Correntes dias...
Já se havia passado exactamente 2 anos, desde a minha suposta morte e, eu ainda não podia acreditar em como as coisas, tinham tomado contornos bem diferentes. As notícias acerca do meu suposto suicídio cessaram durante este período, visto que quanto mais os dias se passavam, menos era a probabilidade de se provar o contrário, ainda mais com o corpo de uma sósia completamente igual a mim. E, hoje, precisamente hoje, era o dia em que todos os anos, se assinalava a data do meu nascimento. Hoje era o meu aniversário e, chega a ser contraditório, pois o dia que devia ser carregado pela vivacidade, com certeza, será carregado pela mortalidade. Digo isto, dado que sei o quanto Milena, Rara e Romando gostavam deste dia.
Nestes últimos anos, os meus pensamentos eram sempre carregados de fortes memórias, sendo Rara, Milena, Romando e o Robert, o meu Robert, os protagonistas de todos eles. Recordava-me de todos os momentos, desde os felizes até aqueles considerados menos alegres, porque todos eles faziam parte do conjunto, que dava vida à Lúcia Morgan. Eu queria poder voltar, queria poder minimizar os seus sofrimentos relativamente a minha morte, mas eu não poderia e nem deveria fazer isso com eles, principalmente com Robert. Sempre que pensara nele, lágrimas infindáveis decaíam sobre o meu rosto e, com elas, se faziam acompanhar perguntas que estavam fixamente impregnadas em minha mente: Como será que aqueles olhos estão? Será que o seu irrefutável e adocicado aroma, ainda têm as marcas de Lúcia Morgan? E finalmente, a pergunta que mais me causava arrepios: Será que ele finalmente alcançou a felicidade? R: Essas eram as interrogações, cujas quais, eu nunca obteria a resposta, pois já não é algo que eu possa e consiga alcançar.
Os dias e os anos que se passam com o Ryan, têm sido inexplicáveis. Inexplicável era a palavra que mais se adequava, porque inexplicável foi, e é a conexão entre nós, inexplicável, foram e são os nossos momentos e, inexplicável, foram e são os nossos sorrisos em cada um deles. Ryan tornara-se muito mais do que um porto seguro, sendo que agora, ele era tudo no que podia e queria me segurar. Ryan conseguia tirar os melhores sorrisos de mim e, isso, me lembrava Rara, mesmo que talvez o momento não fosse tão apaziguador, posto que eu me encontrava constantemente com lágrimas correntes, porém, isso não era um obstáculo, dado que mesmo com isso, ele assim, o fazia.
Ryan saíra já há algum tempo, pois ele acordara cedo e dissera-me que era por questões de trabalho. Eu creio que a vida dedicada as águas salinas, deve ser bastante movimentada, então, com isso, pude deduzir que se tinha esquecido de que dia era hoje, já que conhecendo ele, o mais normal, era acordar com tamanho estrondo provindo dos utensílios de cozinha, que ele haveria de produzir, ainda mais sendo um aniversário. Me punha agora na cozinha, preparava o meu habitual pequeno-almoço, devido que com Matilde, pude aprender os melhores pratos, não só os mais simples, como também os mais elaborados, era uma mãe para mim e, eu não me conseguia acalmar com ideia de seu suplício, porque posso imaginar a dor interminável de uma mãe que perde os seus filhos, além de que eu também, já experimentara este tipo de dor, porém, no meu caso, era de filha para progenitores.
Considerava a ideia de preparar alguma coisa para Ryan também, sendo que costumeiramente, eu faço as refeições e, era algo de que gostava muito, dado que por cozinha, eu tinha uma paixão, paixão essa que Matilde me havia ensinado, mas como Ryan saíra cedo, não sabia se devia, mas por encanto e paixão, decidi fazer e, foi quando então, sou surpreendida por Ryan que adentrara na cozinha com um bolo de amêndoas e uma garrafa de champagne, dando e encantando-me com os seus devidos parabéns.
- Achaste mesmo que eu esqueceria? - Pergunta atrevido.
- E depois de 2 anos, ainda consigo me surpreender contigo. - Exprimo surpresa.
- Mas isso é o ideal, afinal, o que é um casal sem as devidas surpresas? - Demanda continuando no mesmo tom.
No minuto a seguir, Ryan se aproximara de mim e agarrara-me pela cintura, permitindo que eu, me achegasse mais a ele e, no momento em que estava relativamente perto, depositara em meu corpo impiedosas cócegas, que me faziam rir alegremente.
- Tu ainda me pagas por isto. - Exponho ainda em risos.
- O que eu posso fazer, se um dos teus pontos fracos está precisamente nas minhas mãos? - Interroga alegre.
Depois disso, Ryan afastara-se de mim, deixando um suave beijo em minha testa, e eu sabia que quando ele assim procedia, era porque mais algo havia.
- Estou com os ouvidos abertos. - Digo motivando-o a falar de que assunto se tratava e já circunspecta.
- É um assunto sensível e... - Interrompo-o sem o deixar terminar - Ryan, por favor, não comeces com as tuas parábolas e vá directo ao ponto crucial. - Enuncio continuando no mesmo tom. Na sucessão de um longo suspiro, procedeu o seu discurso.
- Até quando tu vais fugir? - Inquire pacientemente.
- Ryan, eu não quero falar sobre isto agora. - Retruco ríspida.
- E quando quererás? - Atira desassossegado - Lúcia, eles merecem saber que estás viva! - Vocifera exasperado.
- E será que tu não percebes!? - Devolvo descarinhosa - Como raios eu vou aparecer depois de 2 anos, sendo que eu fui dada como morta e ainda há um corpo e um túmulo que o comprova? - Questiono impetuosa.
- Tu estás apenas a arranjar desculpas não plausíveis para não voltar e, enquanto esta tua arrogância prevalecer, tu vais continuar a matar-te por dentro. - Comenta impaciente e elevando sua vocalidade.
- Eu não estou a ser ARROGANTE! - Retorno aos gritos.
- Sim estás! - Vozeia descarado - Arrogante porque privas os teus próprios sentimentos e, arrogante, porque retiras a oportunidade dos outros sentirem estes mesmos sentimentos. - Palestra Ryan indignado.
Naquele exacto intervalo, gotas de água traiçoeiras despenhavam sobre o meu rosto, e quando pensei que Ryan me pudesse deixar sozinha, sou aturdida com os seus acalentadores braços à volta de meu corpo, acalmando-me e, mais uma vez no dia, que deveria ser carregado apenas por alegrias.
- Eu sei que é bastante difícil para ti, mas eu ainda quero conhecer a tua "pequena Rô", a divertida Milena e a engraçada Rara e, claro, aquele que cuja mente, razão e o coração já te havia roubado a partir do primeiro olhar. - Profere serenamente.
Quando Ryan citou indirectamente o Robert, o meu corpo arrepiou-se, era inegável o efeito que Robert provocaraem mim, já não era algo que pudesse omitir. Nestes últimos anos, ele se fez presente de maneira ainda mais intensa a nível de meus pensamentos e, Ryan sabia de todas essas particularidades acerca de Lúcia Morgan, assim como Lúcia Morgan conhecia bastantes aspectos acerca de Ryan Rosland, visto que ele era o irmão, que Lúcia Morgan sempre almejou ter e, que com certeza, agora conectados, esses laços jamais haveriam de se romper.
- Será que eles conseguirão me reconhecer? - Questino atordoada.
- Tu não mudaste nada e ainda mais, tu és inconfundível. - Assegura com um sorriso, olhando em meus olhos, entretanto, ainda com os seus braços sobre o meu corpo.
- Mas e se eles não me quiserem perdoar? - Interpelo no igual ponto.
- Então, farás de Liverpool a tua nova localização, porque um lar aqui, tu sempre irás ter e, um Ryan para chorares, sempre que te apetecer. - Afirma rindo e era incrível em como podia tornar situações sérias em tamanha simplicidade.
- Quando iremos? - Pergunto ansiosa.
- Apenas no dia em que menos esperares. - Conclui colocando um beijo em minha testa, desentrelaçando-se, desse modo, do meu corpo e abandonado à cozinha.
Assim, a cada minuto, segundo, décima, centésima ou milésima de segundos, se aproximara cada vez mais, o dia da minha volta, cujo qual ainda desconhecia o dia e, com isso, se acercava também, o dia em que haveria de voltar a reviver. Reviver tudo aquilo, que tentara a todo custo, esconder...

VOCÊ ESTÁ LENDO
EYES & EYES
RomansaArrogante para muitos e incompreendida para os mais próximos. Fria, ríspida e asentimental, assim é Lúcia Morgan, a mulher que esconde em seu olhar, a sombra de um passado turbulento, no que diz respeito ao amor, portanto, abstém-se do mesmo. Alegr...