Capítulo 67

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Rara

Pós escandalosa retirada de minha patente moradia, a minha visiva frontal, continuara a ser, a de minha clara porta, uma vez que assim como a sua espalhafatosa largada, de igual maneira, se dava a minha ruidosa retenção. Era incrível como Milena não percebia, por intermédio dos olhos de Lúcia, a realidade nítida e, que toda esta presente eventualidade, a fragmentava por dentro. Era como se não conhecesse Lúcia e, por isso, cuspira palavras, sem nem aos menos, fazer o uso da medição delas e, tudo isto, para defender o homem que julga inocente, porém, eu sabia que, se algum dia viesse a descobrir, a amarga realidade, haveria de lamentar-se por tais dizeres cuspidos, todavia, eu era capaz de compreender o seu lado, afinal, um vínculo desbaratado e emoções cortadas, podem revelar o "outro lado", da personalidade de figuras de que mais gostamos.

No encadeamento de estar perdida em raciocínios, cujos protagonistas já eram numerosamente vinculadas, decidira voltar-me à Lúcia, que durante toda a discórdia que se passara entre mim e Milena, nenhuma palavra pronunciara e, se podia assimilar o porquê, dado que todo este assunto, a lacerava ainda mais. Contudo, quando revertera a minha expressão a de Lúcia, deparara-me com o pior cenário e pesadelo de todos os tempos. Lúcia, a minha Lúcia, estava inconsciente sobre o meu opulento chão de madeira, posto que por entre os seus pulsos, saía o líquido responsável pelos nossos processos metabólicos a nível corporal, de uma forma constante, já que os havia mutilado.

Pingos ininterruptos começaram a decair sobre o meu fronte. Eu não podia e, nem queria, fiar que aquilo fosse real, e que ácida agonia vivida há 2 anos, se estava a repetir, no entanto, desta vez, no seu mais alto grau de escala, e com porção duplicada, sendo que eu presenciara e, o meu cérebro, conservara as acres imagens de seu corpo, apagado. Sem morosidades e em pânico pela tensão que se estendia, na categoria de minha constituição física, agachara-me para tentar distinguir, como ela havia feito tal acto, se nada partira e não existia, nenhum objecto de carácter cortante ao seu redor, para consumar tal prática. Eis, que olhando o perímetro de onde se encontrava a sua desacordada estatura, identificara uma lâmina. Lâmina esta, que era violentamente afiada, já que eu era a proprietária dela, sendo que as utilizava para fazer recortes de alguns itens, por causa de assuntos relacionados a decoração, que era uma área, cuja qual, também trabalhara.

Estava tão concentrada na discordância com Milena, e em proporcionar a Lúcia, um dia com algumas alegrias, que hei-me esquecido de retirar, o pior veneno das íris de Lúcia, porque não arrumara devidamente, os materiais da minha generosa sala, na noite anterior. O remorso tinha a quem se direccionar e, desta feita, eu era o semblante desejado e, o choro que, em nenhum momento, abandonara o meu frontispício, durante toda esta circunstância, tinha-se intensificado ainda mais e, com isso, a fim de buscar aliviar a asfixia que se consumia, em todos os recantos de minha carne, brados em seu mais alto padrão, se escapuliram de meus lábios, provocando, dessa feição, um barulho desmedido.

Sem nem pensar correctamente, e com o desespero que havia-se juntado à "festa", que me ocorria internamente, erguera o meu corpo, prontamente, do local em que se apresentava, para guiá-lo à cozinha, onde o meu telefone se descobria, para que pudesse efectuar uma ligação ao senhor Park, que era o rosto que sabia, que mais velozmente haveria de chegar, visto que era muito pontual e, que menos riscos, cometeria, no que diz respeito à condução, sendo que era afincadamente cuidadoso com ela, isso, pelo facto de já em várias vezes, termos compartilhado o mesmo trajecto, itinerário e veículo e, assim, dessa guisa, arredar Lúcia da ocasião em que se mantém.

Com o meu telefone sobre minhas trémulas garras, discara a senhor Park, que atendera ao primeiro toque e, que após lhe ter dado as explicações do que se passava, desligara, sem retardos, a chamada, depois de depreender a penosa conjuntura que sucedia, e de ter educadamente, se despedido de mim, pela via telefónica. Era reconhecível a sua apreensão no aparelho electrónico e pelo seu tom de voz, pois anuía que senhor Park, gostava muito de Lúcia, não apenas pelo rigor de trabalharem juntos há muitos anos, e desde início, mas também, era pelo motivo da união que se estabelecera entre eles e, eu absorvia esta precisão, por ser uma das pessoas, que também fazia parte de todo o conjunto.

Após isso, e num abrir e piscar de olhos, senhor Park entrara pela porta de meu endereço, de uma maneira apressurada e consternada, que era algo que se podia reparar, no grau de seu realce corporal, evacuando o vigor de Lúcia, do lugar em que se preservava e, carregando-a na dita e conhecida "posição de noiva",  uma vez que a porta de minha casa, não permanecia trancada, porque antes da presença de senhor Park, Milena saíra de cá, há um par de minutos e, pelo nosso contexto, era previsível que senhor Park, assim que abrenhasse, ignorasse a minha veterana campainha e os tais ditos "bons modos", além de que, de semelhante forma, dispensarmos os tais "cumprimentos".

Com o muque de Lúcia nos membros de senhor Park, adiantara-me para abrir a minha porta, dado que ela se há fechado com a presença e entrada de senhor Park, no núcleo de minha estância e, assim, simplificar o seu egresso de meu aposento, dado que ele deslocara a Lúcia em seus braços. No extrínseco de minha residência, caminháramos em passos rápidos até ao nobre carro de Lúcia, para que sem mais tardadas, principiássemos o percurso, cujo destinatário, era sabido por todos, porém, na medida em que nos aproximávamos do veículo de Lúcia, não pude deixar de verificar, a comparência de Milena, no centro de seu saliente Volvo, ainda sobre a periferia de minha morada, com isso, não pude parar de vislumbrá-la e, consequentemente, de lançá-la um empedernido e austero olhar, que sem dúvida, alcançara o significado escondido por trás dele, porque se Milena não comparecesse a este episódio, desta vez, quem haveria de renegá-la e, nem sequer, dá-la a opção de se explicar, seria a minha figura, pois de imediato, não a perdoaria.

Depois da técnica para colocar Lúcia em sua viatura, e já com o seu corpo enroscado ao meu, posto que eu estava no banco antecedente, juntamente com seu formato, porque inanimada se compunha, sem mais demoras, senhor Park alvorecera a trajectória com um único guião, visto que não havia opções no tal dito cardápio. Durante a viagem, olhara algumas vezes através do vido atrás de mim, para constatar se Milena andava atrás de nós e, pela primeira vez em toda esta história, Milena acertara em suas acções, pois ajustava-se, deliberadamente, atrás de nós em seu Volvo e, para que isso acontecesse, foi necessário instituir uma comunicação ocular, através de um gélido e ríspido avistar, lançado a ela, por mim, para que atinasse, nem que fosse, na menor equivalência, os frutos de suas atitudes.

Continua...

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