Capítulo 30

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Robert

Enquanto o tempo passava, Cassandra tentava reconfortar-me, depois de tudo que tinha sucedido. Após Lúcia ter saído, nós tivemos uma breve conversação, que mais uma vez, só serviu para constatar o que já soubera. Cassandra apaixonara-se por mim e, isso, era inegável, porém, eu não a quero envolver nisto, porque sei que jamais poderei corresponder ao seu amor, pelo motivo que inevitavelmente, o meu ser, já pertencia a outra pessoa.

A seguir a curta palestra, decidi subir ao meu quarto, onde pude ajeitar-me em minha cama, para poder dormir, antes que voltasse à British Company. Havia acordado com uma terrível dor de cabeça, então, a primeira coisa que me ocorreu, foi uma nova imersão e, foi isso, que acabei por fazer. Com o meu corpo despido, segui ao banheiro, no qual realizei a actividade. O banho tinha sido relaxante e com um efeito calmante, agora, estava apto para vestir-me. Acabei por colocar uma calça social de cor azul, porém, num tom mais escuro, uma camisa branca e um suéter carmesim. Quanto aos sapatos, optei por um castanho que muitos denominam "castanho madeira", não obstante, numa tonalidade mais denegrida também. Assim que termino de fazer as minhas actividades íntimas, desço, deixando tudo arrumado, pois haveria de precisar de espaço, já que tinha de ir buscar, o que ainda restava na empresa, que pudesse chamar de meu.

Logo que arrio as escadas, encontro Cassandra a preparar o jantar. Com muita insistência de sua parte, acabei por ficar para alimentar-me, posto que Cassandra detestava que eu saísse de casa, sem comer alguma coisa. O festim foi calmo e a comida estava boa, Cassandra cozinhava bem, porém, ela dizia que eu cozinhava melhor e, isso, não podia negar, pois cresci apaixonado por cozinha, porque a minha mãe sempre fez questão de introduzir e transmitir essa paixão, não só dentro de casa, mas como em cada um dos seus filhos.

Meus pais morreram em um trágico acidente, juntamente com o meu irmão mais velho, quando eu tinha 6 anos de idade, portanto, ainda tenho as memórias antes do ocorrido, dos melhores e maiores momentos da minha vida. Fui criado pela minha avó, que era a única que restava e se importava comigo, dado que meus tios e tias, nunca se interessaram por mim, nem mesmo quando nasci. Ainda assim, tive outra grande perda, a minha amada avó andava doente, todavia, nunca deixou transparecer as suas fraquezas e, até hoje, desconheço qual foi o mal que a levou para o caixão. Mas contudo, sempre os tenho no peito, dado que tenho um pingente com a fotografia de todos eles, que guardo sempre, sendo que é o meu maior tesouro.

Terminando o jantar, despeço-me de Cassandra, mas antes, peço-lhe que me emprestara o seu amável Audi. Recebendo permissão de sua parte, dirijo-me até à garagem, onde subo em seu Audi, dando início a mais um longo trajecto.

Cheguei à British Company por volta das 10h00 da noite, apresso-me para  introduzir-me e não perder muito mais tempo. Era tarde, então deduzi, que haveria de estar tudo fechado e, com os seguranças à porta, mas por incrível que pareça, não existia ninguém, assim sendo, supus que, ou havia gente a trabalhar até tarde para cobrir os horários perdidos, ou os seguranças tinhan dado uma efémera pausa para o lanche da noite, bom, das duas, uma. Sem mais demoras, oriento-me ao escritório de senhorita Milena, assim que adentro, não vejo os meus pertences, mas em contrapartida, há um bilhete em cima da sua adorável mesa de granito, com as seguintes escrituras: 

"Os teus pertences vão ser entregados às 11h00 da noite, pois é o horário que os seguranças voltam de seus lanches nocturnos e, porque também, foi esse o recado que Alice passou-me, sendo que foi esse o horário que Lúcia Morgan decidiu, pois tudo o que diz respeito a ti, ela assumiu todas as responsabilidades, apesar disso, ela separou os objectos mais leves, dos pesados, os leves encontrarás no balcão da Alice e, os pesados, em tua casa às 11h00 da noite. Lamento não te poder ajudar neste sentido, Robert, com todo carinho: Milena".

Depois de ter lido o bilhete, direcciono-me ao corredor de acesso ao gabinete de minha pequena Lúcia e, posteriormente, ao balcão de Alice. Lá comparecendo, avistei uma caixa que julguei serem os meus pertences e, instantaneamente, constatei que não estava errado, à medida que me fui aproximando. Porém, uma cena roubou completamente o meu olhar. Lúcia estava em seu escritório chorando incessantemente, pude notar através da porta de vidro de seu escritório e, era uma cena que me rasgava por dentro, porque até podia suportar vendo-a maltratar-me, mas vê-la chorar, era como se fosse o meu pior pesadelo. Então, não pude esperar e nem resistir, não hesitei e adentrei estrondosamente, o que causou a sua surpresa.

— MAS... QUE... DIABOS... FAZES AQUI!? — Vocifera minha pequena Lúcia ofegante e, entre soluços, devido ao seu ilimitado choro.

— Vim aqui só para constatar que tu me amas. — Digo e sem pensar, vou em sua direcção, roubando-lhe aquilo que considero o melhor beijo, de todos os tempos.

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