Capítulo 51

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Os dias que se transcorriam ao lado de Ryan, eram cada vez mais encurtados, porque eu assimilava que a data, em que haveria de voltar ao capítulo de minha vida, a qual tentara a todo custo fugir, se aproximava. Ryan sabia, exactamente, o dia em que se colocaria o ponto final, nesta viagem que dura, formalmente, 2 anos, contudo, eu como sendo a protagonista, não tinha conhecimento do início do roteiro. Aos poucos, as peças do puzzle começavam a ingressar aos seus devidos lugares, no entanto, posso concluir que, por mais que a última peça possa se esconder, ela jamais se poderá omitir.

Ao longo de todos esses dias, pensamentos ainda mais intensos e recorrentes, incluíam-se em minha memória, sendo o meu Robert, a figura principal de todos eles. A verdade é que, inegavelmente, me havia apaixonado e entregado a ternura de seus brilhantes olhos, e do seu doce e amargo beijo, pois os seus lábios continham essa irrefutável mistura, posto que eram suaves e quentes e, com o mais profundo sabor, equivaliam a um meigo Cinzano, que na medida em que o seu líquido penetrava a boca, dando origem a um doce paladar, simultaneamente percorria e descia a garganta, queimando totalmente, deixando na boca e garganta, o seu leve e subtil acre palato, assim era o seu inquestionável beijo.

Lá estava eu, sentada em uma das cadeiras que se metodizavam na grandiosa biblioteca de Ryan, perdida em minhas observações, o que fazia um contraste com os livros que lá estavam, pois diferente de mim, todos aqueles livros, jamais se poderiam perder, porque eles eram os responsáveis pelo nosso discernimento, que se reflectia no nosso modo de viver. Preparava-me para usufrutuar de alguma riqueza, presente naquela enorme biblioteca, quando sincronicamente, a porta daquele mesmo recinto se descerra, revelando Ryan admiravelmente sorridente.

— Já podes parar de contar os dias. — Descarrega Ryan tranquilamente.

— Ao que te referes? — Pergunto com um certo grau de baralhamento, todavia, já imaginando o que aquilo significava.

— O dia que abre a porta para a volta de Lúcia Morgan, chegou. — Clarifica Ryan, na mesma sonância.

E na mesma milésima, a consonância que dava origem àquele dia, havia acabado de desaparecer, dado que o que menos esperava, tinha acabado de acontecer.

— Isso só pode ser uma piada de muito mal gosto. — Remito madrasta.

— Nós já havíamos conversado sobre isto, e tu sabias que o dia, haveria de ser aquele que menos esperavas. — Repõe Ryan audacioso.

— Ryan, eu não tenho razões para voltar! — Conclamo inexorável — Qual raios não consegues perceber, que os mortos não voltam a viver!? — Atiro áspera, entretanto, com lágrimas que se formavam em meus olhos.

— Nem mesmo quando eles tentam, a todo custo, sobreviver? — Demanda Ryan abespinhado, fazendo uma pausa em sua palestra, porém, continuando prontamente — Tu podes até te matar, mas não será eu que atirará para te executar, portanto, tu irás voltar. — Fixa Ryan severamente.

— Será que tu não consegues perceber?! — Surjo sendo incompreensível — Eu não tenho forças para reviver! — Exclamo alterando a minha entonação, e já com gotas de água que despenhavam sobre o meu rosto.

— Tu podes até não ter, mas o homem que te espera há 2 anos, com certeza, jamais se poderá conter. — Proporciona Ryan enternecidamente, avizinhando-se de mim.

— Mas o que poderei dizer a ele, depois de 2 anos? — Analiso merencória — Eu não tenho o direito de carregá-lo para o meu próprio abismo, além do mais, ele já deve ter alcançado a felicidade. — Enfatizo ainda em berreiro.

— Um homem que ama com tamanha profundidade, em tempo nenhum, esquece a mulher cuja qual o seu coração pertence. — Expõe Ryan atenciosamente, mergulhando os seus braços por entre o meu corpo, relaxando-me.

— E como sabes deste particular aspecto? — Investigo atordoada.

— Julgavas mesmo que eu não apreendia, a maneira como as tuas marcadas contemplações, se faziam resplandecer pelas expressões a nível do teu rosto? — Inquire Ryan atrevido, ainda com os seus membros por entre o meu corpo.

— Então, tu espiavas-me? — Retorno descrente, limpando as últimas lágrimas que decaíam sobre minha face.

— Não — Manifesta descaradamente — Porque nos teus olhos, eu sempre encontrei as respostas para as minhas dúvidas, além de que no teu olhar, se percebiam duas coisas: Tu, apaixonada por ele e, ele da mesma maneira, embriagado nas características da tua doce e amarga personalidade. — Declara Ryan com paciência, desvencilhando os seus braços do meu corpo, deixando um suave beijo em minha testa.

— Mas e se... — Corta-me Ryan, colocando o seu indicador e o seu médio dedo sobre os meus lábios, no mesmo instante, sem possibilitar que avance — Lembra-te disto, pois é o que os homens completamente apaixonados fazem, quando estão perante a mulher, cuja qual, pertence o seu ser. — Adiciona Ryan hílare.

Na série disso e, pela primeira vez naquele dia, eu estava a rir, sendo mais uma vez, Ryan, o irmão que eu nunca tive a oportunidade de ter, no entanto, que agora tenho, o autor daquele comprazimento.

— Preparada? — Explora Ryan sólido.

— Apenas ao teu lado estarei. — Apregoo tensa, mas já me preparando para o incontendível reencontro que se abeirava.

E, foi nesse momento, que eu e Ryan nos dirigimos à porta, para abandonar a ala que, inquestionavelmente, recebia o título de livraria. Já nos corredores de sua dilatada casa, Ryan e eu separamo-nos, pois eu tinha de ir arrumar as minhas roupas, que Ryan durante todo este período, me havia oferecido, já que eu ia levá-las comigo, porque com certeza, eram uma recordação que jamais esqueceria, enquanto ainda existisse oxigénio em meus pulmões, para mais, eram muito bonitas, visto que Ryan tinha um excelente paladar, não só para a culinária, mas também para aspectos de outro género.

Continua...

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