Realentador, assim podia caracterizá-lo, porém, por mais relaxante que aquele banho pudesse ser, a nível de todo meu viço, se possuía cicatrizes que, a todo instante, haveriam de reservar-se, pois elas se colocavam, no mais profundo grau de escala. Já revitalizada por intermédio daquela imersão, escolhia uma peça de roupa, no vasto armário de Rara, para que revestisse o meu próprio corpo e, após alguns intervalos vislumbrando tecidos, optara por um pijama de coloração azul, todavia, num tom menos acentuado, que naquela prateleira, se posicionava. Num abrir e piscar de olhos, o induto em minha conformação se alongava, fazendo com que me dirigisse, a sua imensa cama, para que eu repousasse, ainda assim, sendo interditada no mesmo período por Rara, que internizara naquele dormitório.
— Já agora, ficou-te muito bem — Comenta Rara, fazendo menção ao induto que recobria a minha compleição e, num timbre divertido — Pronta para desfrutar de uma inebriante refeição? — Reforça continuando na mesma entoação.
— Bom, tirando o facto de que temos um Pocoyo como a imagem ilustrativa — Indico anedótica — Sim, ele é bastante confortável, se era isso que querias saber — Redarguo na igual tonalidade de jovialidade e, pela primeira vez, neste Thanksbroking day que chegara as suas horas finais, eu me estava a rir e, era Rara, a autora daquele riso, mais uma vez, propiciando, desta guisa, uma trégua em meu discurso — E, não, pois por hoje, apenas quero fruir de uma doce cama. — Relembro amenamente.
Na seriação disso, Rara compreendeu o que minhas últimas palavras queriam dizer, porém, antes mesmo que se retirasse daquela alcova, surpreendendo-a com um pedido.
— Será que por hoje, poderias compartilhar a mesma cama comigo? — Revelo mansa, no entanto, com vestígios do fluido incolor em minhas íris.
Rara limitara-se a assentir e a aceitar o meu requerimento, possibilitando nos minutos vindouros, com que nos ajeitássemos e agasalhássemos por entre os lençóis de sua larga cama, para que, finalmente, descansássemos e, uma vez mais, naquele inacabável dia, seus membros me enlaçasse.
Despertara mais cedo do que o consuetudinário, mas a realidade, era que não havia dormido, dado que minhas surgidas insónias, cumpriram o seu papel mais uma vez, por causa de reflexões no seu mais alto grau, dos últimos acontecimentos. Ainda entrelaçada aos braços de Rara, que ainda dormira deveras, desprendera-me delicadamente de seus quentes membros, para que não a acordasse, posto que mais um dia tinha começado e, uma regular rotina de labutação, me estava esperando. Erguida e fora de sua enorme cama, pilotara-me ao banheiro para mais um e novo mergulho. Com a pele hidratada e livre de alguma impureza, redireccionara-me ao amplo escaninho de Rara, para originar as minhas arrumações, no que dizia respeito a minha vestimenta. Assim que embrenho, outra vez, naquela divisão, sou aturdida com a silhueta de Rara, em minha visão frontal, o que causara-me abundante susto, pois ainda era demasiado cedo.
— Onde julgas que vais, menina Lúcia? — Interroga na normalidade — E, melhor, que idade crês que tens, para julgar que já me enganas? — Enfatiza Rara na maior serenidade.
— Tu queres matar-me? — Questiono pasmada, dando folgas no meu pronunciamento — Eu vou trabalhar, onde raio julgas que vou a uma hora destas? — Remito mantendo-me na equivalente nota.
— Nem pensar, hoje, não vais a nenhum lugar. — Transmite Rara consistente, cruzando os seus braços, à volta de seu tronco.
— Mas Rara, tu sabes que eu preciso de... — Atravanca-me, fazendo com que não termine a minha declaração — Coloca o pijama, pois caso não saibas, o nosso trabalho hoje, é maratonar filmes. — Cessa humorística, iniciando a cinesia para abandonar aquele recinto.
— Mas quem é que assiste filmes, nas primeiras horas da manhã? — Tento estatelada.
— Bom, figuras como nós. — Argumenta Rara, rindo-se da presente situação, saindo instantaneamente daquela divisão, deixando-me apenas, na companhia da minha própria forma.
Era incrível como Rara tinha a aptidão de revigorar, o irrevogável. Essa, era uma das suas infinitas categorias de que também, gostava muito. Sem a escolha de poder relutar contra as suas afirmações, porque sabia que, quando Rara cismara com alguma coisa, era praticamente impossível, retirar-lhe as ideias da cabeça, portanto, delimitara-me a aprontar-me para o longo dia, "A escolha de Rara", que se avistara. Terminadas as actividades íntimas e matinais de minha parte, dirigira-me à cozinha, para que pudéssemos ingerir o pequeno-almoço, sendo que já havia esquivado a um festim na noite antecedente e, se dissesse que sem fome estava, Rara me haveria de "matar" com os olhos, por negar-me a deglutir, qualquer vestígio alimentício.
Nas instalações de sua cozinha, sou recebida com uma Rara devidamente "arrumada", para o tal dito dia "A escolha de Rara" e, por uma mesa, completada com qualidades alimentícias que iam desde uma variedade de frutas, a uma diversidade de doces, isso, sem ainda sequer, fazer menção a parte da "culinária", que se identificava como a "salgada", pois a doce, eu já tinha feito reportação, conhecida comumente, como a nobre "pastelaria". Depois de apreciar, a admirável riqueza que se encontrava no alto de sua lata mesa de madeira, aconchegamo-nos para que nela, sentássemos.
Dito isto, assim fizéramos. Na ordem de um bon Appétit, como se dizia na velha França, murmurado por Rara, déramos início a nossa apreciação. Entre risos e piadas, como Rara sempre fazia, com a intenção de tentar distrair-me, termináramos o nosso aprazível repasto. Começáramos agora, a aprontar-nos para passar o resto do dia, à frente de uma Tv e, sentadas em seu robusto sofá, quando copiosamente, o seu telefone por cima da sua correspondente mesa de madeira, tocara, visto que ainda nos colocávamos dentro das paredes de sua cozinhas, e que em um acto mecânico, Rara atendera-o, sem nem ao menos, reparar o tal dito referente.
— Com quem tenho o prazer de partilhar a linha? — Demanda Rara num som engraçado, a figura do outro lado da linha, cuja qual, eu ainda desconhecia o nome.
— Oh Alice! — Empreende numa inflexão alta — És tu! — Reconhece rapidamente, elaborando uma menção, ao rosto que se metia na conexão contrária, retirando assim, qualquer curiosidade que detinha, sobre qual face se tratava — Não, Lúcia irá trabalhar hoje, a partir de sua casa e, eu de idêntica forma, farei o mesmo, portanto, não te inquietes quanto a isso, a senhorita Lúcia se encontra devidamente nos parâmetros e, amanhã, estará de volta, um excelente dia, Belle Alice! — Desenvolve Rara ainda animada e, com um sotaque, da velha França.
Alice, minha eterna secretária, era um rosto abundantemente multifuncional, e além de ser uma excelente profissional, no que se referia a sua área de função, possuía um humanismo admirável, não obstante de se afligir com as tarefas que tinha por realizar e, pedidos que tinha por anotar, se preocupava também, com o bem-estar de todos e, isso, incluía a presença, assim sendo, quando sentisse, ou visse que não me estabelecia entre as quatro taipas da British Company, sempre se predispunha em encontrar-nos, digo "nos", porque sua inquietação como tivera dito, se estendia a todos e, isso, acrescentava, Milena, Rara e Romando, além da minha física constituição, dentro de todo o conjunto. Na sequência desta meiga chamada, por parte de Alice à Rara, estávamos, por fim, a fruir da maratona de filmes, proposta por ela.
E, depois de compridos tempos numa sessão cinematográfica, o som da campainha de Rara, ecoara por entre aquele imensurável local em que nos situávamos, revelando o aparecimento de uma compleição, que se detectava, no lado posterior da casa. Rara, sem mais demoras, se predispusera em ir atender, a até então, desconhecida figura. Alguns segundos se passaram, desde a presente saída de Rara, até a sua porta, o que me inquietava, pois já tinha decorrido algum tempo, porém, quando definira erguer a minha carnadura, do seu de igual modo, nobre sofá, com o propósito de tentar compreender, o que ocorria, ou o porquê de sua longa demora, na porta de entrada, sou banzada com o surgimento de Rara, simultaneamente, com uma das mulheres que, naquele momento, não sabia como retrucar e, que mesmo que nos continuássemos a magoar, minha irmã, eu sempre consideraria. Paralisada, após visualizar a minha forma, e com um frio olhar, voltou-se para Rara, sem nem sequer, dar-me a alternativa de a poder redarguir a nível visual e, aquilo apenas poderia significar, que a sombra de meu enegrecido pretérito, haveria de continuar a perdurar...
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EYES & EYES
RomanceArrogante para muitos e incompreendida para os mais próximos. Fria, ríspida e asentimental, assim é Lúcia Morgan, a mulher que esconde em seu olhar, a sombra de um passado turbulento, no que diz respeito ao amor, portanto, abstém-se do mesmo. Alegr...