A sintonia presente naquele momento era reconhecível, mesmo que não quisesse admitir. Eu não podia deixar de afirmar, que o toque dele, tinha algo "incomum". Era subtil e macio, pois os seus dedos dançavam sobre os meus lábios com bastante leveza e facilidade. Poderíamos ter ficado alguns minutos mais naquela situação, no entanto, eu sabia que se assim acontecesse, alguma coisa iria desenrolar-se e, era algo que não me permitia, outra vez sentir.
— O que julgas que estás a fazer? — Interrogo incomodada e me desentrelaçando de seus braços.
— Desculpe senhorita Lúcia, eu só ... — Interrompo-o sem o deixar terminar — Não me voltes a tocar desta maneira, porque eu e tu, não somos íntimos para tal. — Refiro seca e ríspida.
Ele simplesmente assentiu e, pude perceber, que haveria de tentar desculpar-se, mas nesse instante, espontaneamente virei às costas e saí andando em passos lentos da cafetaria, sem o dar a mínima chance, de sequer pronunciar qualquer palavra. Reparei que a minha roupa ficou toda manchada com o cappuccino entornado em mim, então, decidi que não voltaria à empresa naquele estado, dito isto, ligo ao senhor Park para me vir buscar, que chega em alguns minutos. Compareço à casa e subo as escadas rapidamente, coloco a minha carteira por cima da cama, e vou em direcção ao banheiro. Dispo-me e, de seguida, tomo um banho apressado, abandono o banheiro e, dirijo-me ao meu closet para escolher alguma coisa mais suave. Opto por usar uma calça skinny jean azul escura, uma t-shirt branca e uns ténis da mesma cor, sem esquecer, o meu blazer preto. Como não havia molhado o cabelo, ele permanecia intacto após desprendê-lo do coque que fizera. Com o rímel a prova de água, limitei-me a repassar um brilho em meus lábios. Portanto, saio e desço as escadas.
Encontro Matilde a preparar o almoço, mas como tinha pressa, decido comer apenas uma salada de frutas e uma sandes, que ela sempre me proporciona para os lanches. Deposito um beijo em sua testa e ando de sentido ao senhor Park, que já estava aguardando-me.
— Para onde devo ir, senhorita Lúcia? — Inquire descontraído.
— Para a casa da senhorita Rara. — Replico na igual tonalidade.
Fazia algum tempo que não visitava Rara, porque ela havia entrado de férias na empresa e, quando ela se encontra nesse período, apenas desaparece do mapa, apesar de só terem sido uns dias, contudo, eu digo isso, porque já sentia sua falta. Cheguei a sua residência em alguns minutos e, no momento em que lá me localizava, toquei a eterna campainha que lá estava, assim sendo, em segundos, oiço passos em minha direcção.
— Bela roupa para atender visitas! — Clamo rindo, já que Rara usava as tais ditas camisas de noite, que mais parecia uma lingerie.
— Estou de férias, caso não saibas. — Comenta fazendo as suas piadas, e era incrível como elas tomavam contornos muito engraçados.
Depois da breve conversação na porta de sua casa, adentramos e, com isso, pude relaxar, pois sem dúvida, aquela era minha 2ª casa, dado que tenho quatro, ou seja, a minha, a dela, a de Milena e a de Romando.
— Por onde anda o Romando, que desde que entrou de férias, esqueceu que tem três mulheres para cuidar? — Demando sem surpresa e de forma divertida.
— O malandro fez uma viagem para França e regressa já amanhã, pois suas férias terminam precisamente amanhã, pensando nisso, as minhas também já estão quase no fim. — Faz uma pausa em seu discurso e prossegue — Então, estás a gostar? — Pergunta concluindo o seu discorrer.
— Do quê? — Retruco questionando curiosa.
— Do Robert Gold, o novato da empresa. — Manifesta sem alguma inquietação.
E, nesse intervalo, me voltam as memórias dos acontecimentos na cafetaria.

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EYES & EYES
RomanceArrogante para muitos e incompreendida para os mais próximos. Fria, ríspida e asentimental, assim é Lúcia Morgan, a mulher que esconde em seu olhar, a sombra de um passado turbulento, no que diz respeito ao amor, portanto, abstém-se do mesmo. Alegr...