Parte II

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Milena

Ao primeiro contacto, sentíramos a conexão, uma vez que era reconhecível ao olhar de todos, ou melhor, ao meu, ao de Rara e Romando, a ligação, pois era como se já nos conhecêssemos há anos, não se tinha o que explicar, porque era simplesmente a sensação, sendo que era uma união. À medida que o tempo foi passando, partilháramos todas as coisas, desde segredos, acessórios, peças de roupa, melhor dizendo, tudo. Talvez o único material que não compartilhássemos fosse os nossos próprios corpos, dado que ainda não existira uma maneira para que isso acontecesse, porém, quando e se a descobríssemos, com certeza, haveríamos de usá-la e, com isso, de igual modo, sabendo aspectos da vida pessoal de Lúcia que poucos detinham, posto que era restringindo apenas a nós e, de nós, não sairia, dado que confiávamos plenamente uns nos outros.

Lúcia, era filha única, de similar forma, de meritórios pilotos que tinham falecido em um desses melancólicos acidentes de aviação. Por ser descendente singular, herdara na totalidade, o que seus progenitores lhe haviam deixado, desde propriedades particulares, instituições e tudo que se poderia imaginar, porém, quando os seus pais morreram, era ainda muito pequena para que pudesse obter tamanha fortuna e com estrondosas responsabilidades poder arcar, no entanto, existia Matilde, sua doce e eterna governanta, que muito mais do que a ter criado e ser uma mãe para Lúcia, Matilde, era o braço direito de seus pais. Significava abundantemente mais do que uma simples preceptora, tanto que até em diversos casos, agira na própria contabilidade da casa, sendo que ela era digna de integral credibilidade, e não é algo que possamos refutar, posto que Matilde era exactamente assim e, não digo isso apenas por dizer, mas porque comprovara isso no período em que tinha passado no assento de Lúcia, no momento em que se dava a sua morte. Sendo assim, a procedência de Lúcia, sempre confiava a sua filha permanentemente as mãos de Matilde, todas as vezes que fossem a qualquer viagem, contudo, mal sabiam eles que uma dessas, pudesse ser a sua última.

Por ter sido a mulher de crença da família, Matilde detivera todas as passes das contas e da fortuna de Lúcia, apenas tinha de esperar que ela atingisse a idade considerada maior, para que dessa guisa, a recebesse, entretanto, ela possuía uma colaboração em um dos hotéis onde senhor John laborava, por isso, tinha de prestar trabalho dentro daquele recinto, que ficava a nível de Liverpool, mas como Lúcia ainda era nanica, então, Matilde teve que se mudar provisoriamente para Liverpool com Lúcia, até que acabasse a sua cooperação, portanto, Lúcia passara maioritariamente a sua adolescência na escala daquele hotel e, dessa maneira, desenvolver uma relação com o senhor John, que também começara a agir, de semelhante feição, como Matilde, todavia, neste caso, era como um pai.

Sendo assim, Lúcia estudara em Liverpool, onde posteriormente conhecera Rara na escola, pois a seguir, ficara a saber que a senhorita Rara não estudara na extensão de Manchester, como eu e Romando pensáramos, uma vez que tinha convencido a sua nobre mãe que era a melhor escolha para ela e, com sua mãe se associando, porque era um desejo de sua filha, dado que não haviam motivos para negar, já que Rara sempre fora uma excelente figura. A sua mãe, sucessivamente a sua formação e, sabendo que sua filha uma mulher se fazia, decidira deixar a sua herdeira perseguir o seu caminho, porém, sempre mantendo contacto, caso ela precisasse, uma vez que sua genetriz partira para ir ao encontro de seu eterno marido, visto que sua falta sentira e, se podia compreender o porquê. Após isso, Rara e Lúcia, enquanto em Liverpool se localizavam, haviam apostado na formação de grau corporativo, o que correspondia com a formação que eu e Romando fizéramos na Suíça, causando a nossa surpresa, isto é, a minha e a de Romando, isso porque não era comum, melhores amigos se direccionarem simultaneamente, ao mesmo ramo de conhecimento e, de tampouco, gostarem do mesmo campo de acção.

Após a conclusão de seus estudos, ambas voltaram à Manchester, Lúcia com Matilde e, Rara, apenas acompanhada de sua própria figura, dado que em toda a história, Matilde apesar de outrora ter fechado às portas da actual residência de Lúcia, aquela que era a casa de seus eternos progenitores e, que continha o seu DNA, assim como seus proêmios, posto que nos primeiros anos de sua vida, ela corria e percorria os espaços daquele endereço, então, não era algo de que pudesse desistir ou abdicar, assim como de semelhante forma, abandonar, pois seus parentes ou familiares, viviam todos fora da extensão de Manchester, e sequer se importavam com ela, sendo que em toda sua corrente vida, apenas 2 ou 3 vezes tinham telefonado para "quererem" saber como se encontrava, visto que sabíamos nós, que aquilo era o que chamávamos  de cumprir "formalidades", talvez pelo remorso por saberem da desalegre perda de sua congênere e não se terem interessado, nem com quem tinha ficado e, muito menos, quem a tinha configurado. Nesse aspecto, os pais de Lúcia haviam escolhido acertadamente, já tanto que Matilde era indiscutivelmente sua símil e presente mãe, do que qualquer outro que possuía a mesma tipologia de sangue de Lúcia. E, com a sua volta, isto é, de Rara também, Lúcia e Matilde em Manchester se estabeleceram e, já com Lúcia tendo, o que lhe foi presenteado por seus primogenitores e, consequentemente, com a nossa chegada, assim dizendo, a minha e de Romando, um quarteto se formara e, que com mais tempo que se tinha passado, a British Company surgira, pois não poderíamos desperdiçar a nossa formação no sector empresarial, sem que formássemos a excelência, que a British Company, hoje é.

Por isso, me dilacerava por completo a discordância que tivéramos, uma vez que Lúcia era uma real fraterna minha, assim como Milena e Romando, porque eles eram muito mais do que ligeiros melhores amigos, eu apenas não entendera a sua reacção perante ao homem que agora é o meu recente consorte, sendo que não existem bases sólidas, ou fundamentos verdadeiramente cordiais para grandioso comportamento, mas por mais que  pudesse amá-la, eu conhecia a sua personalidade, e eu não permitiria que sua arrogância destratasse a figura pela qual me apaixonara, pelo motivo que sabia que Rara e ela, me estavam a esconder algo acerca do meu moderno correligionário, visto que pude notar as suas expressões durante a nossa discussão, além de que Lúcia insinuara tais coisas, posto que confessara dentro do escritório palavras desta espécie, apesar disso, independentemente do que fosse, quando acreditassem, digo, Rara e Lúcia, que os direitos iguais entre nós ainda existissem, haveriam de me contar, dado que sem dúvida, Lúcia não experienciara tanto a minha ausência, visto que uns são mais privilegiados do que os outros e, além disso, Rara coubera no papel. E, enquanto elas escolhiam o dia para tais factos, com o homem que detinha o meu ser e, após os actos, que me haveriam de algum dia, ser revelados, eu ficaria, porque por ele me apaixonara e, por conseguinte, amá-lo-ia, apesar dos episódios omitidos.

Continua...

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