A realidade que, a todo custo, tentara esconder, era a que de nenhum modo queria reviver, porém, agora nada se poderia fazer, porque de todas as formas, ela haveria de prevalecer. Não era a marca dos cinco dedos de Milena, em meu rosto, que me rasgavam por dentro, mas sim, o facto de que mais uma vez, o meu passado denegrido, que renasceu com a sua principal figura, causaria danos e cicatrizes intermináveis, a uma das pessoas que é, e sempre será considerada como uma das irmãs que nunca tive a conveniência de ter, mas que neste preciso momento, eu não sabia como proteger, pois àquele desprezível homem, o seu ser, de alguma maneira, vai sempre pertencer.
Eu queria poder inibir o seu sofrimento, para que apenas a minha fisionomia pudesse senti-lo, dado que de certa guisa, eu era a incumbida por incomensurável atrocidade. Mas como poderia dizer, a uma das pessoas a qual mais tenho apreciação, que o homem pela qual se apaixonara, era o encarregado por nunca me ter possibilitado experienciar, outra vez, porque atirara contra a minha figura, sem nenhum remorso? Perder Milena era o que me lacerava, pois assim como o meu Robert, eu dessabia como recuperá-los e, isso, asfixiava-me por dentro, sendo que eu não queria e, nem estava disposta, a abdicar deles, sendo o motivo, uma vez mais, o meu pretérito sombrio.
Prantinas repetidas ruíam de meu fronte, no privado daquele, que detinha a competência para chamar de escritório meu, com isso, uma carregada ânsia por um refúgio, que apenas eu conhecia, se estabeleceu a nível de todo meu corpo. Eu precisava experimentá-la, eu desejava vivenciá-la, porque compreendia que somente ela, poderia estiar-me, eis, então, que em um acto reflexo, partira incontinentemente, um dos vasos de vidro, que fazia parte da decoração de minha adorável mesa de Mármore, uma vez que batera o vaso contra ela, provocando assim, o seu estilhaço, que se reflectia por meio de vários cacos, simplesmente, para buscar o melhor calmante, alguma vez, já suportado.
Alinhava-me para pegar um daqueles pedaços de vidraça, a fim de poder passeá-lo por entre o meu dormente pulso, para que assim, usufrutuasse da superna sensação, quando através dele, gotículas que posteriormente, haveriam de dar lugar a uma corrente sanguínea, teriam de sair, todavia, sem nem ao menos me aperceber de sua assiduidade, ainda naquele gabinete, porque estava perdida em pensamentos e em minhas acções, Rara agarrara as minhas débeis mãos consequentemente e, de parecida feição, os meus fracos pulsos, impedindo-me de prosseguir com imenso acto.
— Eu não te permito, Lúcia Morgan! — Exclama Rara energética, fazendo com que carpidos já existentes em minha verônica, se intensificassem ainda mais.
— Que raio de figura sou? — Perquiro aos gritos, mas não esperando uma resposta por parte de Rara, pois nem eu como sendo a intendente de minha própria configuração, possuía a replicação, para tal inquisição.
E, novamente em minha recorrente vida, as garras de Rara haviam-me confortado, em um enlaçado abraço, tal como frequentemente fizeram, posto que entre nós, mais uma vez, meramente ficaram, os ilimitados ruídos por causa de minhas prolongadas gotas de água e, o ensurdecedor silêncio, no íntimo daquele recinto. Após minutos enroscada nos membros de Rara, que eram agora, os meus principais apaziguadores, sendo que também, já havia encharcado as suas vestimentas, dado que sabia desta especificidade, visto que nesta hora, me encontrava desvencilhada de seus braços e, mantendo contacto visual coma sua conformação. Chegara o tempo de colocar um ponto final àquele dia, que era conhecido por todos como Thanksgiving day, mas que na verdade, transformara-se num Thanksbroking day.
— Lúcia, tu precisas descansar. — Relata Rara numa sonoridade sem violências, depois de libertar-me de seus abrasadores e tranquilizantes braços.
— Eu não posso voltar para casa, Rara, eu não saberia como vislumbrar e reagir, não apenas a figura, mas como também, aos olhos de Robert. — Retruco ofegante e com um contínuo pranto.
— Então, irás para a minha, porque ela também é tua casa. — Anuncia Rara sossegadamente, porém com os olhos embebidos e, eu percebia que aquele iniciante plangor que se formava, era devido ao suplício, que todo este passado caliginoso, me causava, tal como todas as vezes aconteceu, nos instantes em que me punha, em estados mais aterradores do que este, sendo que em todos eles, Rara fora regularmente, o fôlego que me trazia ao ápice da vida.
Depois disso, Rara ligara ao senhor Park por intermédio de meu telefone, que se localizava por cima de minha simpática mesa de Mármore, e que não saíra de lá, desde a minha cortante discussão com o meu Robert, para que nos viesse buscar, uma vez que eu não estava em uma condição animadora e, tampouco, reconfortadora, para desempenhar tal posto, além de que Rara entendia que senhor Park, logo que ouvisse e, em seguida, visse a posição em que me fixava, ficaria preocupado, da mesma maneira que sucedia, sempre que assim me colocava, no entanto, não era algo que poderíamos atravancar, pois em prontidão, nos encontraríamos, entretanto, Rara não quis antecipar, provando e comprovando, desse jeito, que nenhuma palavra eu precisava dizer, para que me compreendesse.
Na continuidade do costumeiro processamento para a retirada da minha filha, que é a British Company, Rara e eu, nos situávamos, neste intervalo, introduzidas ao meu simples Ranger, para nos conduzir a sua casa, que na efectividade, era a minha 2ª estância, dado que o senhor Park era muito pontual no que dizia respeito à horários, característica essa, que gostava excessivamente, porque eu detestava atrasos. Como já previsto por mim, assim que eu e Rara abrenháramos ao meu simples Ranger, sem muitas delongas, começara o trajecto que nos levaria até a minha 2ª residência. Senhor Park havia nos interpelado com as suas íris que exprimiam apreensão, apesar disso, Rara descobrira vocábulos, a todo momento, que pudessem alentá-lo. O rumo até a minha 2ª casa foi pouco demorado, visto que as estradas de Manchester se encontravam livres, posto que conhecia esta particularidade, porque durante o curso, olhava várias vezes para o vidro projectado, na porta de meu considerado carro, apesar de estar enroscada nos membros de Rara, nos bancos antecedentes de minha consagrada viatura.
Perante ao portão de minha 2ª residência, antes que desencadeasse o processo, que daria origem ao movimento de decadência do meu simples Ranger, pedira ao senhor Park para que estivesse diante do mesmo portão, no dia seguinte, no horário recorde, isto é, na hora em que se inaugura o desempenhar de mais um dia de mister, pois eu haveria de cumprir com as minhas funções, no que dizia respeito ao trabalho, na posterior data. Depois disso, Rara e eu despedíramos de senhor Park, interiorizando, neste mesmo eito, ao espaço de sua excelente casa. Já compartilhando as mesmas paredes, Rara decidira ir à cozinha, produzir alguma coisa relacionada a questões alimentícias, porque antes de partir, revelara-me suas intenções no corredor de entrada de sua exímia casa, uma vez que eu definira ir a um dos compartimentos para tomar um banho e, logo de seguida, descansar, ou pelo menos tentar.
Continua...
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EYES & EYES
RomanceArrogante para muitos e incompreendida para os mais próximos. Fria, ríspida e asentimental, assim é Lúcia Morgan, a mulher que esconde em seu olhar, a sombra de um passado turbulento, no que diz respeito ao amor, portanto, abstém-se do mesmo. Alegr...