Parte IV

20 4 31
                                    

Rara 

— Mas que diabos se passa contigo, Milena? — Inquiro aborrecida e, de guisa, descarinhosa, propagando a minha soada.

— Desculpa Rara, mas não me podes pedir mais do que isto. — Refuta Milena no mesmo sonido, fazendo referência, a sua "ausência", do meio em que eu, Robert e Romando nos dispúnhamos, na assídua condição de Lúcia.

— Tu tens noção de quem é a figura que ali — Garanto apontando a minha firme mão, ao sector em que se posicionara Lúcia, elaborando uma suspensão em minha linguagem, consequentemente — Se encontra?! — Interpelo espantada, exclamando, sincronicamente e num tinido incrédulo — Esta não é uma vulgar mulher — Atiro arrogante, mas dentro das limitações — A mulher a que julgas indecentemente agora, é a mesma que do teu lado sempre há estado, nos teus vínculos mais conturbados, sempre te há apoiado, e que jamais há relutado, mesmo que o seu rosto hás marcado e a sua explicação renegado — Evidencio irreverente — Já te perguntaste o porquê? — Cesso o meu enunciado permanecendo no mesmo rumor.

— O que queres dizer com isso, Rara? — Sonda Milena, descrente sobre os factos ainda não revelados de minha parte, porém, numa toada em que se podia identificar, o seu sarcasmo.

— Tu realmente conheces a figura a qual tanto defendes e, a qual julgas inocente, por considerá-lo teu companheiro? — Contraponho equitativamente mordaz.

— Onde queres chegar com isto, Rara? — Revida Milena a interrogação, firmando-se no correspondente timbre.

Que me perdoe Lúcia por isto, mas eu não posso mais aguentar, vê-la automutilar-se, por querer carregar todo o sofrimento em sua estatura, para que menos pessoas, saíssem lesadas. Eu não podia mais suportar, vê-la suicidar-se aos poucos desta maneira, pois preferia descumprir a minha palavra, acerca de guardar o seu segredo, para tê-la e mantê-la viva, do que levar para o túmulo, esta confidência caliginosa, e vê-la morta. Eu não queria vivenciar, outra vez, este déjà vu, portanto, após pronunciar um "Fuck!" internamente, e entre suspiros por meu tíbio anélito, uma vez que Milena há reparado, porque, em nenhum momento, desfizéramos o contacto visual que detivéramos, ainda mais quando mantivéramos as nossas atenções, uma na constituição da outra, já que sabia que, assim que pronunciasse a real verdade, haveria de trucidar, de parecida forma, Milena, e que não se teria volta a dar, mas, era o que acidamente, precisava ser feito. E, depois de alargadas milésimas de silêncio de minha parte, por estar extraviada entre meus exauridos pensamentos, decidira então, inaugurar, sem mais atrasos, a narração que, sem dúvida, mudaria o curso desta história.

— O homem a que tanto defendes, é o mesmo que há atirado para a sanidade de Lúcia, há alguns, sem nenhum remorso. — Irradio impiedosamente consistente e sem papas na língua.

— Eu não consigo compreender, o que me estás a tentar dizer, Rara. — Revida Milena, estremecida em sua linguagem, pelos acontecimentos entornados e a realidade que, a partir de agora, fará parte de sua recorrente vida e já com os olhos molhados.

— Então, clarifico: — Antecedo com cautela — Amaro Princenton, é o responsável pela insanidade de Lúcia, no que diz respeito ao amor, ou melhor, por Lúcia nunca se ter permitido viver e, nem sentir, essa emoção, outra vez. — Encerro seca e com os mirantes, novamente, a serem marejados por consecutivas lágrimas.

No prosseguimento a revelação de todas as peripécias, Milena perante mim, havia paralisado. Era como se tivesse levado, um choque bastante intenso, pois nenhuma partícula se movia, e na sucessão de vários instantes, dentro da mesma posição, Milena abandonara subitamente e ruidosamente, aquele corredio de secção em que nos pousávamos . Eu saberia deduzir, onde Milena há ido, porém, eu não a podia atrapalhar, porque agora, ela precisara de deparar-se com a sua penosa realidade, dado que neste período, era a luta entre sua mente e razão e, apenas ela, poderia definir, qual seria o desenlace. Após a sua largada, secara instantaneamente, os correntes carpidos, que ainda persistiam em declinar de meu rosto, para que, desse jeito, pudesse retornar ao meio, em que estavam as presenças de Robert e Romando, sendo que não desejava que mais lágrimas encontrassem em minha verônica, já bastavam os meus olhos rigorosamente, rubros.

Já no universo em que me instalava anteriormente, antes da minha ida ao encontro de Milena, constatara que Robert, se locava no interno da ala de exame, ao lado de Lúcia, posto que olhava-os através daquela enorme vitrina, o que era compreensível, porque seguramente, Robert não podendo resistir, há-se enfiado de qualquer maneira, no interior daquela repartição, mesmo que possivelmente, não fosse permitido e, com esta imagem de ambos, isto é, de Robert e Lúcia no intrínseco daquela divisão, e enroscada aos braços de Romando, que a todo momento, se encontrava no exterior da sala e, que ao meu lado estava, eu tentara prever por intermédio de meus intensos pensamentos, o que poderia desenrolar, depois de todos assuntos, outrora não confessados, já se reclinarem expostos por cima da mesa, a verdade é que, eu não sabia o que se poderia esperar, contudo, certamente e inquestionavelmente, alguns capítulos desta cronografia, irão alterar-se.

EYES & EYESOnde histórias criam vida. Descubra agora