Capítulo 33

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O relógio marcava exactamente 5h00 da madrugada, quando despertara, Robert ainda dormia elegantemente e, como não tinha intenções de acordá-lo, decidi sair do entrelaço de seus braços, suavemente. Levantei cuidadosamente da minha adorável mesa de Mármore, para que não causasse algum barulho sequer. Ainda era muito cedo, por isso, a escuridão continuava a ser nossa companheira, em função disso, limito-me a pegar a minha carteira, para tirar o meu telefone, já que haveria de utilizá-lo, pois ele possuía uma lanterna como recurso, que seria muito útil. Mas assim que defino ligá-la, logo percebo que o seu brilho é bastante incandescente, o que me fez desistir da ideia de accioná-la novamente, porque não queria importunar, ou muito menos, incomodar Robert.

Apesar da escuridão, podia identificar cada objecto presente em minha sala e, o seu respectivo lugar, dado que eu possuía um tacto bastante aguçado. A noite anterior havia sido inesquecível, ia levá-la comigo para sempre, não importasse aonde fosse. Após isso, direcciono-me lentamente, a um dos armários do meu escritório, perto da minha mesa de Mármore, para tirar algumas roupas íntimas, pois comumente guardo algumas, naquela gaveta de armário para questões de extrema urgência, sendo que as minhas, já não podiam ser vestidas, uma vez que os seus devidos elásticos foram rompidos, danificando assim, a minha doce lingerie, mas não era algo que me queixasse, porque foram os melhores momentos ternos passados, ainda mais quando em todos eles, o condutor fora sempre, o meu Robert.

Retiro cautelosamente a camisa branca de Robert para colocar a minha mais nova peça de roupa e, depois, volto a colocá-la. Eu poderia ter vestido as minhas roupas anteriores, porém, elas estavam espalhadas pelo meu escritório e, além disso, não me queria desfazer do maravilhoso aroma de Robert, porque apesar de eu ser amante de fragrâncias masculinas, devo admitir que aquele doce aroma feminino, levava-me a um êxtase inexplicável.

Eu não queria partir, sem antes poder expressar, aquilo que realmente sentia, eis, então, que pegara outra vez, em minha carteira, retirando de lá, um bloco de notas e, uma eterna esferográfica, dando origem a escrituras. Dessa vez, acendendo sem que quisesse, a lanterna do meu telefone, mas com o brilho regulado, depois de me ter posicionado em uma das cadeiras que lá haviam.

De tantos cheiros

Finalmente encontrei o teu

Intenso, quente e macio

Como eu gostaria que,

Estivesses aqui

Exalado e inalado

Por cada gotícula penetrante

Embebedando-me nas tuas nuances

Do teu inalcançável corpo

Tenso, caloroso e impaciente

Como o ar que minuciosamente,

Se retia,

Como delicadamente,

Se fazia...

Suavemente te vás,

Por entre os ares

Da minha débil respiração,

Assim como uma forte alucinação

Que estava ali,

Agora eu grito:

Ah! Como eu gostaria que estivesses aqui...

Tal como um dia dedicaste o teu amor entre palavras, agora eu faço o mesmo. Suavemente dormes agora e, eu espero que quando acordares, sejas livre como uma adorável pomba, que procura incessantemente o seu caminho. De ti, eu recebi o maior amor e, de mim, tu recebeste a minha maior entrega, pois eu fui tua e, tu fizeste-me tua, sendo que com o teu amor, ambos nos tornamos uma só carne. A maior prova do meu amor será a tua liberdade, pois onde quer que tu vás, a tua felicidade será a minha maior conquista, para sempre te vou amar, dado que eu não quero que entendas, eu só quero que algum dia, me possas perdoar.

                                  Com muito amor,

                         "A tua pequena Lúcia".

Após ter escrito aquele bilhete, retiro-me vagarosamente da cadeira, com lágrimas sobre o meu rosto, guio-me até a porta, onde abro-a atentamente e, fechando, seguidamente. Assim que saio daquele recinto, perambulava pela British Company, despedindo-me de cada recanto da minha filha, visto que haveria de sentir muito a sua falta. Depois de ter terminado o meu breve passeio dentro da empresa, dirijo-me até ao seu exterior, onde se encontrava o meu simples Ranger. Os meus pés estavam gelados, posto que parti do escritório, sem nem ao menos me importar com as minhas sandálias, porque sinceramente falando, não tinha cabeça para pensar em tal coisa.

Subo ao meu simples Ranger dando início a um trajecto desconhecido por todos, mas bastante conhecido por mim. Após uma hora com o pé na estrada, cheguei à Formby Beach, uma praia afastada da civilização, que ficava perto de Manchester. Era apenas uma praia muito indicada para caminhadas, era desértica o suficiente para o que precisava. Comparaci lá, por volta das 7h00 da manhã e, como bem dissera, estava deserta. Abandonei o meu simples Ranger em algum lugar distante da beira e, fui caminhando até à costa. À medida que andava em direcção ao mar, sentia a sua brisa gélida e, a areia que irritava os meus frios pés. Quando cheguei mais perto, pude sentir a água salina do mar e, tal como calculava, estava extremamente fria.

Decido continuar a vaguear e, desse modo, entrei naquele tenebroso álgido mar. Já nadando, alcancei um ponto em que, simplesmente, deixava as águas salinas arrastarem-me para onde tivessem vontade. E, quando atingi o limite, já não podia mais voltar à beira. No instante antes de partir, proferi algumas palavras.

— Eu espero que algum dia, me possas perdoar... — Menciono com lágrimas em meus olhos, e com o mar cobrindo o meu pescoço.

Respirei fundo e mergulhei, empeçando um novo capítulo, que sabia que, não haveria de ter volta. Em fracções de segundos, perdi o fôlego e, consequentemente, o oxigénio que ainda restava em meus pulmões, dando passagem para que a água salgada, penetrasse. Num abrir e fechar de olhos, Lúcia Morgan já não existia, ficando somente, as lembranças e a inegável dor do vazio...

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