.

— Tu tens noção do sofrimento que estás a implicar à Milena!? — Questiono gritando arquejante e ainda com Amaro agarrando o meus braços, entre lágrimas que sempre me fizeram companhia, até mesmo no átimo do beijo.

— O único erro de Milena e do homem que agora julgas amar, é de se terem intrometido em uma história que ainda não tinha um ponto final. — Discursa Amaro satiricamente, largando o meu membro descarinhosamente — Pois porque eu não estou disposto a dividir-te, uma vez que eu não gosto da metade da laranja, mas sim ela por completo. — Sinaliza Amaro devasso, deixando uma mordida em meus lábios, sendo que ainda sustinha o seu corpo circunjacente ao meu e, palmilhando na evolução, o caminho para o egresso de meu escritório, fechando a porta instantaneamente.

E quando pensara que mais nada pudesse surgir, e que em meu abisso me pudesse enterrar, a porta de meu gabinete se torna a descerrar, identificando Rara que entrara de rompante, segundos após a ida daquele desavergonhado homem de meu escrínio, dando assim origem, a mais uma tensa e intensa discórdia, entretanto, já comigo sem anélito para tentar aguentar.

Continua...

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