Milena
Já dentro, as ininterruptas gotas de água, que em todo este contexto, acompanhavam-me, pois estavam desde o início, tinham ganhado muito mais intensidade, sendo todas elas silenciosas, fazendo com que sejam, desse modo, mais matadoras. Era real? Lúcia, a minha parente, me fizera verdadeiramente aquilo? Até que ponto a minha cegueira havia chegado, para não ver a podridão de seu ser? Perguntas que não tinham respostas, mas que se mantinham, a todo momento, em minha mente, assim como aquelas infindáveis lágrimas que arriavam sobre o meu frontispício, enquanto as olhava por meio do irrefutável espelho, do bem harmonizado retrete, tal como a minha figura, completamente arrasada e irreconhecível, que já os olhos vermelhos eram visíveis, por causa do inacabável pranto.
E, na série de passar longos minutos tentado perceber, por intermédio daquele vidro, quem era aquela inacreditável silhueta, chegara a hora, em que contas se precisavam acertar, porque assim como aquela mulher se viabilizou entregar, porém, não a Robert, mas sim, àquele desprezativo homem, eu haveria de repetir a sua acção, entretanto, com uma porta a encerrar. Com as escleras carminas e com contas por acertar, saíra, no minuto a seguir, daquele compartimento, uma vez que o meu rosto, eu não precisara lavar e, nem de muito menos, me acalmar, mas sim, de alguém que me impedisse, dado que pelos danos, não haveria de me responsabilizar.
Andarilhando o gargalo de entrada ao escritório daquela mulher, pude ver que Rara intersectara o meu lugar pretendido, já que adentrara na repartição daquela mulher, antes de mim, sendo que ela vinha do corredio, que dava ingresso, a uma das saídas de emergência daquele piso, posto que ao ausentar-se da sala daquela mulher e, se posicionando na porta de seu estúdio, há um novo entroncamento de corredores, porque na vista frontal, temos o seu hall, que termina no igual cruzamento de passadiços, onde a princípio estava e, a alguns passos mais, exibimos a parede onde está encastrado o ascensor, nas laterais, a partir da mesma porta, presenciamos um corrediço contínuo, sendo um deles, o que dava acesso a uma das partidas de urgência do andar, dado que existiam outras, porém, nem mesmo com Rara colocando-se em meu lugar programado, eu haveria de parar com o meu reparo de operações.
Chegando à porta de sua sala, desatara-a sem delongas e, de forma espalhafatosa, segundos após Rara ter feito a mesma façanha, o que provocou a surpresa por parte dela, que incrédula estava e, pela sua expressão, já calculava o que haveria de passar, uma vez que sua feição a denunciava, e ao estabelecer contacto visual com sua figura, pude dizimar quaisquer dúvidas, em momentos sucessivos a minha pouca demorada interacção com Rara, direccionara os meus vermelhos olhos à mulher, cuja qual, semelhantemente destruída e exaurida, pois as lágrimas haviam inundado a sua verônica, assim que os nossos olhares se conectaram, isto posto, sem mais demoras e, sem medir a profundidade de meus actos, abeirara-me de seu corpo, quando suficientemente próximo me fixava, empeçara a movimentação planeada por mim, marcando, na sequência, a sua face com o rumor de meus cinco dedos em seu rosto. Fora tão forte, que em minha mão, ainda se podia sentir o ardor da mobilização e, no tempo em que o seu rosto, completamente arrasado se virara, outra vez, para mim, possibilitando, dessa guisa, que pudesse ver o fragoroso selo que havia deixado, preparava-me para a seguida dose, no entanto, no momento em que iniciara a cinesia, Rara pôs-se à frente daquela mulher, segurando o meu braço instantaneamente, impedindo que prosseguisse com tamanho feito, protegendo aquela repugnante mulher, sendo que era incapaz de se poder, defender.
— Milena, tu tens noção do que acabaras de fazer!? — Vocifera abismada — QUE DIABOS SE PASSA CONTIGO? — Brada Rara totalmente atônita e exaltada, ainda pegando o meu braço.
— Esta mulher — Começo apontando para a configuração feminina, que alguma vez, chamara de fraterna minha — Mantém um romance com o homem que é meu actual companheiro e, quem sabe, se ela não exercia a sua bonita função, simultaneamente, com o Robert, afinal, vida dupla, nunca foi um problema para mulheres acompanhantes. — Reponto ácida e sem me importar com as palavras ditas, desentrelaçando-me indelicadamente dos membros de Rara.
— Milena, não cuspas palavras, cujas quais, te possas vir a arrepender. — Ataca Rara elevando o seu sonido e, de forma, madrasta.
— E, eu não entendo, como é que ainda defendes, esta promíscua mulher. — Oponho-me continuando no mesmo tom.
— É como se não conhecesses a Lúcia — Refere Rara aturdida, dando tréguas em sua narração — Esta mulher, a qual julgas indecentemente e imoralmente, foi aquela que as tuas lágrimas secou, nos teus outros relacionamentos conturbados, agora pergunto: — Depõe matreiramente — Porque ela não te há supostamente roubado, as figuras dos outros relacionamentos passados? — Descarrega Rara seca, elaborando menções aos vínculos pouco demorados, estabelecidos por minha parte, num passado.
— Tanto a defendes, que tão pouco te importas, em como esta arrogante mulher, me há destroçado. — Revido severamente vil, dirigindo-me apressuradamente, ao saimento daquele recinto, sem dar a opção de Rara poder retrucar-me, uma vez que não dera tempo para suas posteriores palavras, no entanto, quando chegara a respectiva abertura, pronunciara alguns dizeres, antes que pudesse abandoná-lo.
— Em algumas palavras concordamos, Rara, pois sim, vou arrepender-me por não retirar esta mulher de minha recorrente rotina, pois infeliz seja o dia, em que a hei conhecido. — Digo numa tonalidade audível, porém dura, deixando, seguidamente, aquele nicho.
Depois de debandar-me do escritório da mulher que algum dia, fora considera parente minha e, correspondentemente, sem anélito pelas palavras ditas e acções vividas, aquilo que se poderia chamar de Thanksgiving day, tornara-se um Thanksbroking day*, contudo, a acção de graça de minha parte, ainda não estava completada, porque faltava o principal ingrediente, para que se pudesse desfrutar na totalidade, da aprazível refeição.
Assim sendo, depois de andar o comum e já bastante conhecido trilho para a saída daquele local, encontrava-me agora, nos bancos do meu admirável Volvo, para que sem mais alongamentos, arrancasse com o trajecto explorado por todos. Era nada mais e nada menos que o supermercado, o destinatário da minha rota, porque como havia dito, há escassez do componente fundamental, para a acção se poder completar, dado que aquele depravado homem, que ainda exercia o papel de meu companheiro, merecia todos os brindes inimagináveis.
Continua...
* Thanksbroking day: A comemoração deste dia não existe, foi apenas uma metáfora criada pela autora, para fazer o trocadilho ao Thanksgiving day, este, que realmente existe.

VOCÊ ESTÁ LENDO
EYES & EYES
Storie d'amoreArrogante para muitos e incompreendida para os mais próximos. Fria, ríspida e asentimental, assim é Lúcia Morgan, a mulher que esconde em seu olhar, a sombra de um passado turbulento, no que diz respeito ao amor, portanto, abstém-se do mesmo. Alegr...