A tensão que pairava dentro do recinto que recebia o nome de sala, por entre os muros da minha extensa "Mini Mansão", era intensa. Os olhares trocados, a todo tempo, entre mim, Milena, Rara e o homem a quem entregara a minha mente, razão e coração eram reconhecíveis, pelo motivo de que bastava apenas um olhar superficial para se entender as suas tamanhas repressões, afinal, não era comum os mortos voltarem a viver, dado que, com certeza, existiam dúvidas, perguntas que cabiam a mim retirá-las, eu já me resignava a ideia de seus interrogatórios e, de seus "não perdões", sendo que não era algo que pudesse ou devesse desviar.
Havia um mutismo destruidor, que colaborava com o clima da enorme inquietude orgânica em minha vasta sala, todavia, na hora em que planeava inaugurar o meu discorrer e, colocar um ponto final, a situação em que nos metíamos, para finalmente, poder aclarar o que tinha ocorrido durante estes últimos anos, e de equivalente maneira, preparar-me para as intermináveis questões por parte de Milena, Rara e de meu Robert, Ryan utilizara a sua perspicácia, que era uma das suas profundas qualidades, uma vez que conhecia isso, pelo tempo que tínhamos partilhado, fazendo com que desse jeito, fosse o mais rápido para empeçar o enunciado, obstruindo assim, qualquer acção de minha parte, posto que ele fora, o rompidor daquela assassina afasia.
— Sei que provavelmente não me devem conhecer, pois eu não sou um rosto que em um dia corrente, vocês devam ver, todavia, eu peço-vos para que não reprimam o que sentem, visto que apenas assim, a minha maninha se vai poder estabelecer e, se permitir, outra vez reviver. — Manifesta Ryan com leveza, operando um intervalo em sua narração — Eu sou o Ryan e, vocês, possivelmente devem ser Milena, Rara e o homem cujo qual minha maninha suspirava, enquanto esteve longe de casa, foi um prazer conhecer-vos, porém eu ainda tenho umas explorações marinhas por cumprir. — Termina Ryan desaforado, deixando um suave beijo na lateral esquerda de minha testa, sendo que perdurava atrás de mim, mas antes que pudesse ir, cicia alguns termos em meus ouvidos.
— Agradeces-me daqui a 1 ano. — Bafora Ryan ainda resoluto, numa nota audível apenas para mim.
— Tu ainda me pagas por isso. — Redarguo séria e com os olhos direccionados na igual banda esquerda e, sem poder expor mais locuções previamente, Ryan deixa seu último beijo em mim, mas desta vez em minha bochecha, virando e posicionando o seu corpo para a saída no minuto a seguir, abandonando de vez, a minha grandiosa sala.
Logo após isso, voltei a orientar o meu olhar para onde, irrefutavelmente, tinha de manter o eixo e, quando me preestabelecia, para ouvir os sons e tons de suas vozes em busca de respostas, sou surpreendida com o doce e caloroso abraço de Matilde, que em todo este entretempo, apenas me observava, entretanto, no instante em que decidiu me presentear, foi com a maior dádiva, que era algo que sentia e precisava, já se faz 2 anos.
— Oh minha menina! — Estrondeia atordoada — És tu realmente? — Interroga Matilde com plangência nos olhos, realizando uma efémera folga em seu pronunciamento, contudo, prosseguindo seguidamente — Jamais faças isso outra vez, pois não sabes o que significou ter de me prestar a te enterrar, todas as vezes que entrava por esta memorável porta. — Abona Matilde, até a este segundo com prantos, desentrelaçando os seus brandos braços de meu corpo, no entanto, ainda assombrada, mas já sem qualquer dúvida de que eu era, a sua eterna Lúcia.
— Desculpe por ser a responsável pelas tuas incessáveis lágrimas e pelo teu incansável sofrimento, apesar disso, eu garanto que jamais voltarei a fazê-lo. — Digo suavemente, mas com os olhos marejados, limpando, delicadamente, na centésima a seguir, os pingos traiçoeiros que escorriam sobre o rosto de Matilde.
— És verdadeiramente tu, Lúcia? — Pergunta Rara descrida, descendo vagarosamente, alguns degraus da desmesurável escaleira, juntamente com Milena.
Naquele momento, nada pude responder, sendo que não haviam palavras para refutar tal interrogação, então, a única acção que pude dar como resposta, foram as abundantes gotas de água que ruíam do meu fronte e, quando pensava que mais inquisições formar-se-iam, sou estarrecida pelos abraços repentinos, daquelas que sempre haveria de levar e considerar, como sendo muito mais do que simples melhores amigas, visto que assim como Ryan e Matilde, eu possuía uma união duradoura com elas, uma vez que todos eles, sem esquecer Romando, eram a família que eu nunca tive a oportunidade de ter, mas que agora já tendo, eu não ia perdê-los por não me permitir viver.
— Nunca mais faças uma coisa destas, pois eu te proíbo, Lúcia Morgan. — Admoesta Rara em lágrimas, ainda mantendo o seu corpo próximo ao meu.
— E podes marcar esta proibição na tua rotineira agenda, porque se eu descubro que aprontaras algo do género, eu mesma te vou desenterrar do local em que te vais encontrar. — Explicita Milena engraçada, igualmente com lágrimas nos olhos e, desvencilhando-se ligadamente com Rara, daquele tórrido abraço.
Após isso, Matilde voltou a sorrir, dado que olhara para ela posteriormente, que era algo que sempre fazia, posto que era uma qualidade que aquela afável mulher tinha, e desse modo regressou à cozinha, para fazer as suas inebriantes refeições, já que o inquestionável trescalo já se sentia, uma vez que era dia de alegria, como todos os dias, porém, hoje com um toque especial e, eu poderia imaginar o porquê. Ainda assim, faltava alguém, isto é, aquele que com uma simples e leve respiração, fazia o meu corpo se contorcer, os meus olhos arrepiar e o meu ser o pertencer, faltava ele, o homem pela qual eu me havia entregado e me rendido a intensidade de seu olhar, e que cujo qual, a minha configuração já não podia negar. Decido percorrer o caminho, anteriormente, feito com olhos por mim, a fim de encontrar as abismais íris melânicas, e quando assim acontece, já elas olhavam fixamente para mim, pois sem me aperceber, Rara e Milena já não se situavam na larga sala connosco, ou melhor, comigo e com o meu Robert, dado que enquanto me perdia no generoso sorriso de Matilde, já tudo ao meu redor se passava sem eu notar, de modo que quando retornei a vislumbrar o eixo em que me havia desviado, somente eu e Robert fazíamos parte daquela dilatada sala.
Continua...

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EYES & EYES
RomanceArrogante para muitos e incompreendida para os mais próximos. Fria, ríspida e asentimental, assim é Lúcia Morgan, a mulher que esconde em seu olhar, a sombra de um passado turbulento, no que diz respeito ao amor, portanto, abstém-se do mesmo. Alegr...