Capítulo 6

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Depois de um longo silêncio por falta de respostas a pergunta de Rara, decido, finalmente, responder.

— Eu acho ele um homem comum. — Informo sem olhá-la.

— Eu sei que estás a gostar dele, isso se já não estás apaixonada por ele, nota-se pelos teus olhos. — Diz sem papas na língua.

Eu meramente não encontro palavras para replicar a declaração de Rara. E, Rara tinha essa particularidade, ela conseguia perceber as coisas, mesmo que ainda não estivessem bem sólidas, era bastante perspicaz e eu gostava dessa qualidade dela, porém, não naquele momento.

— Apaixonada? — Atiro descarinhosa — Rara, pelo amor de Deus! — Prego estupefacta. — Tu sabes que esse tipo de sensação para mim, claramente morreu há alguns anos e, felizmente, não há espaço na minha vida para isso que chamas de amor. — Esclareço seca.

— Eu sei que o que aconteceu há alguns anos, deixou marcas que jamais serão esquecidas por ti, mas tu... — Corto-a no mesmo instante — Rara, por favor, não quero falar sobre isso. — Digo já com alguma exasperação.

— Mas tu és jovem, tu podes recomeçar ... — Impeço-a mais uma vez — Recomeçar? — Redarguo incrédula — Tu só podes estar a brincar comigo. — Enuncio pasma — Rara, eu entendo a tua preocupação, tal como a de Milena e de Romando — Exerço uma curta folga e prossigo — Eu sei que me querem ver feliz, mas simplesmente não preciso de ninguém em minha vida e muito menos de um homem! — Vocifero austera.

— Lúcia, tu podes tentar ser feliz outra vez. — Relata esperançosa.

— Rara, mas será que tu não percebes? — Pergunto aborrecida — Cada um tem a sua forma de ser feliz, uns são felizes casando, outros viajando, outros fazendo sei lá, qualquer outra coisa e, eu estou bem só, eu estou solteira e não solitária. — Exponho ríspida.

— Nós só queremos a tua felicidade. — Expressa Rara com a sua cara triste.

— Lamento informar-te, porém não preciso deste tipo de felicidade que queres para mim, agradeço, no entanto, não estou a procura. — Pronuncio e saio fechando a porta atrás de mim.

Ligo para senhor Park que por incrível que pareça, já permanecia no aguardo por mim, no portão de Rara, à vista disso, cancelei a chamada e subi para o meu simples Ranger, nos direccionando à casa.

No trajecto para o meu domicílio, só pensava e pedia para que nem Rara, nem Romando e, nem Milena, voltassem a tocar neste assunto, porque aquilo já não era novo, e também pelo motivo deles constantemente tocar no tópico, pois quando assim acontecia, terminávamos chateados uns com os outros, entretanto, nessa matéria a protagonista era sempre eu, eu, eu e eu e, aquilo, me irritava. Eu conseguia entender a preocupação deles em querer que eu seja "feliz", todavia, sinceramente, não precisava dessa inquietação. Não queria que eles entendessem, nem que muito menos aceitassem, já que a única coisa que queria, era que respeitassem, nada mais. E, Rara sabia disso perfeitamente, porque dentre os três, ela era a exclusiva que conhecia o porquê dessa minha radicalização, dado que ela foi a específica que observou com os mínimos detalhes, os momentos mais escuros e as situações mais difíceis de minha vida há alguns anos, que inclusive, deixaram-me sequelas até hoje.

Sou tirada dos meus pensamentos e dos meus monólogos internos, quando oiço a voz de senhor Park anunciando que já havíamos regressado à casa, nesse momento, despeço-me de senhor Park e introduzo-me em minha estância, que estava admiravelmente limpa, pois Matilde tinha feito um excelente trabalho, como de costume. Ela deixara tudo pronto, desde o jantar até ao meu lanche da noite. E, foi isso que fiz: Jantar. Depois disso, alço as escaleiras até ao meu quarto, já que o meu aposento era abundantemente vasto e espaçoso, era a minha "Mini Mansão" e eu gostava dela, mesmo que vivesse sozinha lá, sendo que meus pais haviam falecido. Deparo-me com o meu dormitório e, sem ao menos me preocupar em tirar as roupas, durmo.

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