Parte II

18 3 19
                                    

Milena

— A primeira, é por não me ter sentido uma mulher suficiente, porque me hás traído — Enuncio aos berros e de uma maneira ríspida e fria, o que proporcionou, ainda mais, a comoção dos seres à volta de nós, pois os seus timbres sempre os denunciavam, dando tréguas em minha pronunciação — A segunda, é por teres-te intrometido na recorrente vida de Lúcia, outra vez, e pelos estragos que hás causado, portanto, te garanto, que se na vida de Lúcia te voltares a colocar, eu não me vou importar de privar a minha liberdade, entre 4 paredes, durante alguns anos, porque nenhuma alegria, será maior do que a minha, quando o teu corpo estiver a sepultar, depois de te esquartejar e assassinar. — Finalizo continuando no mesmo sonido, motivando o impacto de Amaro, pelo contacto ocular que ainda assentáramos, por causa de minhas últimas palavras ditas e, também, pelo embate por parte das pessoas que lá se encontravam, uma vez que entendia esta singularidade, pois no minuto a seguir, iniciara o processo que daria origem aos movimentos coordenados de meu corpo, após virar o meu vigor perante Amaro, fazendo com que aquele menosprezável homem, fizesse parte da minha visão anterior, para que, desse modo, pudesse desertar aquele café e, com isso, não podendo evitar de alicerçar uma conversação visual, em torno de meu aspecto, deixando assim, aquele desprezível homem, na sombra e na companhia de sua contemptível figura.

 No exterior daquele recinto, sem mais atrasos, adentrara ao meu meritório Volvo, e sem perder muitos mais minutos, começara a rota, cujo itinerário, era memorizado por todos, que era nada mais e nada menos, que o hospital onde Lúcia se mantinha inconsciente, dado que eu precisava conversar com Rara e, de alguma forma, poder ver Lúcia, a mulher que repulsara, sem sequer  dar a opção, de uma breve explicação. Depois de longas horas com pé na estrada, mostrara-me, finalmente, ao ponto intencionado. Assim que chegara, possibilitei-me cair dentro da minha consagrada viatura, pois vagidos que durante toda esta conjuntura foram engolidos diante daquele ignóbil homem, no Malfbourne Coffee, estavam nesta hora, a escorrer sobre o meu frontispício, numa potência de maior grandeza. Eu, sem dúvidas, não haveria de me perdoar por tudo isto, pelo mal que hei feito Lúcia passar, na sequência destes episódios todos.

Não conseguia largar o meu escolhido Volvo, para poder introduzir-me ao hospital, visto que o meu próprio corpo, me retivera, porque copiosamente, a minha mente dizia que não era digna de lá constar e, seguramente, equivocada ela não poderia estar, sendo que realmente, eu não era honrada para compartilhar esta dor com Lúcia, posto que fui a responsável por implicar, um desassossego de maior proporção. Mas por outro lado, queria e necessitava sentir os aconchegantes braços de Rara, à volta de minha estatura, mesmo que não me perdoasse, ou talvez, me julgasse, visto que no momento, eram os únicos refúgios que me poderia afundar. Portanto, fora isso que fizera.

No seguimento de enviar uma mensagem em seu número, através de meu apetrecho, que se compunha em minha carteira, no núcleo de meu Volvo, em poucos minutos, a fisionomia de Rara, andarilhava pelo externo daquele trecho de hospital e, assim que identificara o meu nobre veículo, posto que a observava vindo em minha direcção, por meio da vidraça de meu tido carro, Rara prontamente, adentrara em seu íntimo.

Apenas com um contacto visual que cimentáramos, e sem pronunciar quaisquer palavras, Rara reconfortara-me com os seus aconchegantes e tórridos membros, sem alguma objecção ou oposição. E, era aquilo que, de facto, precisava, pois Rara, além de conhecer a minha figura, ela soubera aquilo que realmente rastreara em cada situação, sem eu fazer o uso, ou esboçar algum vocábulo e, isso, eu admirava, assim como todas as suas outras, infinitas qualidades. E lá estava eu, nos braços de Rara, destroçando-me em lágrimas, esperando que Lúcia despertasse de seu mais profundo sono, para que assim, pudéssemos os ânimos assentar e nos reconciliar e, algum dia, me poder perdoar, porém, quanto mais tempo se passara, mais asfixiada eu me encontrara, porque a verdade era que, se Lúcia não me perdoasse, eu compreendia que jamais, a poderia culpar.

EYES & EYESOnde histórias criam vida. Descubra agora