EYES & EYES

Capítulo 9

O beijo dele era terno e macio, os seus lábios eram abrasadores e bastante adocicados, assim como o seu eflúvio. Eu me envolvi naquele beijo porque seus lábios não eram só rosados e convidativos, pois deixaram de parecer ser, para ser. Visto que era verdade, era como chamávamos na velha França: Le magnifique Petit Gâteau. Seu beijo era como a calda de chocolate que saía daquela maravilhosa sobremesa, pois era quente, única, espantosamente deliciosa e, acima de tudo, com aquele toque especial. Assim era seu tacto, apenas diferente e, sem dúvidas, algo magnífico, sendo que era incomparável. Mas eu sabia que tinha de parar, porque conhecia o rumo que isso poderia tomar e eu, eu simplesmente não me permitia sentir. E, faço isso, empurrando-o e com o barulho estrondoso dos meus cinco dedos marcados em seu rosto, atraindo todas as atenções de pessoas para nós, todavia eu não me importava, dado que eu só, só queria parar tudo aquilo.

— Tu nunca mais chegues perto de mim, quem tu julgas que és para fazer isso?! — Revelo rude e elevando a entoação de minha voz.

Ele olhava-me incrédulo, com seus olhos fixos em mim, sem pronunciar qualquer palavra e, pude notar que em suas íris, formavam-se algumas lágrimas.

— Estás demitido. — Digo áspera e saio daquele parque sem olhá-lo, deixando ele e todas aquelas pessoas para trás.

Retirei-me o mais rápido possível daquele recinto, e como não queria incomodar o senhor Park, uma vez que não queria que me visse neste estado, pois compreendia que ia acabar por fazer-me algumas perguntas e, eu, não estava disposta a responder a um "A senhorita está bem?" Ou um "Passa-se alguma coisa, senhorita Lúcia?" . Limito-me apenas a chamar um táxi, direccionando-me, deste modo, para casa de Rara, pelo motivo de que, de certa maneira, eu precisava desabafar, e eu sabia que naquele momento, ela era a única capaz de me entender, já que somente ela conhecia o que se passou há alguns anos.

Mostro-me à casa de Rara e atropelo o portão, chegando, dessa feição, à porta mais rapidamente e, ignorando completamente, aquela experimentada campainha. Bato à porta ferozmente, tanto que assim que Rara abriu a mesma, esboçou uma enorme cara de susto, por me ver naquela situação e a condição em que me encontrava.

— O que aconteceu, Lúcia? — Questiona assustada — Por que raios estás assim!? — Interroga extasiada.

— Ele Beijou-me. — Pronuncio com lágrimas que desciam descontroladamente do meu rosto, e já com os olhos bastante rubros.

Foram as únicas palavras que conseguiram sair da minha boca, sendo que, no instante seguinte, Rara meramente abaixou-se para chegar até minha altura, visto que eu estava desorientada e sentada no chão de sua porta, pegou em meus braços levantando-me e fazendo-me adentrar em sua estância. Sentou-me no seu belo e robusto sofá preto, e veio alguns minutos mais tarde com um chá de tília para de certa forma acalmar-me, posto que eu detestava o tão conhecido chá de camomila.

— Eu sabia que isso haveria de acontecer. — Confessa Rara serenamente.

Demarco-me a ouvir as suas palavras com irrepreensível atenção.

— Eu notei isso na última vez em que estiveste aqui, os teus olhos denunciavam-te e, eu sabia que aquele olhar só podia significar uma coisa, tu apaixonada por ele, e ele do mesmo modo não podendo resistir, porque a ele a ti, se apaixonou. — Afirma Rara com abundante cautela.

— Eu não o amo! — Informo de súbito e alterando a minha voz.

— Isso está explícito nos teus olhos Lúcia, por favor, repara-os! — Ruge no mesmo tom.

— Tu sabes que isto morreu há anos! — Replico exclamando e recordando-a.

— Eu sei, mas tu podes ... — Interrompo-a — Se a memória te falta, então, te recordarei para que jamais te esqueças. — Profiro descarinhosa e voltando o tempo há alguns anos, através de minhas memórias dolorosas, na qual ela faz parte.