Capítulo 31

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Após aquele episódio na casa de Cassandra, já não podia permanecer dentro daquelas quatro paredes, foi então, que defini partir de uma maneira brusca, pois encontrava-me em prantos. Pego em minha carteira, onde continha o meu telefone e, efectuo a ligação ao senhor Park, que rapidamente chega, sendo que havia dito para que não se mantivesse distante. Desse modo, subo ao meu simples Ranger, pedindo-lhe que iniciasse a rota até a empresa, dado que sabia que, se fosse para casa, as insónias e os meus pensamentos jamais haveriam de me deixar descansar e, sinceramente, a única coisa que poderia acalmar-me, era o trabalho. O senhor Park olhava-me preocupado pelo meu estado, porém, fazia-lhe sinais, dando a entender que estava tudo bem, para que ficasse mais descansado.

Voltamos à empresa num par de horas, apesar da casa de Cassandra ser um tanto quanto distante da empresa. Antes que pudesse sair, apelei ao senhor Park que fosse cumprir os seus horários, pois ainda havia algumas pendências que precisava resolver, isto porque sabia de sua agenda. Contudo, disse-lhe também, que não levasse o carro, pelo motivo que haveria de conduzir até casa hoje, e também, de certa maneira, minimizar o seu esforço, por isso, acabei por requisitar que tirasse férias e, ele assim, o fez. Desceu do meu simples Ranger e apanhou um táxi, rumo ao seu destinatário. A seguir, arrio também, adentrando à empresa.

Era tarde, eram precisamente 9h00 da noite. Esse era o horário que os seguranças tiravam para efectuar os seus lanches nocturnos, como não existia ninguém, foi muito mais fácil subir ao meu escritório, em razão de  não querer que meus funcionários, me vissem naquela condição.

Eu tinha assumido todas as responsabilidades, no que dizia respeito ao Robert Gold e, com isso, passara vários recados à Alice, para que posteriormente, repassasse à Rara, Romando e Milena, de como proceder em relação a Robert Gold, visto que entre nós, os ânimos ainda não tinham melhorado, inclusive requeri à Alice que pedisse à Milena, a fim de que escrevesse um bilhete ao seu funcionário, a respeito do horário em que seus pertences mais pesados, chegariam a sua mais nova casa. Escolhi o horário propositadamente, pois agora, queria que Cassandra visse e se recordasse, que existe uma Lúcia Morgan por trás de Robert Gold e, que não pretendia ser esquecida. A princípio, só não sabia que, o dia em que faria a entrega de seus pertences, era precisamente, o dia em que receberia, a chamada de Dr. Miller, para saber acerca de Robert Gold.

Cassandra era uma mulher bonita e bastante atractiva, o que me incomodava, porque não a queria perto do meu Robert Gold, mas ao mesmo tempo, tinha de mantê-lo longe de mim, pois desejava protegê-lo de mim, isto porque jamais me permitiria sentir novamente.

Introduzi-me ao meu escritório, pousei a minha carteira, sentando-me logo de seguida, sobre a minha amável cadeira de seda e, instantaneamente, comecei a trabalhar, ou pelo menos tentava, dado que as minhas reflexões assombravam-me, fazendo com que nesse momento, gotas de água traiçoeiras, despencassem sobre a minha face, dando origem a um choro incontrolável.

A quem eu tentava enganar? A verdade, é que eu me havia apaixonado por ele, sem perceber, já não saía de meus pensamentos e, sem poder controlar, já não sabia como dominar as minhas emoções. Foi como um xeque-mate, avassalador e completamente imprevisível e, por mais que negasse interminavelmente, eu amava-o e, isso, não podia negar, pelo menos, não a mim mesma.

Mas não podia deixar que a história se repetisse, sendo que há alguns anos, apenas queria que alguém me parasse, ou mesmo que aquele homem o fizesse e, mesmo que dissesse que não sentira nada por mim, por mais que doesse, tenho a certeza que jamais carregaria as sequelas que tenho hoje, todavia, infelizmente ninguém o fez, mas não ia permitir que o Robert, o meu Robert, passasse pelo mesmo, então, só via duas soluções para isso: Ou me perdia completamente em seus braços, arrastando-o ao meu universo mais sombrio, ou o deixava ser livre, relembrando um amor que jamais fora experimentado. E, sinceramente, escolhi a segunda.

Chorava copiosamente, e soluçava sem parar. Já passavam das 10h00 em ponto da noite, quando começava a ouvir alguns barulhos provindos do corredor de acesso a minha sala, junto ao balcão de Alice. Abertamente falando, não me importei, porque julguei que fosse um dos funcionários que tivesse esquecido alguma coisa e, que por isso, tenha vindo buscar, ou que fosse um dos seguranças fazendo as habituais vigias nocturnas, para ver se estava tudo em ordem. Mas também, pela razão de que minha mente estava demasiado barulhenta, para se preocupar com tal coisa. Seguidamente, surpreendentemente e bruscamente, alguém descerra a porta, causando-me uma certa perplexidade, porém, quando senti o aroma feminino já bastante conhecido por mim, a única coisa que fiz, foi olhar em sua direcção e, constatar, que era ele, uma vez mais, era ele. O homem que não saía de meus pensamentos e que cuja mente, razão e o coração, já me tinha roubado.

Discursamos algumas palavras, apesar disso, naquela noite, mais uma vez, ele aturdira-me vindo em meu trilho e, roubando-me, o beijo que considero o melhor, de todos os tempos. E, que pela primeira vez em toda esta história, não tinha forças e nem queria relutar, pois era esse o sabor mais adocicado, mas com misturas amargas, que haveria de levar comigo, para sempre.

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