Capítulo 24

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Robert

Estava eu em mais um dia de trabalho, todavia, monótono. Desde que deixara de ser assistente de minha pequena Lúcia, os meus dias haviam-se tornado bastante aborrecidos. Trabalhar com a senhorita Milena era bom, era simpática e tratava-me com muito respeito, não tinha muito do que me queixar, porque ela é uma mulher admirável. Contudo, sentia falta da minha pequena Lúcia, do seu memorável e inconfundível cheiro, do seu modo de falar e de laborar, isto é, simplesmente de tudo, porque tudo nela, me fazia falta, desde os mínimos detalhes, aqueles imperceptíveis, que só quem fosse mais atento, era capaz de entender e ver, até aos que eram, de certa forma, visíveis aos olhos de todos.

Encontrava-me na cafetaria que ficava perto da empresa, a senhorita Milena me dispensara com uma hora de almoço extra, pelos trabalhos que fizera em demasia durante as últimas semanas. No decorrer desta última semana, a senhorita Milena poucas vezes citou o nome de minha pequena Lúcia, assim como o senhor Romando e a senhorita Rara, que frequentemente estavam no escritório de senhorita Milena. Então, deduzi que ainda estavam magoados uns com os outros pelo que acontecera e, era algo que, de certa maneira, deixava-me triste, porque sabia que minha pequena Lúcia gostava imenso de seus amigos, reparei nisso, através de suas expressões no gabinete de senhorita Milena, em que todos eles, viviam olhando para uma foto que se localizava por cima da mesa de granito de senhorita Milena, estavam todos sorridentes e num clima bastante tranquilo e afectuoso. Eles suspiravam sempre que a apreciavam, sendo que aqueles lamentos só podiam significar saudades, com isso, compreendi que se a senhorita Milena, tal como o senhor Romando e senhorita Rara suspiravam daquele jeito, era porque havia reciprocidade em sua amizade, de modo que se um gostasse do outro, o outro, haveria de desejar ainda mais o outro, por isso, rapidamente soube que minha pequena Lúcia, gostava muito de seus melhores amigos.

Decidi terminar o meu botequim para que pudesse voltar à empresa, afinal, as duas horas de almoços extra já tinham terminado e, eu precisava regressar ao meu trabalho, pois já tinha conseguido almoçar e tomado o meu merecido café. Adentro para a empresa e, assim que o faço, percebo que há uma certa agitação por parte dos funcionários, o que não era habitual, dado que aquela ala, estava sempre num clima caloroso e brando. Eis, então, que defino entender o que se passava, como via todos a olhar exactamente numa única direcção, então, delibero percorrer o mesmo caminho com os meus olhos, que se deparam com carros de polícias no lado externo da empresa, o que era uma surpresa para mim, porque no pouco tempo que estava lá, nunca havia presenciado tal coisa.

Considero deixar aquilo para trás, porque me lembrara que necessitava de ir buscar os meus pertences, que tinha abandonado no balcão de Alice, pois com as correrias da mudança de escritório, não pude ir pegar. Com isso, subo me direccionando, sem que pudesse evitar, ao gabinete de Lúcia. Na medida em que me aproximava de sua sala, ouvia ruídos de conversas, que eram dos polícias que chegaram à empesa, visto que pude notar pelos seus tons de vozes. Mas o que me permitiu estar mais curioso, era que perguntavam continuamente pelo meu nome, a senhorita Alice já sem quaisquer palavras e, aos restantes funcionários em que lá passavam e labutavam no corredor, causando assim, a sua euforia. Portanto, assim que acerco-me, todos permanecem estáticos, possibilitando, dessa feição, que os polícias percebessem, que a figura que eles tanto procuravam, estava nada mais e nada menos que a sua frente.

— Boa tarde senhor, desculpe, mas é o tal dito Robert Gold? — Pergunta respeitosamente um dos polícias, dirigindo-se a mim.

— Sim sou, mas o que se passa? — Interpelo baralhado.

— Devo dizer-lhe que temos um mandato de busca em seu nome. — Responde o seu colega, mantendo-se no mesmo tom.

— Mandato de busca? —  Profiro tentando perceber, o que verdadeiramente, se estava a suceder — Mas em que se baseia a denuncia? — Prego mais uma vez — Ou melhor, quem a fez? — Demando ainda confuso.

— Bom, o senhor está sendo indiciado pelas denúncias feitas em nome da senhorita Lúcia Morgan, pelos alegados crimes de perseguição e assédio moral. — Retruca pacificamente o mesmo polícia que me havia feito a pergunta anterior.

E, nesse instante, o meu mundo tinha acabado de desmoronar, eu não podia e nem queria acreditar, que minha pequena Lúcia, tinha feito aquilo.

— Aconselhamos ao senhor para que não seja renitente, pois pode acabar por levar esta situação a um patamar mais alto, complicando, dessa guisa, a si próprio, dado que lá na delegacia, receberá informações acerca do seu julgamento e, posteriormente, da sua condenação e pena. — Dizem os dois polícias simultaneamente.

— Não se preocupem senhores, porque eu não farei isso, mas deixem-me dizer-lhes uma coisa, se o meu único pecado, foi amar essa mulher intensamente, então, sou doente por tê-la amado, sou doente por amá-la e, vou continuar doente porque ainda vou amá-la doentiamente, pois ela foi, é, e sempre será o meu único e grande veneno. — Comunico e lágrimas escorrem pelo meu rosto e, dessa feição, permitindo que os polícias me algemassem.

Na medida em que saíamos, verifiquei os olhares atentos e tristes nos rostos dos que permaneciam lá e, não pude deixar de observar, a minha pequena Lúcia paralisada em frente de sua mesa, olhando-me permanentemente e, foi aí, que finalmente vira pela primeira vez, os seus verdadeiros sentimentos em relação a mim, que era nada mais e nada menos do que amor. Agora eu tinha a certeza de que ela me amava, mas nossos olhares foram interditados pelas aterradoras entradas de senhorita Milena, Rara e de senhor Romando em seu escritório, o que só podia significar, que por mais uma vez, eles haveriam de se ferir.

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