Capítulo 11

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Havia um silêncio anormal por parte de mim e de Rara, portanto, decido interromper esse período com a narração dos meus acontecimentos dolorosos do passado.

— Tudo começou com o toque dele. Naquela época, Abigail, minha companheira nos estudos, mas também minha amiga, apresentou-me a ele, pois era próximo dela e, um grande amigo seu. Iniciámos pelos cumprimentos e, quando assim aconteceu, pude sentir suas mãos que eram admiravelmente macias em mim. O seu tacto era diferente, visto que seus membros exalavam um calor nunca antes experienciado por mim. E, foi aí que tudo realmente começou. Eu me havia apaixonado por um doce toque e não me tinha apercebido. Depois disso, conversávamos os três suavemente, e  reparara que além de ser o dono de um par de magníficas mãos ternas, era também possuidor de uma intelectualidade fora do comum. Ele representava educação, inteligência, cavalheirismo e, tudo que uma mulher poderia sonhar, porque ele se fixava exactamente naquilo, isto é, "No sonho de qualquer mulher". Nossas conversas eram muito aleatórias, sendo que a sua aprazível mentalidade, permitia-nos palestrar sobre tudo e, aquilo que estava para ser apenas um simples encontro, com um simples amigo, havia-se tornado a minha rotina. Contudo, ele já não existia como um mero amázio, pois acabara de transformar-se em meu companheiro — Faço uma breve pausa e prossigo com o discurso — Porém, eu estava perdida por ele e, por esse facto, já não conseguia olhá-lo, tal como uma menina estupidamente apaixonada faz, então, defini que tinha de me declarar.

No entanto, como os nossos encontros haviam-se tornado escassos, dado que já não era capaz de encará-lo, pedi, desse modo, à Abigail, para que lhe entregasse a carta que tinha perfumado e onde declarava meus sentimentos. Apesar de nossas reuniões terem-se modificado para menos frequentes, em todos elas, ou melhor, desde que nos havíamos conhecido, ele dava indícios de que também se afeiçoava a mim, isso porque inúmeras vezes, deixei escapar que gostava dele à Abigail e, ela contava-lhe, todavia ele como sempre, dava desculpas tais como: "Não podemos ficar juntos, porque sou seu mais velho, e poderia ser acusado de pedofilia", mas mesmo assim, pronunciava palavras à Abigail, bem como: "Eu gosto dela" ou "Eu amo ela", que consequentemente relatava-me tudo, e isso para uma menina entusiasmada, significava, ou significa o mundo. Ele havia lido a carta, porém sempre com as mesmas justificações e, eu ficava desesperada, uma vez que, de certo modo, estava a perder a atenção dele — Expresso exercendo mais um intervalo, mas dessa vez, tomando o chá de tília que Rara tinha preparado para mim — Visto que já não nos víamos com tanta constância, isso preocupava-me, posto que naquela altura, ele era "O meu pequeno mundo", então, sentia que precisava fazer alguma coisa e, assim, o fiz. Existia uma menina cujo seu nome era Aline. Uma menina que tinha sérios problemas com cortes em seus pulsos. Ele a ajudava e se inquietava muito com ela.

E, foi então, que em uma das nossas e 1ª discussão, por um impulso, havia mostrado um corte. Era um corte que qualquer criança faz na sua infância, um corte sem alguma história má, mas que me serviu de ajuda, pois no momento em que havia mostrado a ele, vi a sua aflição e, aquilo de certo modo, deixava-me confortável. Foi quando comecei a mutilar-me, pelo motivo de que queria a sua concentração e diligência, pois achava que daquele jeito, ele me amaria, contudo, tudo acabou quando recebi a notícia de que haveria de mudar-se para o exterior. "O meu pequeno mundo" tinha acabado de desmoronar e, aquilo que se iniciou com pequenos gritos de atenção, transformou-se na realidade mais sombria de minha vida, eu entrava ou começava, o capítulo da minha vida em que era marcado, ou conhecido como a ferida da alma, popularmente conhecida como "Depressão". Maltratava-me sem cessar, os meus braços e pulsos já não aguentavam, chegava a não escrever durante aulas inteiras porque os meus pulsos doíam, mas não era uma dor física, era simplesmente uma dor psicológica, que não tinha cura. Ele havia estuprado a minha saúde mental e, a violentado, sem a deixar com um vestígio de fôlego sequer. Onde sem me aperceber, existia uma menina que era da mesma turma em que eu pertencia, não era minha amiga naquele instante, entretanto, foi a que me observava a tempo integral, e que sem me dar conta, sabia desde o início ao fim a história, e a que mais me ajudou num dos capítulos mais sombrios e escuros de minha vida, que deixou cicatrizes marcantes, já que suas sequelas, ainda são sentidas até hoje e, o seu nome, era Rara. Então, perguntas surgem: Por que ele fez essa palhaçada comigo? Se realmente não me amava, por que raios ele dava indícios e o porquê de suas acções demonstrarem o contrário? R: Simplesmente porque ele havia brincado comigo, é por isso que jamais me permitirei sentir essa ilusão que vocês chamam de "amor" novamente, pois para isso, só existe um significado: Dor. — Termino o meu discorrer com os olhos profundamente rubros e com lágrimas incessáveis.

Apesar do pranto, eu ainda precisava concluir o discurso que havia começado. Então, mesmo com o meu estado emocional visivelmente abatido e sem condições psíquicas para tal, prossigo dando início a uma  finalização do meu enunciado anterior.

— Anos mais tarde, Abigail contou-me o real motivo pelo comportamento de seu amigo perante a mim, uma vez que eles ainda mantinham contacto, mesmo depois dele ter-se ido embora, já que sempre foram amázios. Segundo ela, tinha feito tudo isso porque também estava apaixonado por uma menina naquela época e, ironicamente, a menina não gostava dele da mesma forma. Como sofria por isso, queria que eu passasse pelo mesmo — Formo um recesso em minha narração e avanço logo de seguida — Então, o que era eu? R: Uma menina estúpida, com estúpidos sentimentos por alguém. Abigail disse-me que ele queria redimir-se de tudo o que me fez, todavia eu não permiti e, a partir daquele momento, eu e Abigail rompemos o nosso laço. — Concluo a minha manifestação sem olhar para Rara.

— Sabes o real porquê de eu não permitir? — Pergunto sem encará-la.

— Não. — Diz Rara, retrucando a minha interrogação.

— Porque se ele tem problemas de consciência, ele que procure por um especialista, porque eu não tenho diplomas qualificados para ajudá-lo, pois se procura o perdão em mim,  jamais vai encontrar, sendo que eu não tenho nada para perdoar. — Revelo fria e áspera.

Olhei para Rara que demarcou-se a abraçar-me fortemente com lágrimas nos olhos, já que via o sofrimento que aquilo me causava e, dessa maneira, encerrando esse capítulo de minha vida, ou pelo menos era o que pensava...

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